RPG

O D&D saiu do armário!

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[Esse artigo foi escrito originalmente por Maurício Linhares e publicado no excelente Pensotopia]

Warlord Reclamão
Warlord Reclamão

A quarta edição, assim como toda e qualquer nova edição de um sistema de RPG, continua causando polêmica. Dia desses na lista da Área RPG, o Daniel do rolando20 mandou uma mensagem perguntando a galera se os combates deles na 4E estão demorando muito ou não. A discussão, obviamente, descambou pra o famoso “meu pinto é maior que o seu” e “antigamente era muito melhor”, mas uma coisa ficou clara, D&D mudou muito, para o bem ou para o mal. Como já disse o Trevisan, o “D&D saiu do armário”.

A parte principal dessa fuga do closet é a importância visível que o combate assume dentro do jogo. Não que os combates não tivessem sempre sido uma coisa importante no D&D, mas eles nunca foram tão referenciados dentro dos livros básicos e das descrições de classes e raças. O combate assume formalmente dentro dos livros de regras uma importância tão grande quanto a criação de personagens, aventuras e interpretação.

Um exemplo claro disso é a organização das classes disponíveis pelos seus papéis exercidos no combate, “controller”, “defender”, “leader” e “striker”. O livro do jogador lembra que uma boa equipe de aventureiros deveria ter ao menos um personagem de cada um dos papéis. Se você já jogou D&D antes, provavelmente já deve ter percebido esses papéis, mesmo que não com esses nomes e também já deve ter sentido na pele o quanto é complicado chegar num grupo que não tem clérigos ou ladinos, a 4E além de deixar os papéis claros ainda incita os jogadores a montar um grupo balanceado, que não vai ficar no caminho da diversão deles.

O Mind Flayer
O Mind Flayer

Miniaturas à vista!

Outro fator que demonstra a importância do combate dentro do jogo é o uso semi-obrigatório de miniaturas ou marcadores para os envolvidos em um combate. Muitos dos poderes das classes, especialmente dos warlords e ladinos, dependem da posição exata deles e dos aliados e inimigos dentro do ambiente onde a luta acontece.

Ignorar o posicionamento e o movimento dos personagens dentro do combate pode ou invalidar completamente os poderes dessas classes (já que o ladino não vai mais poder “bater e correr”) ou deixar o uso dos poderes deles fácil demais (onde o warlord poderia usar os seus poderes de qualquer lugar, independente dele estar ao lado dos amigos ou a metros de distância da zona de perigo).

O combate, dentro da 4E, poderia ser definido como um wargame dentro do RPG, dado o tamanho da imporância que ele recebe e as mecânicas envolvidas, onde você controla os seu personagem no tabuleiro com o objetivo de vencer os NPCs do mestre. Mas o fato de os combates lembrarem wargames não significa que eles agora existem sem interpretação, muito pelo contrário.

Diversos poderes dos personagens envolvem interação social com os outros envolvidos no ambiente, um exemplo disso é o poder de encontro “Covering Attack” do guerreiro, onde ele desfere uma saraivada de golpes contra um inimigo atraindo sua atenção pra fazer com que um aliado possa se afastar desse inimigo sem sofrer um ataque de oportunidade. Se os jogadores não tem muito interesse por interpretação, o guerreiro apenas diz que usou o poder e o outro jogador avisa que o seu personagem se afastou do inimigo. Se eles valorizam interpretação, o guerreiro vai chegar gritando e lançando a onda de golpes contra o algoz, mandando o seu amigo se afastar que ele vai dar conta do inimigo.

Não é porque o combate parece um wargame que toda a interpretação deixa automaticamente de existir, grupos que interpretavam combates, vão continuar fazendo isso, talvez ainda mais agora que todas as classes tem poderes e ações possíveis mais variadas (já que guerreiros, até pouto tempo atrás, apenas “davam espadada”). Os grupos que não tem interesse por isso, vão continuar fazendo os seus combates apenas rolando dados.

Mas é lento ou não é?

No início, enquanto os jogadores estão se acostumando com os poderes dos personagens e montando as táticas do grupo, os rounds de combate vão ser lentos. Todos ainda estão aprendendo como tudo funciona e quais as melhores táticas de combate pra a organização atual de raças/classes que eles tem. Após o período de adaptação os rounds ficam extremamente rápidos. Mas os combates duram sim mais tempo.

Opa, peraê, como é que é rápido e é lento?

Os rounds de combate são muito rápidos, já que os jogadores sabem o que vão fazer e quais poderes escolher, mas os inimigos tem bem mais pontos de vida (e condições de se curar) do que os mesmos inimigos em edições anteriores. Um kobold de ND 1 dificilmente vai morrer com um único ataque de um guerreiro de primeiro nível (assim como o próprio guerreiro é bem mais duro na queda do que era antigamente).

Os combates duram mais tempo mas a sensação de velocidade dos rounds de cada personagem é a que fica na memória dos jogadores. A ação acontece rapidamente, com todos jogando os dados o tempo todo e sem muitas paradas ou jogadas de dados inúteis (como aquele último ataque com um bònus de +1).

Se o seu grupo gosta de estratégia em combate, o novo sistema de combate da 4E deve agradar em cheio junto com os poderes dos personagens. O combate ganhou uma dinâmica que não existia em edições anteriores, especialmente pelo equilíbrio entre as classes, onde todos participam ativamente dele (incluindo classes que não viviam realmente na zona de perigo, como magos). Você dificilmente vai ver personagens assistindo combates de fora, já que cada um tem seu papel a desempenhar.

Mas antigamente era melhor…

Por mais que os nossos queridos trolls tentem vender a idéia de que não há mais espaço pra construção de personagens e interpretação na 4E, ela é completamente furada. Quem interpretava, continua interpretando, quem nunca se preocupou em interpretar não deve começar a fazer isso agora.

A 4E é definitivamente um D&D com um feeling diferente da 3.0/3.5, o direcionamento do jogo é diferente. Fica claro que combates são muito importantes e que você vai gastar um bom tempo das aventuras com eles. Se você não está disposto a fazer isso ou o seu grupo não se agradou do estilão “wargame” dos combates da 4E, ela provavelmente não é o jogo ideal pra sua mesa. Você pode se manter na 3.0/3.5 ou migrar pros diversos sistemas relacionados como True20 ou Pathfinder.

O D&D saiu do armário e agora tomou um foco, se vai dar certo ou não, só o tempo e os jogadores vão dizer. Joguem os seus dados de vinte lados!

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Publicações e inserções informativas de autores externos com curadoria da equipe editorial.

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