A singeleza de “A Chave de Sarah” nos transborda de emoção

O cinema é imprescindível na revelação histórica dos fatos, jogando luz num passado que muitas vezes o presente esquece (!) de datar. A Chave de Sarah vem para reforçar essa estatística.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo francês se rendeu às forças nazistas, estabelecendo o que ficou conhecido como Regime de Vichy. Por ordens dos alemães, as autoridades francesas, então, reuniram milhares de judeus e os enviaram para campos de concentração, sendo que um dos locais utilizados como prisão foi o Velódromo de Inverno, em Paris.

Enquanto a pequena Sarah (Mélusine Mayance, de Ricky, em excelente atuação) é levada com os pais por militares do governo francês, para o campo, a garota esconde o irmão mais novo em um armário, e guarda com ela a chave.

A singeleza de "A Chave de Sarah" nos transborda de emoção – Ambrosia

Paralelalmente, em 2009, casada com um francês e com uns 40 e tantos anos de idade, a jornalista americana Julia (Kristin Scott Thomas , sempre impecável) prepara uma reportagem sobre o aniversário das prisões no Velódromo para uma revista. Seu interesse aumenta quando ela descobre que seu sogro cresceu num apartamento onde antes morava uma família de judeus que foi enviada à força para um campo de concentração. Era o apartamento de Sarah. Julia, assim, começa a investigar o paradeiro da menina e procura entender o envolvimento do sogro no caso.

O filme é uma adaptação do romance homônimo da francesa Tatiana de Rosnay, um best-seller na França, e é sensivelmente dirigido por Gilles Paquet-Brenner, que procura dosar a força motriz de sua história (que na verdade é um grande épico emocional) equilibrando muitíssimo bem uma estrutura holywoodyana de imprimir uma “saga histórica” (leia-se O Caçador de Pipas) com um ar assertivamente anticlimático do melhor do cinema francês.

Claro que a presença de Kristin é primordial para isso, assim como a dignidade com que as emoções são expostas e trabalhadas, desembocando num final que tinha tudo para ser um mero clichê, mas que se estabelece por si só; e por prerrogativas gritantes como esse diálogo do filme:

“Como assim? Os nazistas documentavam tudo o que faziam”.

“Você não está entendendo. Não foram os nazistas que fizeram isso. Fomos nós mesmos, os franceses”.

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