O diretor Luca Guadagnino é conhecido por sua expertise em abordar a autodescoberta. Ele ficou famoso por mostrar a desabrochar de um novo caminho da sexualidade em “Me Chame Pelo Seu Nome”, e não é difícil estabelecer um paralelo com seu mais novo filme, “Até os Ossos”.
A priori uma história sobre primeiro amor, a trama acompanha Maren (Taylor Russell), uma jovem aprendendo a sobreviver à margem da sociedade, e Lee (Timothée Chalamet), um autêntico outsider. Eles se encontram e juntos percorrem uma odisseia por estradas da América profunda, na qual, apesar de seus melhores esforços, todos os caminhos levam de volta a seus passados terríveis e o amor deles é colocado à prova pela própria condição de ambos.
A relação entre Maren e Lee também apresenta um revestimento de professor e aluna. Ele é o caminho para o entendimento da condição da jovem, ainda que por meios tortuosos. Ela quer ser alguém alvo de admiração e respeito. Ele a menina que, mais importante do que isso, é, literalmente, sobreviver.
O que a adaptação do livro de Camille DeAngelis feita por David Kajganich quer transmitir de uma forma um tanto radical é o quão difícil é sustentar uma autenticidade em um mundo padronizado, embrulhado para consumo. É um road movie que não se furta em ser perturbador, e a fotografia de Arseni Khachaturan magistralmente compõe um clima que enfatiza esse desconforto.
Taylor Russell com uma interpretação minimalista cria conexão imediata com o espectador, que aos poucos se desfaz de qualquer questionamento surgido no primeiro momento para abraçar a jornada da protagonista. Timothée Chalamet, repetindo a colaboração com Guadagnino, exibe o que já é de conhecimento geral: que é um dos melhores atores de sua geração. Aqui também temos Mark Rylance fazendo o que de melhor ele entende: coadjuvantes que deixam marca indelével no filme. O personagem Sully o faz, mas não exatamente pelos mesmos motivos que trabalhos anteriores do ator. Todas as performances muito bem orquestradas por Guadagnino.
“Até os Ossos” consegue ser envolvente justamente pela condução sem cair em armadilhas que colocariam tudo a perder ao menor descuido do diretor. É difícil classificar o gênero, acredite. E esse talvez seja justamente uma das características positivas.
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