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“Alien: Covenant” desperdiça potencial com escolhas desacertadas

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O texto já se inicia com uma má notícia: “Alien: Covenant” (Idem, EUA/2017) está longe de ser o grande filme da série “Alien” que estava sendo esperado. Na verdade, todas as esperanças dos fãs residiam na expectativa de que esse “Covenant” arrumasse a bagunça deixada por “Prometheus”. Mas o novo título da franquia, que vinha com o propósito de responder todas as perguntas que ficaram sem resposta no filme anterior, segue dois caminhos: complicar ainda mais algumas coisas e assentar outras em um simplismo constrangedor.

A trama se passa em 2104, quando a nave colonizadora Covenant segue seu curso rumo ao distante planeta Origae-6, com uma tripulação formada por casais. Um acidente cósmico antes de chegar ao seu destino faz com que Walter (Michael Fassbender), o androide a bordo da espaçonave, seja obrigado a despertar os 17 tripulantes da missão. Logo Oram (Billy Crudup) precisa assumir o posto de capitão, devido a um imprevisto ocorrido no momento em que todos são despertos. Em meio aos necessários consertos, eles descobrem que nas proximidades há um planeta desconhecido, que abrigaria as condições necessárias para abrigar vida humana. Oram e sua equipe decidem ir ao local para investigá-lo, considerando até mesmo a possibilidade de deixar de lado a viagem até Origae-6 e se estabelecer por lá. Só que, ao chegar, eles rapidamente descobrem que o planeta abriga seres mortais.

Partindo-se dessa sinopse, espera-se uma trama “parque temático”, o que  seria até mais honesto. Ridley Scott continua querendo brincar de “2001” (assim como em “Prometheus”, várias tomadas remetem ao filme de Stanley Kubrick), mas não encontra estofo no roteiro de John Logan e do estreante na função Dante Harper para tal. Os questionamentos filosóficos e existenciais suscitados acabam soando patéticos, alguns dos quais apresentam temática próxima dos vistos em “Blade Runner”, obra-prima de Scott. Daí, “Alien: Covenant” fica apenas na pretensão de ser substancioso e também malogra como diversão montanha-russa.

No final das contas, ver novamente o xenomorfo na telona em toda a sua glória (“Prometheus” era um prelúdio) é o maior trunfo da produção. Mas até isso fica empalidecido pelos equívocos do script. O nascimento da criatura, por exemplo, é uma grande rasteira em toda a mítica que a envolve. Aqui Scott dirige sem galhardia, e o parâmetro para justificar a afirmativa não é nem “O Oitavo Passageiro”, e sim o recente e bom “Perdido Em Marte”. Em alguns momentos tenta emular o clima claustrofóbico do filme de 1979, em outros, o ritmo das cenas de ação da sequência dirigida por James Cameron em 1986. A direção pouco inspirada é, ao menos, adornada pela belíssima fotografia de Darluz Wolski, com que Scott já havia trabalhado em “Perdido” e “Prometheus”.

Para as fãs de Michael Fassbender a dose dupla do ator (que além de interpretar Walter volta como David) pode valer o ingresso. E de fato o ator irlandês, mesmo no piloto automático, tem uma carismática participação, confirmando seu posto como um dos nomes mais relevantes da atuação no cinema hoje. Ficou para Katherine Waterson o papel do protótipo de Ripley, Daniels, especialista em terraformação a bordo da Covenant. No terço final do filme a semelhança com Sigourney Weaver em “Aliens: O Resgate” é inegável. Outra observação é a incompetência do departamento de recursos humanos da Weyland-Yutani Corporation. Como uma missão para a qual foram gastos milhões é interrompida ao avistar o primeiro planeta aparentemente habitável no meio do caminho? Enfim, se formos levantar todas as questões mal explicadas, esse texto se alongará demasiadamente.

A frustração com “Alien: Covenant” é latente, pois o potencial para colocar a franquia nos eixos foi desperdiçado por escolhas desacertadas. A continuação já está sendo anunciada pelo cineasta com início das filmagens no ano que vem (a menos que esse aqui seja um fiasco nas bilheterias). E certamente chegará o momento em que a trama se aproximará da do filme original. Scott disse até que pretende rejuvenescer Sigourney Weaver. Espera-se que funcione. Por agora fica ainda maior a vontade de assistir ao Alien de Neil Bloomkamp, engavetado até a segunda ordem.

Filme: “Alien: Covenant” (idem)
Direção: Ridley Scott
Elenco: Michael Fassbender, Katherine Waterson, Billy Crudup
Gênero: Ficção Científica/Terror
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Fox Films do Brasil
Duração: 2h 02min

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