A Netflix descobriu uma arma secreta; ao produzir filmes e séries em várias partes do mundo, o streaming tem mais chance de se surpreender com uma produção que se transforma em um grande fenômeno. A recente série Round 6, se tornou uma sensação internacional, durando várias semanas como número um. Assim, era claro a expectativa da estreia de alguma produção sul coreana, e a série Profecia do Inferno (Heading to Hell) do diretor Yeon Sang-ho foi a primeira a chegar.
O criador de Invasão Zumbi (Train to Busan) e suas subestimadas sequências traz uma proposta bem diferente, uma adaptação de um conhecido webtoon,que deixa os jogos mortais de lado, para embarcar no sobrenatural e perguntar: O que você faria se soubesse a data exata de sua morte? A série pega esse conceito de iniciação, para uma narrativa que se divide entre o fanatismo religioso e o paranormal.
O que você faria se soubesse quando iria morrer?
A série levanta uma questão inicial bem interessante, em um cenário onde, devido a eventos paranormais, as pessoas podem saber o dia e a hora de sua morte.
A pessoa escolhida recebe a visita perturbadora de um ser que revela a data em que isso acontecerá. Na hora certa, três seres corpulentos e sombrios aparecem para espancar brutalmente o sujeito em questão, antes de cremá-lo e enviá-lo para o inferno. E embora o CGI não seja uma maravilha, as criaturas se impõem de forma eficaz, pelo desamparo e o sofrimento causado em suas vítimas.
Mas o melhor é sem dúvida o debate moral que se cria, numa sociedade que agora enfrenta uma realidade cruel, marcada por acontecimentos que não podem explicar. Isso gera diversas opiniões e inevitáveis confrontos entre os próprios seres humanos, levando-os a cruzar limites inadmissíveis.
A primeira cena é o principal elemento fantástico; mas, longe de ser o ponto de partida para um universo fantástico, é o melhor que tem para oferecer e a série se limitará a repeti-la de forma monótona e menos espetacular. Embora haja uma certa violência, os efeitos especiais parecem ter vinte anos e o desenho dos demônios não é nada assustador.
O perigo do fanatismo
O roteiro gira em torno das consequências desses atentados, que são socialmente assimilados, portanto, no estilo da série The Leftovers, o fator sobrenatural é secundário e provoca o surgimento de um culto apocalíptico, ‘A Nova Verdade‘, do carismático Jeong Jin-soo (Yoo Ah-in), que explica que as vítimas são pecadores que recebem a profecia já explicada acima.
Esse portador da Verdade se apresenta como a resposta às dúvidas da população e provoca uma enxurrada de fiéis seguidores. E consegue influenciar todo o planeta, tornando-se uma das pessoas mais poderosas, senão a mais. Mas não é a única que afirma levar a verdadeira palavra, pois nas sombras está uma outra, mais agressiva e extrema em suas ações: a Arrowhead.
Ambas servem como um bom exemplo dos perigos do fanatismo religioso extremo, em que apenas uma ideia conta e as demais são silenciadas ou exterminadas.
Dispensável?
Profecia do Inferno é uma série com toques noir e elementos sobrenaturais, que ao abordar os extremistas, se conecta com a situação atual das teorias da conspiração baseadas na Internet e como a pandemia gerou negacionistas de todos os tipos.
Mas a série não consegue compor seus subtemas. Tem momentos interessantes, porém a investigação leva a uma série de cenas cada vez mais repetitivas, cheias de diálogos mal escritos que não levam a lugar nenhum. As aparições de um personagens são irritantes, um cara que não é nem sinistro e bem engraçado, mais para tosco, que mereceu o final que teve.
Profecia do Inferno é uma tentativa de uma série de terror, que se destaca mais pela abordagem sobre fanatismo religioso e sua influência na sociedade, do que criar uma atmosfera aterrorizante. Vale pelo convite ao espectador a refletir sobre a ética humana, mas enfadonha pela maneira que sua narrativa é apresentada. O “pecado e condenação” estão ali, o desenvolvimento do entorno é que não sai legal.
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