Ao fim da segunda temporada pode-se ter a certeza de algo que já se desconfiava: The Crown é a melhor série das milhares produções próprias da Netflix. Se a primeira já apontava a consistência de seu refinamento, essa nova é ainda melhor e mais completa ao compreender a partir do ano de 1956 do reinado de Elizabeth II, quando a monarca está em plena crise conjugal com o escorregadio (em vários sentidos) Príncipe Philip (Matt Smith) e desafios políticos para lá de complexos como a crise do Canal de Suez, fato que aprendemos em aulas de História, mas que aqui ganha contornos mais pessoais.
Se a faceta institucional da vida de Elizabeth nesse período, foi conturbada a ponto de em um episódio ela se dizer alarmada por já ter passado pelo seu curto reinado, três primeiros-ministros, o roteiro cresce mesmo na investigação da vida pessoal da família Real, mas sem idealizações, ainda que um dos raros defeitos da série seja, por vezes, sacralizar demais a figura da rainha. Um exemplo é o (ótimo) episódio da visita dos Kennedy.
Claire Foy faz uma trabalho excepcional em sua construção cênica, e substituí-la – já que é sua última temporada, Olivia Colman assumirá o posto – será uma tarefa ingrata. Entretanto, o grande destaque desse ano foi Margaret (Vanessa Kirby, que merece todos os créditos), a grande protagonista de um dos melhores episódios já feitos numa série, “Beryl“, dirigido magistralmente por Benjamin Caron. Já seria lugar comum enaltecer o cuidado da série com a direção de arte, o figurino, a fotografia, as locações… enfim, tudo o que ela representa. Mas nesse específico quarto episódio, que parece ter um tempo muito próprio, essas qualidades ganharam espessura de cinema. O episódio parece todo decupado por Bresson de tão deslumbrante que são suas imagens (só para citar um momento, o semi escândalo que acontece no final e a forma como ele é mostrado). Centrado na polêmica vida amorosa da irmã da rainha, “Beryl” em si mesmo, poderia quase ser um filme sobre a personagem, de tão bom que ficou.
The Crown é esse acúmulo de êxitos e valorização competente aos detalhes. Praticamente toda escrita por Peter Morgan, que é um obcecado pelo universo da Família Real Inglesa (é dele o roteiro preciso do filme A Rainha), a série não só continua impressionando, como também consegue surpreender sendo uma das melhores atrações da TV. Em anos…
Obs: “I Only Have Eyes for You” do The Flamingos, não vai sair da sua cabeça depois do (ultra citado) espetacular quarto episódio (não à toa foi a trilha do trailer da série)…
Série: The Crown
Criação: Peter Morgan
Elenco: Claire Foy, Matt smith, Victoria Hamilton
Gênero: Drama/História/Biografia
País: EUA/Reino Unido
Data de lançamento: 08 de dezembro de 2017
Emissora: Netflix
Duração: 58 min
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