Quadrinhos

Violência e sexo nas HQs de Ranxerox

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Ranxerox[bb] é um robô ranzinza e extremamente violento, um anti-herói futurista, obsessivamente apaixonado por uma garota de 13 anos chamada Lubna. Criado pelo italiano Stefano Tamburini, o personagem ficou mais conhecido quando passou a ser desenhado por outro italiano, Tanino Liberatore. As HQs de Ranx começaram a ser publicadas em 1978 e foram interrompidas com a morte de Tamburini em 1986.

Nos anos 1980, os quadrinhos de Ranxerox publicadas no Brasil na revista Animal pareciam originais e impactantes, tanto pela arte quanto pelos enredos, repletos de violência e sexo, uma mistura de Laranja Mecânica com punk rock. Hoje as histórias de Ranxerox não empolgam tanto. Talvez parecessem inovadoras nos anos 1980 porque o leitor brasileiro ainda não estava familiarizado com as obras muito mais instigantes que estavam sendo criadas, na mesma época, pelos artistas que contribuíam para a revista alternativa RAW (Art Spiegelman, Kaz, Charles Burns, Richard McGuire e Chris Ware, entre outros).

Os desenhos de Liberatore são inigualáveis, incomuns em uma HQ. Usando canetas Pantone (um tipo de hidrocor para uso profissional) consegue uma grande variedade de cores e tonalidades. Seu estilo é realista e cuidadoso na representação dos detalhes anatômicos de seus personagens.

Já os roteiros de Tamburini são datados e vazios. As duas primeiras HQs de Ranxerox, ainda em preto e branco, podem render algumas risadas pelo humor politicamente incorreto – Ranx não faz o menor esforço para controlar seus impulsos violentos, chegando a socar uma criança de colo. Mas a piada, repetida com poucas variações ao longo de dezenas de páginas, acaba perdendo a graça. O excesso de violência poderia despertar interesse se não fosse usado de modo tão gratuito. Os personagens violentos de Laranja Mecânica são assustadores porque são humanos e parecem reais, até familiares, mas Ranx é apenas um robô raivoso. Até sua obsessão sexual e amorosa pela adolescente Lubna, um sentimento que poderia sensibilizar o leitor, parece bobagem quando descobrimos que é provocada por um defeito nos mecanismos do robô. Nas últimas HQs do livro há uma tentativa de fazer um pouco de crítica social e política, mas não passa de um esboço. Uma gangue de crianças armadas e furiosas aparece algumas vezes, mas são mostradas de modo tão superficial e ligeiro que acabam se tornando apenas mais uma idéia bizarra, que já foi melhor abordada em inúmeras obras (como no livro Corrida Selvagem de J. G. Ballard). De modo geral, os personagens humanos que contracenam com Ranx são tão caricatos e planos que fica evidente que eles só aparecem nas histórias para serem destroçados pelo robô ou figurarem nas cenas de sexo bem ilustradas por Liberatore.

A editora Conrad está lançando no Brasil uma luxuosa coletânea das HQs de Ranxerox, com capa dura, impressão de alta qualidade e em tamanho maior que as publicações da revista Animal. Os fãs do personagem não ficarão decepcionados. O livro reúne em um único volume todas as HQs de Ranxerox publicadas. A ótima introdução de Rogério de Campos fala sobre os autores e mostra o contexto histórico em que o personagem foi criado. Seria melhor ainda se trouxesse mais detalhes sobre as técnicas de ilustração de Liberatore, afinal ele é a grande estrela dessa publicação.

[xrr rating=2.5/5]

