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Crítica: "Boyhood: Da Infância à Juventude" fascina com experiência única no cinema

O tempo é algo que constante na filmografia de Richard Linklater. Alguns de seus filmes, volta e meia, trabalham sobre esse tema, sendo o mais conhecido do grande público a trilogia formada por “Antes do Amanhecer”, “Antes do Pôr-do-Sol” e “Antes da Meia-Noite”, onde vemos como o tempo pode alterar os sentimentos e a própria visão do que é o amor na vida das pessoas. Mas nada se compara ao que Linklater realizou com “Boyhood – Da Infância à Juventude”, onde o diretor realiza o seu mais ambicioso e mais bem acabado projeto de todos, que impressiona e faz pensar como nunca.

O filme, também escrito pelo diretor, mostra a vida de Mason (Ellar Coltrane), desde que ele era um menino de 6 anos. Ele vive com a mãe, Olivia (Patricia Arquette), e a irmã mais velha, Samantha (Lorelei Linklater, filha do diretor). No início da trama, os três se mudam para Houston, procurando uma vida melhor. A partir daí, Mason tem que lidar com as mudanças que acontecem com a sua família, que incluem casamentos fracassados da mãe, a reaproximação do pai, Mason Sr. (Ethan Hawke), mudanças de endereço, novas escolas, novos amigos, assim como etapas que fazem parte de seu ritual para a adolescência, como o primeiro amor, as frustrações e decepções com as pessoas ao seu redor, entre outras experiências que moldam o caráter de Mason e o preparam para encarar uma vida adulta, 12 anos depois.

O que torna “Boyhood – Da Infância à Juventude” realmente fascinante é a maneira que Linklater encontrou para contar a história de Mason e sua família. Ele decidiu usar o mesmo elenco por 12 anos, filmando as cenas durante poucos dias de cada ano, para mostrar os efeitos do tempo nos personagens, especialmente em seu protagonista, que passa de um garoto ingênuo a um jovem contemplativo, que busca seu lugar no mundo enquanto tem que lidar com problemas que surgem diante dele, como seus relacionamentos com os padrastos agressivos e as questões amorosas. Linklater (auxiliado pela editora Sandra Adair) também é bastante feliz ao utilizar elipses para ilustrar as mudanças que acontecem no universo de Mason. O espectador salta de uma cena para a outra e fica maravilhado em ver como é feita a transição dos anos, sem precisar de créditos que identificam aquele período, como geralmente é feito em outras produções. Além disso, Linklater acerta ao colocar elementos pop que fazem parte da maioria das crianças e adolescentes, como videogames, computadores e até mesmo Harry Potter e Barack Obama. A trilha sonora, com artistas como Coldplay, Paul McCartney & Wings e Arcade Fire também ajuda  a contar a jornada de Mason de maneira simples e brilhante.

Outro mérito de “Boyhood – Da Infância à Juventude” está em seu brilhante roteiro, que consegue criar personagens realmente cativantes e verossímeis. Assim, temos a mãe de Mason que, embora ame os filhos, não consegue encontrar alguém que seja um bom companheiro para ela, que acaba se envolvendo com homens inicialmente agradáveis, mas que aos poucos se tornam agressivos com Mason e Samantha. O curioso é que Olivia, embora se torne uma psicóloga especializada em relacionamento familiar, falha em obter harmonia dentro de casa. O pai, no início da história, surge como um eterno garotão que demora para amadurecer. No entanto, ele realmente se preocupa com Mason e Samantha e faz o possível para que, mesmo morando longe, esteja presente em suas vidas, servindo até como um conselheiro e amigo para os dois. E, é claro, Linklater cuida para que seu protagonista não seja uma espécie de “menino adulto”, algo que geralmente acontece em filmes estrelados por crianças. Assim, Mason é apresentado como alguém que vive como os outros de sua idade, com todas as suas alegrias e tristezas que fazem parte da maioria dos seres humanos.

O elenco também está exemplar. Patricia Arquette é a atriz que mais passa por mudanças físicas no filme, já que aparece magra, gorda, de cabelos curtos ou longos. Mas além disso, ela também consegue transmitir com segurança as alterações que a vida da sua personagem tem que enfrentar e a torna uma mãe ainda mais realista. Ethan Hawke (que parece ter sentido menos os efeitos do tempo) também se sai bem como o pai que começa liberal e vai, aos poucos, ficando mais “careta”, como mostra a cena em que ele discute com Mason sobre um carro que ele pretendia dar ao filho. Lorelei Linklater é a única que não tem uma grande atuação, até porque Samantha vai perdendo a importância depois da metade do filme até o final. Mas o filme não funcionaria direito se não fosse pela ótima performance de Ellar Coltrane como o protagonista já que, é através de seus olhos, que acompanhamos a trajetória de Mason para se tornar um jovem adulto que, apesar de suas falhas e inseguranças, é uma pessoa que desperta o interesse do público.

Assim, “Boyhood – Da Infância à Juventude” é uma experiência única e mostra que o cinema americano não é somente pautado por blockbusters cheios de efeitos especiais e pouca história ou dramalhões que, embora bem produzidos, pouco têm a acrescentar. Com este filme, Richard Linklater se torna um diretor realmente relevante (não que não fosse antes) e deve ser sempre lembrado por esta verdadeira obra-prima. Assistam no cinema, se possível mais de uma vez, para ver como é possível fazer uma produção tão bela e instigante sobre o tempo e como o utilizamos em nossas vidas.

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