Ilhada em Mim – Sylvia Plath traz bela cenografia e reflexões sobre o trabalho artístico da mulher

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Ilhada em mim – Sylvia Plath, com direção e cenografia de André Guerreiro Lopes e dramaturgia de Gabriela Mellão, cumpre temporada no Teatro Poeira até 10 de junho, após percorrer cidades como São Paulo, Santos, Recife, Belo Horizonte, entre outras. Djin Sganzerla interpreta a poeta americana Sylvia Plath e André Guerreiro Lopes vive o poeta Ted Hughes, com quem ela foi casada e teve dois filhos, antes de se suicidar, aos 30 anos de idade.
No palco, a cenografia consegue traduzir em imagem a veia lírica de Sylvia, construindo cenas de grande beleza, em que uma espécie de afundamento dos personagens (ou de suas vidas) é transmutado em uma superfície de água no palco e os móveis ali utilizados também são dispostos de modo a reiterar essa impressão de aprofundamento. Esse espelho d’água montado para o espetáculo é excelente, na medida em que aponta para significados possíveis como a própria instabilidade das emoções que acompanham o casal e a inevitabilidade dessa submersão.
Djin compõem a protagonista com força, entregue ao papel, dilacerada pela não comunicação com o companheiro, por certa competitividade entre eles (no que tange à produção poética), pelo distanciamento afetivo que parece se dar entre os dois. André Guerreiro Lopes, por outro lado, dedica-se a um Ted Hughes estático, imobilizado, como se não fosse tangenciado pelo horror que acontece à sua volta, pelo telefone que toca mil vezes para anunciar a tragédia, pelo sofrimento em que afunda Sylvia, aos seus pés. Ela desmorona, ele a segura, mas é como se ignorasse o que há de mais fundamental nesse desmoronamento. Ele segura seu corpo, tentando não se afetar, mas não alcança sua alma.
Intercalam-se ainda algumas cenas com o áudio de respostas da escritora a uma entrevista, o que situa o espectador nos dramas vividos por ela: diferente do marido, que podia se fechar em seu quarto ou escritório para dedicar-se ao trabalho criativo, não podia abdicar de suas tarefas domésticas, aquele trabalho tornado invisível tão importante para que a sociedade patriarcal continue avançando, para que o homem consiga fazer o seu trabalho bem mais descansado, o trabalho que é propulsor do sistema capitalista embora todo mundo finja que não.
Sylvia escrevia poesias, mas tinha de ir às compras, cuidar da casa, arrumar tudo ao redor. Ela mantinha, por falta de escolha, a vida comum e fortuita de qualquer dona de casa que não é poeta, sem a possibilidade de adentrar uma bolha de sossego que poderia facilitar seu trabalho criativo. É inevitável então a indagação: será que essa condição, pelo sofrimento que provoca, poderia ser vista como um dos elementos que tornou sua poesia muito mais expressiva do que a de Hughes? Nunca saberemos, mas os trechos escolhidos da entrevista são interessantes para a reflexão sobre a experiência situada e cultural de trabalho na mulher e no homem, e, mais especificamente, no caso do trabalho do artista.

Ficha técnica:

Direção, Concepção e Cenografia: André Guerreiro Lopes
Elenco: Djin Sganzerla e André Guerreiro Lopes
Dramaturgia: Gabriela Mellão, a partir dos escritos pessoais de Sylvia Plath.
Figurinos: Fause Haten
Iluminação: Marcelo Lazzaratto  
Direção Musical: Gregory Slivar  
Assistente de Direção e Direção de Cena: Rafael Bicudo
Direção de Produção: Djin Sganzerla
Produção Rio:           Sandro Rabello/Diga Sim! Produções
Assistente de produção: Lucas Oliveira
Operação de Luz: Walace Furtado
Operação de Som e Vídeo: Renato Garcia
Cenotécnico: Mateus Fiorentino

Serviço:

Ilhada em Mim – Sylvia Plath
Temporada:  De 03 de maio a 10 de junho.
Teatro Poeira: Rua São João Batista, 104, Botafogo.
Telefone: 2537-8053.
Dias e horários: Quintas a sábado, às 21h, e domingo, às 19h.
Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia).
Lotação: 130 pessoas
Duração: 1h.
Classificação indicativa: 14 anos.
Funcionamento da bilheteria: 3ª a sáb., das 15h às 21h; e dom., das 15h às 19h.

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