Quando ganhou o Oscar de Melhor Filme, o filmaço Moonlight jogava luz para um dos mais talentosos diretores da fauna hollywoodiana atual, Barry Jenkins. E também revelava uma estética tão poeticamente precisa (sobretudo nos discursos que filma) que seria facilmente reconhecida em qualquer veículo que ele se inserisse. Por isso a série da Amazon Prime, The Underground Railroad diz tanto sobre seu preciosismo.
Baseada no premiadíssimo romance homônimo de Colson Whitehead, a série de 10 episódios é também adaptada por Jenkins e reconta a história da escrava fugitiva Cora (a sul-africana Thuso Mbedu), filha de uma mítica escrava também fugitiva, mas que nunca foi encontrada, que entende que é melhor morrer tentando achar a liberdade que viver condenada a vislumbra-la.
Ela quer chegar até uma tal ferrovia subterrânea, que levaria escravos para longe do fardo de suas vidas miseráveis. Tem em seu encalço, um caçador de recompensas (Joel Edgerton) que traz em si toda a perversidade estrutural que tanto justificou a escravidão socialmente na América de meados do século 19.
O cineasta e o autor do livro construíram os roteiros como que se embasassem a densidade do texto literário nas necessidades dramáticas da imagem. Por isso a fotografia (tão importante na obra do diretor) de James Laxton, tangencia tudo o que a sutileza das cenas permite. Esse cuidado preciosista numa minissérie tão sombria e pesada, evita que a dor vire esteio dramático (como em Them, da própria Amazon) e se coloque como um olhar crítico dentro de um recorte histórico.
A direção é espetacular. A maneira como ele aproxima os personagens do espectador, como trabalha a luz na linha tênue do lúdico e do real e sobretudo, como sua obra sempre ressoa como uma força que não necessariamente é tátil, mas sensível em sua construção. O episódio 9 é o paroxismo dessa habilidade.
The Underground Railroad não é uma minissérie fácil, nem para maratonas. É para ser sorvida quase como literatura. Seus olhos precisam ler a desolação da vida real ficcionalizada proposta por Jenkins. É exigido muito de quem assiste, mas a recompensa está nos efeitos que ela agrega a uma ferida social que estanca, mas não para de sangrar.
Nota: Épico – 5 de 5 estrelas
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