Autores: Stefano Tamburini, Tanino Liberatore e outros

Editora: Conrad

Ano de edição: 2010

192 páginas

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16 Comentários

  • se voce dar o disco funhouse dos stooges para um moleque nos dias de hoje ele vai te dizer que o slipknot é bem melhor ,assim como um filme do san peckimpah vai perder para um do robert rodriguez,se analizarmos o ranxerox a luz da modernidade veremos que ele é muito atual ,veja bem a escola italiana nada tem a ver com a americana dito isto, voce comparar a ranxerox com a raw uma revista basicamente de envergadura intelectual nova yorkina ,entrega falta de escopo seletivo ,a intenção da fridaire e seus colaboradores sempre foi o confronto punk contra as tradições burguesas e familiares da italia ,tamburini,pazienza ,mattioli e gangue eram sim pessoas de grande capacidade intelectual ,figuras antenadas com o que rolava na politica na arte e literatura e que viviam numa sociedade bem mais tolerante a nivel de expressão de que outros autores dai a virulencia de suas hqs ,com ranxerox tamburini traça sua visão de mundo heroinomana ,uma pessoa a beira do colapso total ,que não enxerga nada que deva ser conservado ,se repararmos bem no primeiro album veremos que sua primeira vitima é arte ,particularmente a de consumo de massa e notadamente a americana que devido a tecnologia que florescia começava a entrar com mais facilidade onde tinha dificuldade ou seja a europa ,o discurso de mister volare acerca do musical de fred astaire é profetico é só reparar ,voce não gostar da obra é compreensivel ,agora afirmar que é datado e vazio me faz duvidar de sua capacidade de colunista.

  • Os discos dos stooges continuam soando originais e instigantes. Um bom filme não deixa de ser bom apenas porque os anos se passaram. Não disse que Ranxerox era bom e deixou de ser. Afirmei que PARECIA bom comparado com as HQs a que nós, leitores brasileiros, tínhamos acesso naquela época, mas hoje, ao contrário dos discos dos stooges e de vários filmes antigos, já não parece tão bom, porque agora podemos compará-lo com uma variedade maior de HQs. Assim como um bom crítico demonstraria que peckimpah continua sendo melhor que robert rodrigues, ou mesmo que os antigos discos dos stooges são melhores que os trabalhos recentes do Iggy Pop, para que se compreenda e critique quadrinhos pode-se e deve-se comparar obras de diferentes épocas e estilos. È impossível criticar certas obras de Chris Ware sem citar as páginas dominicais de Gasoline Alley dos anos 30; falar de algumas HQs recentes de Charles Burns sem ressaltar a influência das HQs dos anos 50 da editora EC, ou mesmo comentar os quadrinhos de Andrei Tomine sem dizer que são tentam em vão assemelharem-se à literatura de R. Carver.

  • Os discos dos stooges continuam soando originais e instigantes. Um bom filme não deixa de ser bom apenas porque os anos se passaram. Não disse que Ranxerox era bom e deixou de ser. Afirmei que PARECIA bom comparado com as HQs a que nós, leitores brasileiros, tínhamos acesso naquela época, mas hoje, ao contrário dos discos dos stooges e de vários filmes antigos, já não parece tão bom, porque agora podemos compará-lo com uma variedade maior de HQs. Assim como um bom crítico demonstraria que peckimpah continua sendo melhor que robert rodrigues, ou mesmo que os antigos discos dos stooges são melhores que os trabalhos recentes do Iggy Pop, para que se compreenda e critique quadrinhos pode-se e deve-se comparar obras de diferentes épocas e estilos. È impossível criticar certas obras de Chris Ware sem citar as páginas dominicais de Gasoline Alley dos anos 30; falar de algumas HQs recentes de Charles Burns sem ressaltar a influência das HQs dos anos 50 da editora EC, ou mesmo comentar os quadrinhos de Andrei Tomine sem dizer que tentam em vão assemelharem-se à literatura de R. Carver.

  • Também não disse que os autores italianos não eram inteligentes, apenas afirmei que os roteiros de Ranxerox eram ruins, sempre foram mas é mais fácil perceber agora. Concordo que os roteiros de Tamburini tinham uma influência punk, mas punk é um termo vago. Havia bandas punk mais politizadas, como o Clash, outras nem um pouco. A fúria de Ranxerox parece sem foco: num momento soca uma criança de colo, em outro se revolta por ter de dançar como Fred Astaire. Qto ao roteiro, reafirmo que é datado: nos anos 80 muitos quadrinhos alternativos abusavam da violência, porque parecia marginal e contrastava com os quadrinhos mais comerciais. E é vazio: uma piada de poucas páginas sobre Fred Astaire não faz do livro uma obra de crítica cultural, do mesmo modo que arrebentar pessoas não é necessariamente crítica social.
    Fico feliz que vc tenha expressado sua opinião, mas se reler esta ou qualquer outra resenha de minha autoria verá que sempre procuro ser objetivo, e nunca disse que gosto ou deixo de gostar das obras que comento. Aliás, acho muito natural que um leitor goste de algo que seja avacalhado pelos críticos.

