Uma relação pede em algum momento uma canção que a demarque não o movimento espaçado do encaminhar-se, deixando uma nota ao pé do ouvido, mas ao nó do compasso que circula o efêmero. Mas que fique só no tempo da canção a espera ou a intuitiva alegria, tão igual a um dia de chuva que é tão intenso com cheiro (de terra molhada), como nostalgia de um tempo bom ( aqui não necessariamente o sol presente). Como a casa da gente com vitrola, jogo de sofá e poltrona para aquela visita que acaba de chegar de Porto Alegre, (outro sentimento que rela na relação a dois).
A cidade é sua cartografia, ode à passagem onde o amor calcou, não há demarcação na ida de um amor que saiu pela porta afora e sumiu pela vielas ou ruas de um percurso urbano. E é sempre com um som na vitrola que o eu que fica cantarola e controla um espaçamento entre a roupa branca (falsa paz?) e o branco da página, recém manchada de poemas- palavras negras. A poeta Juliana Ben em seu segundo livro chamado Preia-mar, Editora Penalux, traça no livro qual seria o espaço entre o privado de alguma relação entre duas pessoas e os espaços contados quando o campo da saudade ou ausência se faz presente, aqueles pequenos rebatimentos, onde será que esta pessoa está?
Se um pulo na praia se conta nos dedos da ampulheta do agora-e-do-depois cheia de areia espumada ao contato das vagas ondas que ladrilham aquele espaço onde as pegadas dormem na musicalidade da marola que para à certo ponto do guarda-sol. A poeta relaciona com seus poemas extremamente musicais espaços entre o privado e o público aqui numa suíte sobre o andar-vagar nas cidades. Os versos trilham uma cantiga do deslocar-se, afetivamente, mas sempre atento às passadas do coração, uma perene disgressão sobre o não estar aqui no outro.
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