O Angra é uma banda que sempre gostou de flertar com a grandiloquência. É nítido, desde os tempos em que tinha o hoje falecido vocalista André Matos à frente, como o grupo de power metal explorava acordes elaborados e de alguma forma flertava com o erudito.
A ideia não foge muito do tradicional formato acústico que ficou bastante popular com a MTV nos anos 90, que com o seu “Unplungged” popularizou as releituras com voz e violão de clássicos e sucessos de bandas e aristas consagrados. No caso do Angra, quiseram também acrescentar uma orquestra, com instrumentos de corda, flauta e oboé, além de piano e percussão. O desafio era não perder a grandiosidade do formato original com as guitarras. Logo na primeira música, ‘Nova Era’, do álbum “Rebirth”, ficou claro que a empreitada acústica-sinfônica seria bem-sucedida.
O show seguiu com ‘Make Believe’, do disco clássico “Holy Land”, de 1996, e ‘Storm of Emotions’, essa da fase mais recente, do “Secret Garden”, de 2014. O vocalista Fabio Lione lembrou que já está na banda há 12 anos. O italiano brincou dizendo que gostou tanto de “Fireworks” que comprou o CD na época, dando a deixa para a execução da faixa ‘Gentle Change’.
Lione assumiu os vocais em uma faixa que originalmente era cantada por Rafael Bittencourt, ‘Bottom of My Soul’. ‘Silence and Distance’ foi uma das faixas que ganharam a combinação perfeita de potência com lirismo. Rafael diz que a ideia do acústico era antiga, mas apenas agora conseguiram realizar. Em ‘Reaching Horizon’ o guitarrista mostra que poderia perfeitamente ocupar o posto de vocalista.
O show acústico também conta com convidados luxuosos. A primeira é Vanessa Moreno, que cantou ‘Here In the Now’, música que ela gravou com a banda e faz parte do último trabalho de estúdio, “Cycle of Pain” (2023). A cantora agradeceu à banda e ao púbico lembrando que apesar de ser conhecida pela MPB, começou no rock aos 15 anos.
Lione brincou com um fã que levou sua mãe para assistir ao primeiro show do Angra. “Escolheu logo o acústico?” observou bem-humorado, e perguntou se ela gostaria que Vanessa continuasse no palco para cantar mais uma música. Em uma bela homenagem a André Matos, cantou ‘Wuthering Heights’ de Kate Bush, canção de vocais agudos que o ex-vocalista do Angra executava com impressionante destreza.
Mais havia um outro convidado também muito especial e muito esperado pelos fãs: o guitarrista Kiko Loureiro, que ficou no Angra entre 1992 e 2015. Junto com a banda e Vanessa, ele participou das versões de ‘No Pain For The Dead’. ‘Holy Land’ e ‘Late Redemption’ ainda contaram com o guitarrista, assim como ‘Rebirth’, com Vanessa de volta ao palco em dueto com Lione que expôs seu lado tenor. Após ‘Bleeding Heart’, sob luzes do celular a pedido do vocalista, veio o bis com o clássico absoluto ‘Carry On’.
O formato se mostrou interessante para a sonoridade do Angra, que ressaltou o talento de Rafael, Felipe Andreoli e Marcelo Barbosa, normalmente ouvidos com seus instrumentos plugados, mas mostrando que a virtuose pode ser adaptada para o acústico (além de Bruno Valverde na bateria). Alguns fãs podem ter sentido falta de ‘Angels Cry’ e ‘Nothing to Say’, mas turnê que passou por Belo Horizonte e São Paulo, segue para Curitiba e Santiago do Chile e talvez nesses shows essas músicas entrem. E certamente ganhará uma nova temporada, talvez com um set até mais extenso.
Setlist:
- Nova Era
- Make Believe
- Storm of Emotions
- Gentle Change
- Bottom of My Soul
- Silence and Distance
- Reaching Horizons
- Here in the Now
- Wuthering Heights
- Tears of Blood
- No Pain For the Dead
- Holy Land
- Late Redemption
- Rebirth
- Bleeding Heart
- (Bis) Carry On
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