  • Também não disse que os autores italianos não eram inteligentes, apenas afirmei que os roteiros de Ranxerox eram ruins, sempre foram mas é mais fácil perceber agora. Concordo que os roteiros de Tamburini tinham uma influência punk, mas punk é um termo vago. Havia bandas punk mais politizadas, como o Clash, outras nem um pouco. A fúria de Ranxerox parece sem foco: num momento soca uma criança de colo, em outro se revolta por ter de dançar como Fred Astaire. Qto ao roteiro, reafirmo que é datado: nos anos 80 muitos quadrinhos alternativos abusavam da violência, porque parecia marginal e contrastava com os quadrinhos mais comerciais. E é vazio: uma piada de poucas páginas sobre Fred Astaire não faz do livro uma obra de crítica cultural, do mesmo modo que arrebentar pessoas não é necessariamente crítica social.
    Fico feliz que vc tenha expressado sua opinião, mas se reler esta ou qualquer outra resenha de minha autoria verá que sempre procuro ser objetivo, e nunca disse que gosto ou deixo de gostar das obras que comento. Aliás, acho muito natural que o leitor goste de algo que seja avacalhado pelo crítico.

  • Também não disse que os autores italianos não eram inteligentes, apenas afirmei que os roteiros de Ranxerox eram ruins, sempre foram mas é mais fácil perceber agora. Concordo que os roteiros de Tamburini tinham uma influência punk, mas punk é um termo vago. Havia bandas punk mais politizadas, como o Clash, outras nem um pouco. A fúria de Ranxerox parece sem foco: num momento soca uma criança de colo, em outro se revolta por ter de dançar como Fred Astaire. Qto ao roteiro, reafirmo que é datado: nos anos 80 muitos quadrinhos alternativos abusavam da violência, porque parecia marginal e contrastava com os quadrinhos mais comerciais. E é vazio: uma piada de poucas páginas sobre Fred Astaire não faz do livro uma obra de crítica cultural, do mesmo modo que arrebentar pessoas não é necessariamente crítica social.
    Fico feliz que vc tenha expressado sua opinião, mas se reler esta ou qualquer outra resenha de minha autoria verá que sempre procuro ser objetivo, e nunca disse que gosto ou deixo de gostar das obras que comento. Já os leitores tem todo o direito de gostar de algo simplesmente por gostar, mesmo que seja uma obra avacalhada pelo crítico.

  • quando analisamos uma obra de outrora ,devemos apontar os seguintes detalhes ,primeiro a sua qualidade ,segundo o seu ineditismo e por ultimo sua influencia posterior ,é fato que por mais radical que seja a obra o tempo se encarrega de dilui-la ,quando comentamos sobre essas obras devemos ser imparciais e expor todos esses aspectos para a geração atual se balizar e fazer seu proprio julgamento ,me desculpe se fui muito direto com voce ,mas é muito claro a sua parcialidade em relação a obra resenhada .

  • Acredito que não fui parcial. Elogiei a arte, a qualidade da publicação e o texto de introdução. Por outro lado não tive a pretenção de fazer uma crítica definitiva sobre a obra. Outros críticos e leitores tem todo o direito de discordar das minhas opiniões.

  • Podemos analisar uma obre de diversas formas. No caso do Ranxerox analisei sua qualidade, afirmando que a arte era inigualável e incomum, enquanto os reteiros eram fracos. Sobre um possível "ineditismo", falei que a obra parecia original na época em que foi lançado, mas coisas muito mais originais estavam sendo feitas pelo pessoal da revista RAW. Robôs assassinos já existiam nas HQs dos anos 50 da EC Comics, talvez tenham surgido antes nas revistas pulp de ficção científica, e foram inspirados em mitos muito antigos, como o Golen. A influência posterior de Ranxerox é pequena se comparada com a de artistas como Robert Crumb, Art Spiegelman, Harvey Kurtzman e muitos outros. Qualquer um que leia com atenção minha resenha verá que abordei a obra de modo imparcial, mas crítico. O leitor pode ser parcial e tentar defender seus personagens preferidos, mas o resenhista precisa ser crítico, como fui.

