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‘Rônia, a filha do bandoleiro’ de Astrid Lindgren e seu olhar aventuresco

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SINOPSE: Rônia vive em um castelo no meio da floresta com seu pai, o temido bandoleiro Mattis, sua mãe, a poderosa Lovis, e um grupo de bandidos que há muitas gerações rouba qualquer viajante que se aventure pelas matas. Diferente de seu pai, porém, Rônia não tem vontade de se tornar uma ladra. O que ela mais ama em sua vida é a floresta e seus segredos e, desde pequena, passa o tempo ao lado de anões cinzentos, elfos, harpias e outros seres fantásticos. Um dia, ela conhece Birk, a primeira criança com quem tem contato e que além de tudo gosta da floresta tanto quanto ela. O único – mas enorme – problema é que ele é filho de Borka, o grande inimigo de seu pai… E talvez nem uma amizade tão pura quanto essa seja capaz de vencer tamanha rivalidade.

Rônia, a filha do bandoleiro, (tradução de Fernanda Sarmatz Åkesson) publicado pela Companhia das Letras, no seu selo infanto-juvenil, é uma imaginativa e encantadora narrativa de uma jovem a frente de seu tempo. Escrita pela sueca Astrid Lindgren (1907-2002), autora de livros importantes, como a série que se iniciou com Pippi Meialonga ou com Emílio Faz das Suas. Uma aventura numa floresta surreal e encantada, com criaturas fantásticas e perigosas e pessoas que não conheceríamos todos os dias. Um mergulho no mundo dessa garota incomum cercada e amada por tantas pessoas incomuns que, em circunstâncias normais, seriam chamados de assaltantes.

A autora, com sua protagonista, prova que um riso infantil pode suavizar qualquer coração, mesmo de um ladrão. Guiada pela temperança e curiosidade da idade, levando a uma variedade de situações, cujas consequências lhe ensinarão a sobreviver. Muitas emoções, eventos, criaturas incomuns e a descrição do entorno são narrados de maneira alegre, onde Astrid cria um mundo para todas as idades, criando lições intemporais sobre amor, coragem, lealdade e força, qualidades importantes na formação de nosso eu como crianças. Para quem não conhece Rônia, uma de suas melhores narrativas, a abordagem utilizada ganha profundidade ao demonstrar muitas verdades que tropeçamos em nossas vidas, como o desinteresse dos pais e dos filhos ao longo da vida, a raiva e o perdão, o anseio por algo, entre outros. Desta forma, ajuda a mostrar-nos pontos cativantes em onde tempo é ilimitado e cada fração dessa história traz um pedaço daquela infância perdida em nosso cerne. E ainda com as ilustrações de Ilon Wikland, fica mais fácil sentir toda os momentos vividos na narrativa.

Um livro para se ler em voz alta e como uma família, que resistiu à prova do tempo porque fala diretamente ao coração e à alma das crianças de todas as idades. O cenário, com suas florestas e castelos, os pontos de vistas dos personagens, a aventura e os temas de lealdade, tolerância, amor e perdão tornam-na uma história que continuará atraindo as crianças em todos os lugares. Um dos melhores livros para crianças já escritos. Leitura obrigatória para pais e filhos, envolvente, por trazer toques de filosofia e crítica social e por trazer o encanto dos países escandinavos, a liberdade, o amor apaixonado entre um pai e uma filha e a amizade pueril entre uma jovem e um menino.

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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