
Existem outras quatro melhores palavras para definir True Blood? Eu acho que não. A série já demonstra todo seu potencial na abertura, uma das melhores, quiçá a melhor que eu já vi, em qualquer tipo de mídia. É logo naqueles 1min31seg que temos a certeza: Essa série é realmente sobre vampiros.
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A premissa é simples: Um laboratório descobriu como produzir sangue sintético, em consequência disso, vampiros que viveram ocultos durante milhares de anos se revelam à sociedade. Agora eles são “iguais” perante os humanos, são cidadãos. Lógico que não funciona bem assim, como facilmente podemos perceber ao longo dos episódios. Por pertencerem à uma raça milenar, os vampiros acabaram criando hábitos e leis próprias de conviência – com regras de conduta e representantes de áreas (algo como um prefeito, chamado na série de Cherife). Se você reparou na clara semelhança à ambientação e conceitos utilizados no RPG “Vampiro: A Máscara”, não se engane, True Blood é uma adaptação da série de livros The Southern Vampire Mysteries da escritora americana Charlaine Harris, o que não elimina a possibilidade dela ter tido suas boas horas de jogatina Vampire. Fonte de inspiração, talvez?
A série como um todo centra-se sobre a personagem de Anna Paquin – que interpretou a Vampira na trilogia dos X-Men, mas que aqui é apenas uma telepata comum. Irônico, não? 🙂 – chamada Sookie Stackhouse, uma simples e bela garçonete do bar local. Ah, o local? Uma cidadezinha no interior da Lousiana, chamada Bon Temps. Sookie logo nos primeiros episódios se apaixona por um vampiro centenário chamado Bill Compton, interpretado pelo excelente Stephen Moyer. A paixão é recíproca, e ambos começam uma relação amorosa que acaba sendo mau vista pelos demais moradores da cidade. Porque? Ora, porque os vampiros são seres asquerosos e sem coração, incapazes de amar e realizar bons feitos! É justamente esse o pensamento da maioria dos tradicionalistas puritanos; e, obviamente, temos de convir que em uma cidade de interior como Bon Temps, eles não são poucos!

Ah, mas True Blood cai então naquele dramalhão político-racial? Não completamente, daí a singularidade da série. Em contos assim, é comum vermos a atmosfera fantástica tornar-se mero instrumento para estudos comportamentais com ênfase em assuntos de caráter racista. Aqui isto ocorre, mas mesclado à ação, nudez, suspense e todos os elementos característicos de produtos dignos do selo HBO. Eis, talvez, porque o programa agrada à tantos. Seus múltiplos focos podem ser amplamente explorados por vários nichos de consumidores. Quando assisto à esta série, quase esqueço da atmosfera politicamente correta que rege o entretenimento hoje, parece que estamos de volta aos anos 80! 🙂
E fica impossível não traçarmos um paralelo com a obra definitiva de Alan Moore para os quadrinhos, Watchmen. Com os vampiros se revelando à sociedade, o mundo se modifica para conceber novas ideologias e drogas; novos comportamentos e leis. Surgem novas religiões que propagam a palavra de Deus para manipular os interesses anti-vampíricos de seus fundadores. O sangue dos vampiros torna-se a droga da moda, extremamente procurada e igualmente perigosa; junto à isso, vem os caçadores, que o fazem para extrair o sangue mutante e vende-lo como substância proibida. O mundo foi modificado, assim como ocorre na obra do escritor britânico.
1ª Temporada

Nos primeiros episódios temos a apresentação dos personagens e da ambientação para esta nova realidade modificada. Já começamos à perceber os estereótipos clássicos; como Jason Stackhouse (irmão mais velho de Sookie) fazendo o tipo garanhão quarterback ignorante, a própria Sookie ser a bela dama protagonista inocente, o vampiro Bill Compton fazendo o princípe anti-herói politicamente correto encantado, Sam Merlotte como o simpático e misterioso dono do bar local (o Merlotte’s), Tara Mae, a melhor amiga de Sookie, e seu primo Lafayette – o gay mais engraçado (e mais “macho”) das séries de TV, ever! Entre outros, como o policial bundão, e o ex-soldado que ficou retardado por ter participado de uma guerra. Aliás, quase todos os personagens são estereótipos, em um primeiro momento. Conforme a trama vai se desenvolvendo, vemos que Sookie não é tão inocente, Bill não é tão encantado, Jason não é tão burro, o policial não é tão bundão e Sam é muito mais misterioso que aparenta!

