Um jovem casal acorda sem saber onde está. Amy e Sam foram dopados, capturados, presos e privados de água e comida. E não há como escapar. De repente, um celular toca com uma mensagem. No chão há uma arma, carregada com uma única bala. Juntos, eles precisam decidir quem morre e quem sobrevive. Logo, torturados pelo medo, desespero, fome e sede, só há uma maneira de acabar com aquilo tudo: um deles deve morrer. E assim começa a narrativa de Uni-duni-tê de M. J Arlidge, publicado pela Record recentemente é mais uma aposta da editora pelo segmento policial/suspense.
O autor constrói um thriller instigante, cuja surpreendente premissa também é o que vai ajudar o leitor a desvendar o enigma. Assim, quando saímos da primeira cena, vemos que outros, ou melhor, diversos “sobreviventes” começam a aparecer na trama, deixando claro que trata-se da ação de um serial killer. Empenhado em criar um jogo macabro no qual as duas vítimas são expostas a uma situação extrema, este criminoso não apenas coleciona vítimas, mas traz à tona o que há de pior na natureza humana. A detetive Helen Grace é colocada à frente da investigação. Ao mesmo tempo em que busca encontrar o assassino antes que outras vítimas apareçam, ela também tem os próprios problemas potencializados pela situação limite. Ela logo vai perceber que a chave para resolver o mistério está nos sobreviventes.
Para quem lê há décadas, encontrar um bom suspense fica mais difícil, e como o primeiro livro de uma série, Alridge conseguiu me manter na leitura, a questão das vítimas na situação apresentada, lembra muito a série de filmes Jogos Mortais, mas com um diferencial a vítima sempre é um ente querido da outra vítima. O trabalho da detetive Grace é descobrir a conexão entre as vítimas e rastrear o serial killer.
Bem, para a personagem Grace, uma policial tão cheio de problemas quanto as vítima, com alguns clichês característicos para protagonistas de thrillers, mas com aspectos fora de um molde. Uma policial dedicada no dever, solteira, com um passado difícil e complicado, com aqueles conhecidos “problemas das mulheres”, lidando com um dos assassinos mais bizarros que jamais encontrou. Uma personagem complicada e difícil, nada incomum nos modernos detetives ficcionais, mas Arlidge não a define totalmente, levantando dúvidas sobre o que realmente pensa ou sente.
O que realmente impressiona em Uni-duni-tê é a abordagem de alguns elementos de vários gêneros, de uma forma ambiciosa, e faz muito bem, um feito que resultaria em uma confusão nas mãos de um escritor menos qualificado. Matthew Arlidge escreveu por anos para a televisão britânica, roteirizando séries como “Torn”, “The Little House” e “Undeniable”, todas ambientadas com investigação de crimes.
A trama em si é engenhosa e bem executada. Contado em mais de cem capítulos curtos, o que torna uma leitura rápida. Os capítulos podem parecer tensos, mas não encontramos nenhuma palavra extraviada ou supérflua, por sinal a tradução de Maurette Brantd está de primeira, passando essa característica do autor.
A representação que Arlidge faz da deterioração física e psicológica que cada um sofre enquanto lidam com uma escolha impossível é absolutamente convincente, mesmo que bastante horrível. Não tão convincente é a maneira que envolve a investigação da história. Fica faltando mais desse lado, mas o enredo tem aquele suspense psicológico, com situações extremas e um final surpreendente, garanto o entretenimento. Recomendado tanto para os fãs do gênero ou não.
Roteirista da série “Silent witness”, da BBC, Arlidge estreia nos romances com “Uni-duni-tê”. O livro teve os direitos de publicação vendidos para 25 países e rapidamente se tornou best-seller no Reino Unido.
Comprei o livro há anos, mas somente neste final de semana peguei para ler. Foi uma boa surpresa, acho que o autor conseguiu se desviar de clichês que poderiam aparecer no caminho. Concordo com a crítica do Ambrosia de que faltou um pouco sobre a própria investigação; fora isso, é bem envolvente.