Uma fábula sem moral. O final destas histórias guardavam uma chave de contorno moral muitas vezes solucionando um conflito de base de consciência. Mas o que mudou tanto de lá para cá, em relação à fábula, esta narrativa de desenho bem peculiar em que a leveza e a agilidade do seu percurso diz muito de um certo tempo? A fábula seria um tipo de consciência atrevida, que puxa para o dizer sem palavras. Muito de suas imagens, são tão visivas quanto a imaginação de uma quadrinista. Muito autor de hoje, usa certos aspectos fabulares, em seus contos, ou até romances.
Quando li o livro de contos. Histórias rápidas para dias acelerados (editora Oito e meio), do escritor Samir de Oliveira Ramos, encantei-me com seu tom imaginativo e fabular. Com uma pena leve e corrida (não no sentido de displicência, nunca!), o autor tece narrativas onde há sempre uma relação de gênero há se notar e se absorver com o cuidado da presteza do humor em inserir, diríamos, pequenas rubricas, ou assinaturas do autor em cada desenlace de enredo. Não direi quais são e nem quais contos se apropriam desta faceira agilidade de mostrar a sugestão. Quando se confronta alguma ideia ou ideias antagônicas, cada um fala a sua vez, é assim no tribunal, e em outras práticas dialéticas. Samir apresenta a face da história sem qualquer tipo de maniqueísmos. Na verdade ele é um autor de facetas ou de máscaras, principalmente: as sociais.
Estabelece também um tipo de andadura para cada conto narrado. Como se fosse o narrador, um tipo de montaria, temos alguns contos curtos, onde o desenho se estabelece no centro de força, que é seu desfecho como no conto Trem da morte. Em outros, como Aula de piano, sua força e originalidade está todo possuído pelo conto todo, até porque o mote é como um garrote que se pega pelo rabo.
Diria que há um tipo de sorriso, escondido ou camuflado, entre as linhas deste livro de contos, como se o autor quisesse parodiar os dias turbulentos de hoje em detrimento de outrora, cuja pena era menos cínica, e a galhofa era um efeito não desmoralizante. Hoje tudo serve para ruir, as edificações do outro: ideias, conceitos, estilo. Samir em seu um pouco parecido bestiário (pois não é que desfaz a pose) mostra a careta que faz a modernidade sorrir sem mácula.
Bacana reler essa crítica depois de tantos anos….valeu, companheiro de letras!