Creio que muitos dos nossos leitores podem concordar que há alguns anos as melhores histórias do Homem-Aranha estão aparecendo no Universo Ultimate. Um Peter Parker mais garotão e conectado com um mundo mais tecnológico e violento foi usado maquiavelicamente por Brian Michael Bendis deste o lançamento da versão nos anos 1990.
Oferecendo sua versão particular do cabeça-de-teia, Bendis manteve a qualidade das histórias, como também foi crescente a aceitação dos fãs e da crítica deste seu lançamento quando foi apresentada como a série que abriria para a linha Ultimate.
O autor conseguia reinventar o ícone criado em 1962 pelos inspirados Stan Lee e Steve Ditko, se preocupando com a fidelidade dos leitores do Aranha, mas não tendo receio de assumir riscos, fazer mudanças e dar chance a novos momentos na vida do personagem.
Ultimate Spider-man sobreviveu a vários relançamentos da linha até que em 2009 Bendis teceu uma série de acontecimentos que acabaram desembocando na morte trágica de Peter Parker, com um novo personagem assumindo o seu lugar como Homem-Aranha: Miles Morales.
Quando o autor introduziu o personagem Miles Morales, antes de aparecer nas narrativas, houve um turbilhão de emoções dos fãs, alguns adoraram a ideia, outros nem tanto. Bendis deixou bem claro que Morales não era o Homem-Aranha, mas um personagem que teria um futuro importante ao icônico personagem.
Miles é um garoto normal do Brooklyn, bem mais jovem que Parker, filho de um afroamericano e de uma hispana, que recebera os poderes aracnídeos da mesma forma que seu antecessor, após uma picada de uma aranha. A primeira reação de Miles foi não aceitar aquilo, prevalecendo sua necessidade de levar uma vida comum, porém a morte do Homem-Aranha original e a revelação de sua identidade secreta lhe fará assumir toda a responsabilidade do nome. A ideia da etnia diferente veio do autor após uma entrevista que pensaram em um ator negro para o casting de Peter Parker no filme The Amazing Spider-Man, como também o fato de ser o pai de duas meninas afrodescendentes. Em suas reflexões considerava que os quadrinhos devem refletir mais fielmente a diversidade racial dos dias atuais, pois tanto sus filhas, como muitos outros leitores, merecem também ter referencias e heróis da ficção que pudessem se identificar.
A decisão foi bem arriscada, por ser Peter Parker, mesmo sendo sua versão Ultimate, o personagem era o queridinho de muitos fãs e que ele era o único e original Spider-Man. A série seguia funcionando com Parker vivo e uma mudança desta magnitude seria contraproducente. Críticas apareceram: manobra de marketing, ofensas, insultos racistas e reações desproporcionais, entretanto Bendis continuou e forjou uma nova mitologia para o Homem-Aranha do século XXI.
Recentemente recebi os dois primeiros números de um novo título publicado pela Panini, que traz uma nova fase do Homem-Aranha Ultimate. O título é Ultimate Marvel, onde encontraremos as aventuras do novo Homem-Aranha, da Fundação Futuro e Os Supremos.
Bendis apresenta uma realidade familiar com diferenças bem substanciais, numa teia de personagens de matizes distintas e opostas, mas com a mesma praticidade adolescente que o original e a tensão dos tempos recentes.
A narrativa na primeira edição é de recomeço, uma história de amizades, celebrações a vida e mistério, lembrando como sucedeu os dois anos após a morte de Parker pra vários amigos e familiares, contanto os melhores momentos que cada um teve com o outrora Homem-Aranha, que no fim traz a bombástica revelação: que Peter não morrera. A aparição acontece quando Miles chega em casa e encontra-o esperando, dizendo que é hora de o Homem-Aranha original voltar à ativa.
Já a segunda edição traz mais perguntas e mistérios, de uma forma bastante rápida e levanta mais dúvidas para o personagem, como para nós, leitores. O autor faz um bom trabalho, os diálogos são certeiros, com toda aquela maneira de falar e se expressar dos adolescentes e retratam bem o sentimento que cada personagem possui, a narrativa evolui a cada página, da estória rasa, ao climax da fuga do assassino de Parker, romance, suspense, drama, na medida certa, com a preocupação de deixar os leitores com as mesmas sensações que Miles sente.
A estrutura da narrativa segue as cenas que David Marquez constrói, mas a ausência de ação mais espetacular podem afastar os leitores mais ávidos.
Marquez é o cara, seu cuidado em misturar expressões e coreografias com ângulo de câmera são excepcionais, como também os painéis duplos de Mark Bagley. A dupla criativa está construindo um Homem-Aranha para uma nova geração e como sou um pouco ciumento, fico perguntando até quando o Universo Ultimate afetará o original?
Por ora, Bendis e Marquez olham para o passado de Lee e Ditko e desenvolvem uma HQ de alta qualidade como um marco em suas vidas. Miles tem me conquistado, antes via com ressalva, desde aquele spiderverse, agora estou compelido a seguir as aventuras deste garoto e que venha os próximos números.
Bem, além das histórias do Homem-Aranha Ultimate, o novo título, como já foi dito, traz ainda as equipes da Fundação Futuro (Ultimate FF) e os Novíssimos Supremos (All-New Ultimates).
A equipe formada pelo Homem de Ferro, Sue Storn, Falcão, Homem-Máquina e Phil Coulson investigam uma anomalia que causou fendas na essência do espaço-tempo e correm contra o tempo para desvendar um segredo que preserve o universo. Bem, a equipe mantem o interesse dramático, mas o visual é bastante cru. A história de Joshua Hale Fialkov funciona, mas a arte de Mario Guevara, Tom Grummet e Juan Vlasco não tanto. No geral, a história do grupo entretem, mas precisa de uma melhor narrativa visual para obter sucesso.
Já os Novíssimos Supremos, ou seja, Homem-Aranha (Miles Morales), Mulher-Aranha (Jessica Drew), Manto & Adaga e Granada entram em confronto com a nova Gangue das Serpentes, após os eventos do crossover Cataclysm.
Do debate adolescente sobre o nome de sua equipe ao dinamismo da luta contra a gangue e os policiais, a narrativa serve para re-introduzir os personagens, mas a dupla responsável Michel Fiffe e o brasileiro Amilcar Pinna, parece ainda engatinhar ao desafio que ficaram a frente, como há muito para trabalhar e há vislumbres de uma grande série teremos com certeza boas pedidas nesta série .
Por enquanto, é isso, Ultimate Marvel promete. Uma novidade que iremos acompanhar.
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