Sempre achei o movimento Dogma 95 uma bobagem que só serviu para catapultar a carreira de Lars Von Trier e uma meia dúzia de integrantes da alcunha. Thomas Vinterberg é mais um dessa estatística que, com o excepcional A Caça, representa um avanço em absolutamente tudo o que se propôs até aqui, incluindo o importantíssimo Festa de Família. Muito desse completo êxito se deve ao fator Mads Mikkelsen, tão marcado por vilões caricaturais, mas sempre de extrema competência e que aqui desnuda seus sentimentos em favor de uma consistente composição cênica.
Lucas (Mads), professor de uma creche, é acusado por uma de suas alunas, a pequena Klara (Annika Wedderkopp incrível em sua estreia na tela grande), filha de seu melhor amigo, de um ato de pedofilia: expor-se para a criança. E dessa pequena mentira a vida do professor sofre uma reviravolta destrutiva. Ao seu lado, somente sua nova namorada, seu filho e um dos seus inúmeros amigos. A diretora pede ao professor que tire uns dias de folga. Uma investigação começa a ser conduzida. A notícia se espalha à boca pequena. Não há informações nítidas. A criança sofre pressão para dar respostas. Ou seja, deu-se a confusão de níveis trágicos.
A Caça acaba sendo uma representação até de uma antiga negação ideológica de Thomas: retrata os desígnios e as contradições do convívio social em seus próprios arquétipos orgânicos. A tensão da não-culpa e a radicalização do implícito, trazem um gosto amargo do que é ver sua vida na mão de intentos até então inocentes. O diretor tem uma precisão insana para evocar esse extremo, mas sem sacrificar em nada a humanidade dos fatos. O tal Dogma insistia na crueza da estética, mas na verdade é a própria crueza da vida que não pode jamais ser subestimada Sem dúvida nenhuma um grande filme para ficar na história. E para se manter vivo na nossa memória.
[xrr rating=5/5]
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