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Livro de poemas "Do Ínfimo" reafirma a posição fundante da linguagem ao designar as coisas

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Sou uma imagem ou um som que vem andarilho por uma estrada lunada. Crateras são formações de rostos, são depósitos de silêncios onde se habita uma certa solidão. Um rosto clama, não seu nome, mas um poema que lhe habite um tipo de morada. Silêncio e imagem atravessam no mesmo barco para uma margem sem friso, totalmente, permeável às águas. O poema que lei(T)o tem um ritmo de rio passante, corrente, como um torvelinho imaginoso. Há refrões que dão imaginação a um tipo de canção lunar esperada por astronautas que sabem lidar com cápsulas, estes objetos que trazem algum conteúdo imemorial.
No livro da poeta Maria João Cantinho, a linguagem é inominável pois ela está em algum estágio evolutivo das coisas em concreções, dos estados não absolutistas do núcleo fechado. A palavra no livro Do Ínfimo (editora Penalux) da poeta não é descrição do mundo ou do universo, ela é a própria criação do evento ou imaginação que põe o real do mundo a rodar.
Tente sonhar com palavras que designem, não há vocábulos em sonhos. E não há entendimento numa trilha férrea de um longo voo de sonho, pois, os poemas também acompanham os sonhos. Neles, há que se ter camadas quanto mais profundas como citei as crateras-terras. O que chamo planeta também chamo solo, agricultura, país, estes nomes da geopolítica que fundam os enclaves, os núcleos, as explosões de massa térmica.
Na sua fina tessitura de linguagem inflamada de poesis, revi a solidão da casa de romances como Lavoura Arcaica, de ambientes inóspitos do afeto, de terra despossuída de laços, como se a desagregação de um clã ou família fosse o início do verbo que nomeia Pai, filho, e Espírito Santo. Talvez a palavra poética deixe o sagrado mais moldante à palavra do lavrador poeta ou do filósofo parindo conceitos, gerando concepção entre luz e trevas.

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