"Atômica" usa o som e a fúria de Charlize Theron a serviço da (boa) espionagem – Ambrosia

“Atômica” usa o som e a fúria de Charlize Theron a serviço da (boa) espionagem

A década de 1980 continua a ser bastante celebrada no mundo pop. Não há quem não queira revisitar esta época, seja para cultuar ou criticar o que as pessoas vestiam, comiam ou como pensavam e se comportavam, ainda mais nestes tempos politicamente corretos que vivemos nos dias de hoje. Um dos melhores veículos para levar as grandes massas a esse período ainda é o cinema, geralmente em produções leves, como as comédias, onde tudo é mostrado com certo exagero para garantir as risadas do público.

Por isso, quando surge um projeto que busca uma visão diferente do que tem sido feito ultimamente, só podemos nos alegrar. Esse é o caso de “Atômica” (“Atomic Blonde”, EUA, 2017), que traz uma história de espionagem com uma caprichada estética, cenas de ação muito bem conduzidas e, principalmente, uma protagonista e tanto, que prova definitivamente que Charlize Theron nasceu para fazer mulheres fortes e carismáticas como poucas na Hollywood atual.

Ambientada em 1989, durante o processo que levou a queda do Muro de Berlim, que dividia a Alemanha em duas partes (Ocidental e Oriental), a trama acompanha a agente do MI-6 – o serviço secreto britânico – Lorraine Broughton (Charlize Theron), que é escalada para recuperar uma lista na capital alemã que, se cair em mãos erradas, pode expor diversos espiões pelo mundo. Assim, ela vai ao encontro de David Percival (James McAvoy), que é o chefe da estação local, para obter o documento. Mas ela logo descobre que seu trabalho não será nada fácil porque tem mais gente de outras agências de olho no dossiê e que, assim como Lorraine, fará de tudo para tê-lo em suas mãos.

Sem saber em quem confiar, ela acaba passando por poucas e boas para executar sua missão, ao mesmo tempo que tem de lidar com a desconfiança de um de seus chefes, Eric Gray (Toby Jones), além de Emmett Kurtzfeld (John Goodman), enviado pela CIA para saber melhor o que está acontecendo. Paralelo a isso, Lorraine é seguida pela misteriosa francesa Delphine Lasalle (Sofia Boutella), que tem interesses misteriosos em relação a bela espiã.

Inspirado na Graphic Novel “Atômica: A Cidade Mais Fria”, escrita por Antony Johnston e desenhada por Sam Hart (lançada no Brasil pela Darkside Books), “Atômica” se torna um verdadeiro deleite aos olhos por sua estética impressionante. A fotografia assinada por Jonathan Sela, que já havia trabalhado com o diretor David Leitch em “De Volta ao Jogo”, trabalha muito bem a questão das cores, já que é possível notar o tom desbotado em alguns momentos que contrastam com o efeito causado pelas luzes de neon vistas em certas locações, como bares e boates. Esse tipo de iluminação era muito usado na época em que o filme é passado, dando um pouco mais de “vida” e “calor” aos planos.

Vale destacar também a boa direção de Leitch, principalmente nas muitas cenas de ação. O cineasta mostra um grande vigor nestas sequências, que mesmo sendo bastante violentas, possuem uma certa humanidade, já que seus participantes batem mas também apanham bastante, perdem o fôlego e sentem dor. Este tipo de ideia é explorada principalmente em duas das melhores cenas do filme. Uma acontece dentro de um prédio, numa incrível sequência montada para parecer sem cortes durante dez (!!!) minutos, e outra quando há uma perseguição de carros.

Isso mostra uma preocupação para que, embora sejam fictícios,  os personagens não sejam super seres. Apenas pessoas muito bem treinadas em diversos tipos de luta. É claro que, neste tipo de filme, há momentos em que parece estarmos diante de um filme de James Bond dos tempos de Roger Moore ou Pierce Brosnan. Mas não chegam a atrapalhar a diversão.

O roteiro escrito por Kurt Johnstad (que também foi o autor de “300” e “300: A Ascensão do Império”) também merece destaque por criar uma trama complexa, mas que nunca perde o interesse por deixar as coisas bem claras para o espectador. Algumas reviravoltas da história são muito boas, mas nem todas funcionam a contento. Uma pessoa mais atenta perceberá o que determinado personagem realmente quer e o que vai fazer em seguida, tirando um pouco da surpresa. Mesmo assim, o saldo é positivo.

O que realmente impressiona, no entanto, é a sensacional trilha de canções dos anos 80, com artistas como David Bowie, George Michael e Marilyn Manson ou grupos como Queen, The Clash e Siouxie And The Banshees, só para citar alguns. As músicas fazem parte da narrativa de forma tão orgânica quanto as que fizeram parte de “Guardiões da Galáxia Vol. 2” e evidenciam o sensacional trabalho feito pela equipe de edição de som. Se o mundo for justo, eles devem ser lembrados para as principais indicações da categoria em 2018.

E não se engane: O show do filme é todo de Charlize Theron, do início ao fim. A vencedora do Oscar de Melhor Atriz por “Monster: Desejo Assassino” arrasa mais uma vez como uma personagem destemida, a segunda este ano depois de, literalmente, transformar o grandalhão Vin Diesel num cordeirinho em “Velozes e Furiosos 8”. Mas em “Atômica”, ela também se mostra muito boa na fisicalidade, ao participar de cenas de briga de igual para igual com seus oponentes.

Isso sem falar no aumento da temperatura na fria Berlim por sua beleza e charme naturais, além de um momento bastante sensual em que divide a cena com Sofia Boutella (bem mais interessante aqui do que no recente “A Múmia”). James McAvoy se sai bem como o espião um pouco alucinado e bastante ambíguo, tornando David um sujeito simpático em alguns momentos e desprezível em outros. O restante do elenco está bem em seus papéis, mas nada muito memorável.

"Atômica" usa o som e a fúria de Charlize Theron a serviço da (boa) espionagem – Ambrosia

“Atômica” se junta outros filmes lançados este ano, como “Mulher Maravilha” “Colossal”, estrelado por mulheres fortes que não mais precisam de alguém para salvá-las, e são capazes de, sim, fazer coisas que só eram permitidas aos homens no cinema. O filme também mostra que David Leitch está mais do que pronto para ter seu nome mais lembrado no futuro e que tem tudo para arrasar também na direção de “Deadpool 2”, seu mais recente projeto em andamento. De uma coisa, temos certeza: se o mercenário tagarela da Marvel esbarrasse com esta espiã nos anos 80, provavelmente não sobraria pedra sobre pedra neste século.

Filme: Atômica (Atomic Blonde)
Direção: David Leitch
Elenco: Charlize Theron, James McAvoy, Sofia Boutella
Gênero: Ação e Suspense
País: EUA/Alemanha/Suécia
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 1h 55min
Classificação: 16 anos

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