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“Mulher-Maravilha” é um sopro vigoroso no universo cinematográfico da DC

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Pobre Mulher-Maravilha. Enquanto seus parceiros Superman e Batman tiveram inúmeras versões cinematográficas (fora as séries de TV e animações) ela penou vinte anos até ganhar uma versão live action na gloriosa tela grande. O projeto de levá-la ao cinema começou em 1996 e teria, a princípio, Ivan Reitman (de “Os Caça-Fantasmas”) no comando. Depois de algumas tentativas fracassadas, a entrada de Joss Whedon em 2005 parecia ser o ponto de ignição, mas também não decolou. O futuro diretor de “Os Vingadores” abandonou a produção por divergências criativas. Até que, finalmente, dez anos depois, Patty Jenkins assumiu a cadeira de diretora.

Vários nomes foram cogitados para a direção e o papel principal (Angelina Jolie, por exemplo, chegou a ser sondada para ambos). Enquanto isso, até o Lanterna Verde, colega de Liga da Justiça até menos popular, ganhou seu filme (péssimo, diga-se de passagem). Mas como diz o ditado, ri melhor quem ri por último. “Mulher-Maravilha” (Wonder Woman, EUA/2017) não só é uma deliciosa sessão da tarde como também o melhor título dessa retomada da DC nos cinemas. A amazona literalmente “samba na cara” do apenas bom “O Homem de Aço” e do pífio “Batman VS Superman”.

Como é o debut da personagem na telona, temos a estrutura clássica de filme de origem. Acompanhamos Diana (Gal Gadot), princesa das Amazonas, criada em um paraíso protegido e treinada desde criança para ser uma guerreira invencível. Quando Steve Trevor (Chris Pine), um piloto da Primeira Guerra Mundial, é arremessado para o litoral da ilha, ela se sente levada a deixar seu lar, para proteger a humanidade da destruição massiva. Lutando ao lado do homem em uma guerra para acabar com todas as guerras, Diana descobrirá seus poderes e seu verdadeiro destino.

Fica nítido que a Warner finalmente entendeu o verdadeiro espírito de uma adaptação da DC Comics. Ao contrário do Homem Morcego, Mulher-Maravilha e Super-Homem são semideuses. Não faz sentido que tenham conflitos existenciais ou questionem sua grandeza, mesmo que no momento inicial. E a Diana de Patty Jenkins vem imbuída do heroísmo e otimismo que faltou nos dois filmes anteriores do DCverso.

O longa tem clima de matinê, daquelas em que a gente torce pelos bons e vaia os maus. A diretora já havia adiantado que suas inspirações seriam “Os Caçadores da Arca Perdida” e “Superman: O Filme”. Isso de fato pode ser percebido, seja no tom aventuresco do primeiro (há até os inimigos alemães), no viés messiânico do segundo ou no clima nostálgico de ambos. Ok, Zack Snyder tem sua participação (inclusive fazendo figuração como um soldado). Ele é um dos produtores e foi autor do argumento junto com Allan Heinberg e Jason Fuchs (“A Era do Gelo 4” e “Peter Pan”). Sua influência é claramente sentida em algumas tomadas, mas no geral, Patty é a dona do show, que acaudilha com plena segurança. Seu trabalho é amparado por uma direção de arte e fotografia que enchem os olhos tanto na estonteante concepção de Temiscira (vista pela primeira vez em live action) quanto na reconstituição da Londres dos anos 1910.

Apontada como a melhor coisa de “Batman Vs Superman”, a Diana de Gal Gadot passa sem sustos na prova do filme solo. Embora não tenha dotes dramáticos shakespearianos, a ex-modelo e soldado israelense contrapesa incorporando a personagem com galhardia em uma combinação de charme, força e carisma, marcas essenciais para a credibilidade da personagem em carne e osso. E como é graciosa volteando com o laço da verdade e ricocheteando balas com os braceletes ao som da trilha sonora mais empolgante de filmes de super-heróis recentes.

O Steve Trevor de Chris Pine não está ali para ser a mão forte que ajuda a erguer uma espada, como acontece em algumas aventuras protagonizadas por mulheres e nem mesmo para ser a mocinha em versão masculina. Ele é o ponto de vista humano no mundo das amazonas e o tradutor das questões não muito lógicas dos humanos para a recém-chegada. O eficiente elenco de apoio confere um brilho extra, trazendo boas performances de Connie Nielsen, Robin Wright (imponentes como Rainha Hipólita e General Antiope respectivamente), David Thewlis e Ewen Bremner.

O bem amarrado roteiro de Heinberg (que assinou séries como “The O.C.”, “Grey’s Anatomy” e “Sex and the City”), além de trabalhar na dose certa ação aventura e humor, traz algumas homenagens sob a forma de easter egg. Há remissão a “Superman” (quando Diana e Steve são encurralados em um beco), ao clássico seriado dos anos 70 (o disfarce de secretária de Steve é homenagem à segunda temporada da série) e até aos “Novos 52” (quando ela se deleita com um sorvete e elogia o vendedor). O script desliza um pouco apenas no clímax, quando fica a sensação de estarmos assistindo a uma partida do game “Injustice”.

“Mulher-Maravilha” é a primeira produção protagonizada por uma super-heroína em 12 anos (o último foi “Elektra”, com Jennifer Garner), mas isso está prestes a mudar. Junto com os já anunciados Batgirl Miss Marvel,  descerra um novo horizonte para as mulheres super poderosas. Por agora os DCnautas podem comemorar. Esse é o filme que eles queriam ver. Se não é 100% fiel, pelo menos é extremamente respeitoso com o cânone. Além disso, desperta a sensação de que podemos ser heróis, mesmo que por um dia. Um alento nesses tempos sombrios de terrorismo no exterior, violência urbana por aqui e desilusão política planetária. E que esse seja mesmo o primeiro de uma trilogia.

Filme: “Mulher-Maravilha” (Wonder Woman)
Direção: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen
Gênero: Aventura, Fantasia
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Warner Bros
Duração: 2h 21min
Classificação: 12 anos

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