"Robocop" de José Padilha é político, mas recai no emblematismo

"Robocop" de José Padilha é político, mas recai no emblematismo – Ambrosia

O novo filme de José Padilha é uma produção ambiciosa para um diretor acostumado com a estrutura e os arquétipos do cinema brasileiro, bem como com o jogo de famosidades que embarca a prospecção de um filme. Com nomes como Gary Oldman e Samuel L. Jackson na produção e o investimento da MGM – além do fato de lidar com um emblema da cultura pop dos anos 80 -, Padilha soube criar um corpo que articulou bem com seus membros, mesmo não tendo nada de particularmente excepcional.
Robocop” foi feito símbolo do cinema de ficção cientifica e policial pelo diretor Paul Verhoeven e os roteristas Edward Neumeier e Michael Miner. Verhoeven dirigiu “O Vingador do Futuro“, e Neumeier, juntamente com Miner roteirizaram a série homônima de “Robocop“. Essa dupla também assessorou Padilha no roteiro de sua versão para “Robocop“, juntamente com Joshua Zetumer. Contudo, mesmo se valendo de um emblema que é Robocop e seu background em Detroit, “Robocop: A Origem” – que com mesmo titulo que o de 1987 – é uma produção autoral se olharmos para Padilha.
Com filmografia de cunho social e político – “Ônibus 147“, “Garapa” e “Tropa de Elite” – , a construção desse longa foi em torno da questão de segurança pública e armamentista dos EUA: os jogos de poder da iniciativa privada sobre a opinião pública ao negociar segurança. Mas ainda tendo grande cenas para a história do policial Alex Murphy (Joel Kinnaman) e sua transformação no símbolo “Robocop”. E é nesse ponto que o roteiro desnuda a ambição politica do longa: o emblematismo do personagem principal, em meio a sua mitificação, cria um vigilante que reúne para si a solução dos questionamentos a cerca da segurança pública, não abrindo espaço à uma solução para os cidadãos, fazendo do discurso do filme um desfile da podridão comum da sociedade de mercado e das estruturas de poder com o manuseio midiático – Pat Novak (Samuel L. Jackson) é o personagem que rivaliza com Robocop em importância para o longa com seu discurso e sua história.
As personagens foram bem interpretadas, sem nenhum destaque excepcional, ainda que Kinnaman esteja um tanto sonso e estereotipado em seu policial justiceiro. Michael Keaton, como o empresário ambicioso Raymond Sellars; Gary Oldman como o emocional Dr. Dennett Norton; Michael Willians como o parceiro de Murphy, Jack Lewis; e os personagens secundários também estão bem entrosados e representados: Abbie Cornish como Clara Murphy;  Jackie Haley como o ácido Rick Mattox; Jennifer Ehle como Liz Kline, dentre outros.
Um ponto fraco do filme foi a falta de jogo de cena entre Alex e seus familiares, os quais foram santificados num lugar-comum no roteiro – uma possível falta de interesse com esse ponto (?).
No quesito brasilidade, não é difícil reconhecer nos personagens estereótipos comuns e atuantes de nossa sociedade midiática, bem como das negociatas do poder publico frente ao lobby privado nos grandes centros urbanos, como ocorre em Detroit.
Quanto as produtoras e estúdios, a MGM Pictures acertou na produção de Padilha, o que para Columbia foi mais um sucesso na lista – “Trapaça” (2014), “Espetacular Homem Aranha 2” (2014), “Caçadores de Obras Primas” (2014), “Capitão Phillips” (2013).

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