"Blade Runner 2049" expande o universo sem escapar do tributo – Ambrosia

“Blade Runner 2049” expande o universo sem escapar do tributo

Foram anos de especulação em relação a uma sequência de “Blade Runner: O Caçador de Androides”. A partir desse fim de semana os fãs de sci-fi podem conferir a sequência desse clássico absoluto. “Blade Runner 2049” (Idem, EUA/2017) nos leva de volta ao futuro distópico apresentado magistralmente por Ridley Scott há 35 anos. Nesse contexto, a jornada investigativa serve de fio condutor para um desdobramento da questão existencial dos replicantes acarretada pela eterna obsessão do homem em brincar de Deus.

Trinta anos após os eventos do primeiro filme, um novo caçador de androides, o agente da Polícia de Los Angeles K (Ryan Gosling), descobre um segredo há muito esquecido que tem o potencial de mergulhar o que resta da sociedade que vive na Terra no caos. A descoberta o leva a uma missão para encontrar Rick Deckard (Harrison Ford), um antigo blade runner desaparecido há 30 anos.

"Blade Runner 2049" expande o universo sem escapar do tributo – Ambrosia

Continuações tardias costumam ser desnecessárias e totalmente desprovidas dos méritos que tornaram o original memorável. Quando se trata de um cult do calibre de “Blade Runner”, a manobra é ainda mais arriscada. Há o perigo de macular a obra simplificando um conceito estabelecido, como fez o dispensável “2010: O Ano Em Que Faremos Contato” com a obra-prima de Stanley Kubrick. “2049” tenta justamente se aprofundar nas questões filosóficas semeadas ao longo do filme de 1982 e tão bem condensadas no ostentoso discurso do replicante Roy Batty (Rutger Hauer).

Por outro lado, o calcanhar de Aquiles do roteiro assinado por Hampton Fancher (autor do script do primeiro filme) e Michael Green é um certo didatismo em alguns momentos cruciais e a retidão da narrativa, que insinua ousadia para logo em seguida revelar a opção pela zona de conforto.

"Blade Runner 2049" expande o universo sem escapar do tributo – Ambrosia

No entanto, é inegável que a direção de Denis Villeneuve escapa da perigosa (e tentadora) armadilha de emular a direção de Ridley Scott (que assina a produção deste). Além de realizar um bom delineamento dos personagens, o diretor canadense imprime sua marca, mesmo quando presta inevitável tributo ao primeiro filme. Ele lida com a tarefa dificílima de ter como material um conceito visual tão icônico e indelével. A (boa) saída encontrada foi criar uma sutil atualização, tendo como ponto de referência a projeção de século XXI dos anos 80. Computadores têm desenho retrô e companhias poderosas da época como a Pan Am e a Atari são colocadas imponentes nos gigantes painéis integrados à arquitetura urbana.

Esse conceito de “futuro do pretérito” confere um charme à produção. Embora sem o arrebatamento do filme de 1982, o aspecto visual é um dos pontos altos de “2049”. Outro ponto de coesão está na fotografia de Roger Deakins, que mantém a identidade visual estabelecida por Jordan Cronenweth, e a música de Hans Zimmer e Benjamin Wallfisch, que remete à trilha de Vangelis.

"Blade Runner 2049" expande o universo sem escapar do tributo – Ambrosia

Outro grande desafio era trazer para esse universo personagens fortes e marcantes como Deckard, Rachel (Sean Young), Batty e Pris (Daryl Hannah). O bom trabalho com atores de Villeneuve (que pode ser visto em “Sicário” e “A Chegada”) se aproxima desse desiderato, principalmente no que tange a coadjuvantes, como a acompanhante virtual Joi (uma cintilante Ana de Armas) e à breve participação de Dave Bautista, elemento desencadeador da trama. Já em relação ao protagonista K, em uma correta atuação de Ryan Gosling, vemos uma variante do arco original de Deckard, assim como Niander Wallace (Jared Leto no tom certo) traz similitude com os propósitos de Batty.

Por fim, “Blade Runner 2049” se apresenta em uma faca de dois gumes. É fortalecido pela marca que carrega, mas sofre com o peso de ser continuação de um longa que estabeleceu paradigmas no cinema e em outras mídias. As comparações com seu antecessor são tão inevitáveis quanto injustas. Se não é perfeito, é um bom exemplar de ficção científica que passa longe de revolucionar o gênero, mas entrega uma continuação respeitosa e expande com dignidade o universo criado por Phillip K. Dick na matéria-prima literária “Androides sonham com ovelhas elétricas?”.

Filme: Blade Runner 2049 (Idem) 
Direção: Denis Villeneuve
Elenco: Ryan Gosling, Harrison Ford, Jared Leto
Gênero: Ficção Científica
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Sony Pictures
Duração: 2h 43min
Classificação: 14 anos

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