Junto à apresentação de personagens, realidade e ambiente, temos uma trama se desenvolvendo com sub-plots que exploram mais o universo proposto pela autora. É no 6º episódio, mais precisamente quando a avó de Sookie falece, que a trama decola. A telepata se entrega ao amor recôndito pelo contexto tradicionalista, e finalmente vai para cama com seu amado vampiro Bill, dispensando o extenso prenúncio de dois volumes de histórias para fazê-lo. O submundo dos caçadores de vampiros e traficantes de V (sangue vampírico que se ingerido por seres humanos pode apresentar diversos efeitos bizarros: como um Viagra extremamente tonificado ou um alucinógeno sem igual, por exemplo) nos é apresentado com uma trama que envolve o depravado Jason Stackhouse. Some à isso o plot principal: misteriosos assassinatos de mulheres que tiveram relações sexuais com vampiros.
Os seis episódios finais mostram o verdadeiro potencial da série. Tudo é maximizado. A trama fica mais séria, o universo mais interessante e o gancho que temos para a segunda temporada não poderia ser melhor: Jason entrando para a “Sociedade da Luz”, instituição fanático-religiosa que prega o fim do vampirismo. Logo ele, que era o maior tarado de Bon Temps!
2ª Temporada

A primeira cena é talvez a melhor de todas, nestes dois anos de True Blood. E porque não seria? Para muitos, um dos pontos fortes das produções HBO é justamente a nudez, caro leitor.
Para esta segunda temporada temos um novo mistério, e novas revelações à respeito dos personagens. O ambiente externo à Bon Temps começa a ser melhor explorado. Personagens que até então eram meramente secundários ganham uma dimensão maior; é o caso do vampiro Eric, interpretado por Alexander Skarsgård (que seria perfeito para viver o Thor nos cinemas, diga-se de passagem :). Há também a inserção de novos personagens, como Maryann – que vem à ser o foco da trama deste ano -, e o que se tornaria o namorado de Tera: Eggs. Na primeira metade da temporada, vemos Jason totalmente mergulhado na filosofia da Sociedade da Luz, mas quando ele começa à descobrir os verdadeiros interesses da instituição, temos um plot twist.
Percebemos que não existem só vampiros neste universo fantástico. Criaturas como metamorfos, lobisomens (apesar de não aparecerem) e mênades, fazem parte da realidade de True Blood. Vemos também que Sookie não é a única telepata, já que a garçonete encontra-se com um semelhante ao fazer uma viagem à Dallas. Presenciamos o “ritual de criação” dos vampiros e a interação de Bill com sua mais nova “filha”, Jessica Hamby, uma humana recém transformada em vampiro.
Conforme os episódios vão se aproximando do 12º, True Blood vai se tornando cada vez mais hardcore. Nesta temporada, em detrimento da anterior, temos muito mais nudez, sexo, mortes e drogas; explorados de uma forma completamente pertinente segundo o contexto. Nada disso é completamente gratuito, a exploração massiva destes temas tem uma explicação plausível, e não, não é simplesmente por ser uma produção HBO. Tudo está relacionado íntimamente com o enredo e possui significância.

O clímax da temporada fica para o 9º episódio, focado em um dos personagens secundários mais interessantes da série: Godric, o criador de Eric. Um vampiro extremamente poderoso, com aparência jovial e frágil, e completamente inerente à guerra “Homem Vs Vampiro”. Seu ser expressa um máximo desenvolvimento de consciência, da maneira que sua própria existência não possui mais sentido neste mundo. Algo como o ápice da evolução “humana”; é esta a idéia deste episódio em especial.
Para uma série que aparentava ser só mais uma, no meio deste mar de sangue no qual nadamos atualmente, True Blood impressiona. Talvez por não tentar fazer com que um Tubarão Branco pareça um simpático Peixinho Dourado. Afinal, vampiros sempre foram sujos, frios e desumanos. Porque isso deveria mudar? É com esse tempero e com sua ambientação impecável, que True Blood se revelou como sendo a melhor série sobre vampiros, ever!









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