  • Podemos analisar uma obre de diversas formas. No caso do Ranxerox analisei sua qualidade, afirmando que a arte era inigualável e incomum, enquanto os roteiros eram fracos. Sobre um possível "ineditismo", falei que a obra parecia original na época em que foi lançado, mas coisas muito mais originais estavam sendo feitas pelo pessoal da revista RAW. Robôs assassinos já existiam nas HQs dos anos 50 da EC Comics, talvez tenham surgido antes nas revistas pulp de ficção científica, e foram inspirados em mitos muito antigos, como o Golen. A influência posterior de Ranxerox é pequena se comparada com a de artistas como Robert Crumb, Art Spiegelman, Harvey Kurtzman e muitos outros. Qualquer um que leia com atenção minha resenha verá que abordei a obra de modo imparcial, mas crítico. O leitor pode ser parcial e tentar defender seus personagens preferidos, mas o resenhista precisa ser crítico, como fui.

  • Podemos analisar uma obra de diversas formas. No caso do Ranxerox analisei sua qualidade, afirmando que a arte era inigualável e incomum, enquanto os roteiros eram fracos. Sobre um possível "ineditismo", falei que a obra parecia original na época em que foi lançado, mas coisas muito mais originais estavam sendo feitas pelo pessoal da revista RAW. Robôs assassinos já existiam nas HQs dos anos 50 da EC Comics, talvez tenham surgido antes nas revistas pulp de ficção científica, e foram inspirados em mitos muito antigos, como o Golen. A influência posterior de Ranxerox é pequena se comparada com a de artistas como Robert Crumb, Art Spiegelman, Harvey Kurtzman e muitos outros. Qualquer um que leia com atenção minha resenha verá que abordei a obra de modo imparcial, mas crítico. O leitor pode ser parcial e tentar defender seus personagens preferidos, mas o resenhista precisa ser crítico, como fui.

  • gostei do nosso papo,vou continuar pegando no pé do ambrosia ,pois dentre todos esses sites ditos de cultura pop ,este parece que tem mais capacidade para evoluir para um veiculo mais isento e jornalistico ,digo isso por que voces foram o unico que fez uma resenha do ranxerox , parcial é claro mas fez,e gustavo vou lhe fazer um pedido como voce é arquiteto ,imagino que deva gostar das bds do françois schuiten,seria legal uma materia para mostrar para os leitores que não conhecem as ilustrações cheia de delirios arquitetonicos e futuristas desse grande ilustrador.
    abraços e até a proxima

  • É verdade que Ranxerox está datado e superado pelo tempo, que suas piadas perdem a graça depois de poucas páginas e que exagera na violência de maneira até infantil. Se essas características desabonam o trabalho hoje, parece que o crítico (como gosta de ressaltar) deveria atentar para o seguinte ponto: é justamente pela qualidade da obra em si e da capacidade de antever as mudanças sociais que a obra perdeu seu impacto hoje. Infelizmente essa sociedade pós-moderna, onde tudo é liquefeito (mutável) incorporou a crítica e a amortizou. Assim, com olhos de hoje, o quadrinho perdeu seu impacto. Aloisio tem razão: é preciso contextualizar a obra e, se possível, fazer uma crítica real, mostrando onde aquilo foi dar. Um detalhe é fundamental para percebermos o ponto de vista do resenhista: elogios à uma publicação da mesma época, mas que agradava uma elite intelectual e financeira. Ranxerox era a voz de dois jovens assalariados ou da classe baixa e isso nunca é tão agradável de se ouvir. Na busca pela atualidade da obra, faltou o resenhista destacar que o que movia os autores era a revolta, e isso sempre é atual, não importa em que época estamos…

  • Qualquer obra deve sustentar-se independente do contexto em que foi criada. O fato de os autores serem jovens assalariados ou de classe baixa não significa que sua criação deva ser automaticamente valorizada. Ranxerox ganhou fama pelas ilustrações e pelos roteiros violentos. As ilustrações são relamente boas, mas os roteiros não.

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