Imbuído da incomunicabilidade que deu o tom da clássica trilogia de Michelangelo Antonioni, “Às Vezes Quero Sumir” é um filme que explora com delicadeza e introspecção os sentimentos de solidão e desolação que permeiam a vida da protagonista. A abordagem contemplativa é o que marca o longa, assim como a performance sincera de Daisy Ridley, a Rey da última trilogia Star Wars, em uma interpretação singela e minimalista, constrói sua personagem, Fran, com uma vulnerabilidade e profundidade que ressoam com o público.
A direção de Rachel Lambert pinta com bastante sensibilidade o quadro pintado no universo idiossincrático da protagonista, utilizando uma cinematografia sutil para capturar o isolamento emocional. São paisagens melancólicas e os enquadramentos cuidadosamente compostos refletindo o estado interno da protagonista, criando uma atmosfera que é ao mesmo tempo serena e inquietante. De fato é interessante a forma como são trabalhados matizes, tonalidades frias em consonância com o cinza predominante no céu, em contraste com paletas quentes, nas sequências em que a personagem apresenta seus devaneios sobre a morte. Inclusive vale observar que o título em português suaviza o original “Sometimes I Think About Dying”, que não se importa com o risco de despertar gatilhos. A trilha sonora contida complementa tom do filme, intensificando as emoções sem ser intrusiva.
Daisy Ridley aproveita com voracidade a oportunidade de mostrar seu talento para além da saga espacial. Sua interpretação é um dos pontos altos do filme, conseguindo transmitir os pensamentos não ditos e os sentimentos reprimidos de Fran trazendo autenticidade e nuances para sua personagem. A interação entre os personagens é realista e natural, com diálogos que procuram expor a estranheza e a banalidade das interações cotidianas.
No entanto, “Às Vezes Quero Sumir” sofre de uma narrativa que, em alguns momentos, pode parecer arrastada e pouco eloquente. A falta de dinamismo, pode testar a paciência de alguns espectadores. A profundidade emocional, embora bem explorada, não desencadeia grandes avanços ou reviravoltas, e isso acaba por deixar a história com uma sensação de estagnação, carecendo de um ritmo mais envolvente. Além disso, embora a protagonista até tenha um desenvolvimento adequado, alguns personagens secundários são um tanto subutilizados, não recebendo a chance para criar uma conexão mais forte com o público dentro da narrativa. A relação de Fran com seu pretendente, por exemplo, renderia um ensaio ainda mais contundente sobre a dificuldade de comunicação das relações atuais. Isso resulta em uma experiência que, embora rica em atmosfera, pode parecer um tanto unidimensional. Por outro lado, a forma como são mostradas as pessoas que habitam o escritório em que ela trabalha, embora compondo o contraponto cliché, não deixa de ser divertida.
Em resumo, “Às Vezes Quero Sumir” é um filme que oferece uma análise honesta e introspectiva dos sentimentos de isolamento e não pertencimento em um contexto no qual o coletivo se impõe. No entanto, a narrativa lenta e a oportunidade perdida de se trabalhar com mais camadas alguns personagens impedem que o filme se eleve a um patamar superior. É uma obra que merece ser vista, mas que pode não ressoar profundamente com todos os espectadores.
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