Que a história da Fluminense FM dava um filme, os ouvintes fiéis da “Maldita” (como ficou conhecida a rádio) já sabem faz tempo. Depois de ganhar alguns documentários, chegou a vez de ter uma versão cinematográfica de sua trajetória, que vem na forma de “Aumenta Que é Rock ‘n Roll”.
Dirigido por Tomás Portella (“Impuros”), o longa conta a história de Luiz Antonio (Johnny Massaro), criador da Fluminense FM, rádio de Niterói pioneira no Brasil a ter uma programação exclusivamente dedicada ao rock. Desde que entrou no ar, em 1982, a rádio foi conquistando ouvintes que se sentiam acolhidos com aquela programação especializada e com uma linguagem única (inclusive foi a primeira a ter um elenco de locutoras femininas), transmitindo desde o rock n’roll clássico dos anos 60 e 70 às bandas que começavam a surgir naquele que era início da geração Rock Brasil.
A trama mostra as desventuras de Luiz, que, inesperadamente, acaba se vendo no comando de uma estação de rádio falida e caindo aos pedaços, transforma-a na Maldita e empreende uma jornada árdua, cheia de desafios para mantê-la no ar. A mesmo tempo, ele tem que lidar com a personalidade forte de Alice (Marina Provenzzano), funcionária demitida da antiga rádio que entra para a linha de frente da Flu. Ao mesmo tempo que estabelecem uma forte conexão, o temperamento da moça causa conflito com Luiz. Aos poucos os sentimentos vão ganhando mais intensidade.
O roteiro de L.G. Bayão (“O Doutrinador”) se baseia do livro de memórias escrito por Luiz Antonio Mello, “A Onda Maldita: como nasceu a Fluminense FM”, mas como acontece em cinebiografias musicais, algumas liberdades são tomadas para tornar a trama mais cinematográfica e vendável para um público amplo. Os fatos que marcaram a história da rádio estão ali, como as festas que enchiam mais do que o previsto, gerando confusão do lado de fora por parte de quem queria entrar, os primeiros shows de bandas como Paralamas do Sucesso e Legião Urbana e a cobertura do primeiro Rock In Rio, de 1985. No entanto, também como as cinebio de bandas ou artistas, há erros cronológicos que chamam bastante atenção dos fãs de música, ainda que não comprometam o desenvolvimento da narrativa.
A direção de Portella se inspira claramente nos vários filmes nacionais dos anos 80 direcionados ao público jovem. Isso ajuda bastante a transportar o espectador para aquela época. O bom ritmo e o timing do humor se alinham com a proposta que pode até incomodar alguns puristas, de transformar a história da Fluminense praticamente em uma comédia romântica, mas é compreensível que tenham optado por esse caminho para atingir o público geral. Johnny Massaro faz com que o espectador torça pelo protagonista até o fim, e Marina Provezzano como Alice tem ótimas cenas antagonizando Luiz Antonio.
Podemos chamar “Aumenta que e Rock ‘n Roll” de uma versão brasileira de “Alta Fidelidade” (outra referência nítida além do cinema brasileiro jovem oitentista) e de fato é mais cabível do que Durval Discos, que se desdobra em algo completamente distinto da adaptação do livro de Nick Hornby estrelada por John Cusack. Uma boa diversão para nostálgicos, antigos ouvintes da Flu e jovens com curiosidade para conhecer o esquema de guerrilha de se manter uma rádio rock em uma era sem internet.
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