“Cinquenta Tons Mais Escuros” mantém em baixa a intensidade dramática e erótica

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Lançado em 2015, “Cinquenta Tons de Cinza” levava para as telas o primeiro livro da trilogia criada por E.L. James, que mostrava o início do romance entre Anastasia Steele (Dakota Johnson), uma simples universitária, e Christian Grey (Jamie Dornan), um jovem empresário incrivelmente rico que possui certos gostos peculiares quando o assunto é sexo. O filme fez a alegria dos fãs, que ajudaram a lotar os cinemas, e trouxe tristeza para os não iniciados, graças a um roteiro cheio de frases ridículas e forçadas, uma fraca direção que não conseguiu elevar a temperatura nas cenas mais ousadas e atuações canhestras de praticamente todo o elenco, onde apenas Dakota conseguia realizar um trabalho mais relevante. Mesmo com todos esses problemas, a produção chamou a atenção pela belíssima fotografia e uma impactante trilha sonora, especialmente suas canções. Tanto que uma delas (“Earned it”, interpretada por The Weekend) chegou a ser indicada para o Oscar.

Dois anos depois, a segunda parte da história chega à telona com novos diretor e roteirista, praticamente o mesmo elenco, com a adição de novos personagens e uma trama que pretende ser mais intensa profunda do que o filme anterior. É uma pena, no entanto, que tudo fique no campo das boas intenções, porque “Cinquenta Tons Mais Escuros” (“Fifty Shades Darker”, 2017) repete alguns dos principais erros da primeira produção, cai no ridículo em alguns momentos e não difere muito do que foi visto em 2015. Porém, por incrível que pareça, o filme até se ajeita um pouco (mas não muito) lá pela metade da trama e se torna levemente agradável de assistir, embora caia em algumas das armadilhas que ele mesmo criou em sua parte final.

Ambientada algum tempo depois dos eventos ocorridos em “Cinquenta Tons de Cinza” , a trama mostra Anastasia (Dakota Johnson) começando a trabalhar para Jack Hyde (Eric Johnson) numa editora, enquanto tenta esquecer seu envolvimento com Christian (Jamie Dornan). Não demora muito para que o empresário volte a procurá-la pedindo para que ela volte, o que ela aceita com algumas condições, como não terem mais segredos entre os dois e que haja mais confiança no relacionamento.

Entre eventos luxuosos e a descoberta de novas formas de prazer introduzidas pelo namorado, Anastasia tenta encontrar uma forma de lidar com as angústias e restrições de Christian, ao mesmo tempo que precisa enfrentar pessoas do passado do milionário, como a misteriosa Leila (Bella Heathcoate) e Elena Lincoln (Kim Basinger), responsável por iniciar Christian no universo sadomasoquista, que ela chama ironicamente de “Mrs Robinson”, e que podem atrapalhar o romance do reconciliado casal.

O que torna “Cinquenta Tons Mais Escuros” curioso para quem curte um bom cinema é ver o nome de James Foley na direção, substituindo a cineasta do filme anterior, Sam Taylor-Wood (que brigou com E.L. James durante as filmagens). Foley, que já foi um diretor mais conhecido por seus trabalhos em obras como “O Sucesso a Qualquer Custo”, “Caminhos Violentos” e “Quem é Essa Garota?” (frustrada tentativa de Madonna se dar bem numa comédia), faz aqui o possível para tornar o filme minimamente decente, para fãs e não-fãs dos livros de James. Nem sempre ele consegue, em parte pelo material ruim que tem que trabalhar.

Mas Foley também tem um pouco de culpa no cartório por falhar em dar mais impacto às cenas mais dramáticas, especialmente nos momentos em que Christian se fragiliza diante de Anastasia e nas sequências de suspense, onde tudo é resolvido de forma apressada sem escapar do clichê. Há, quase no final, uma parte que tinha tudo para ser a mais marcante do filme, mas que é totalmente destruída pela péssima condução do diretor para finalizá-la. As cenas de sexo não saem do padrão estabelecido na primeira parte e não chegam a excitar como deveriam.

Outro problema do filme está no roteiro, escrito pelo marido da autora, Niall Leonard, que assumiu a função após a saída de Kelly Marcel, que fez o texto da primeira parte. O roteirista comete os mesmos pecados de Marcel e faz com que os diálogos continuem bastante ruins, causando risos em momentos que deveriam ser levados a sério, especialmente na parte inicial da história. Porém, cerca de uma hora depois do início da trama, as falas ficam um pouco melhores e menos cafonas, em particular nos momentos em que apenas o casal protagonista está na tela, que devem deixar os admiradores dos livros em êxtase.

Além dos diálogos, o roteiro também não é bem sucedido para criar situações de suspense e tensão, necessários para dar a real gravidade dos perigos que Anastasia corre para ficar com o seu amado Christian. Como tudo é resolvido de forma rápida e nada surpreendente, fica a impressão de que os riscos que ela tem que passar parecem parte de um jogo sem maiores consequências, que podem fazer o espectador não dar a mínima para o que acontece com ela, o que é um grave erro, além de ser bem frustrante.

Assim como no primeiro filme, os destaques positivos de “Cinquenta Tons Mais Escuros” estão na bela fotografia, assinada por John Schwartzman, e na trilha de canções, como a versão do sucesso do Coldplay, “The Scientist”, por Corinne Bailey Rae, “I don’t wanna live forever”, interpretada por Zayn e Taylor Swift, “Not Afraid Anymore”, com Halsey, entre outras. É uma pena, no entanto, que o filme perdeu a chance de se destacar positivamente em outras partes. Pelo menos, esses elementos tornam a obra um verdadeiro agrado para os olhos, mesmo com conteúdo pouco substancioso.

Mais uma vez, Dakota Johnson consegue dar uma personalidade convincente para Anastasia que, mesmo apaixonada pelo namorado, não se submete a todas as suas exigências e a torna uma personagem minimamente interessante, embora a atriz tenha sido um pouco melhor em “Cinquenta Tons de Cinza”. Jamie Dornan consegue ser ainda mais inexpressivo nesta segunda parte e suas tentativas de tornar Christian Grey misterioso são frustradas por sua canastrice. Rita Ora e Marcia Gay Harden não se sobressaem com os seus papéis, ainda mais por participarem por muitas irrelevantes para a história.

Entre os novos integrantes do elenco, Eric Johnson não tem muito o que fazer com seu Jack Hyde, a não ser dar risinhos e se mostrar insinuante em alguns momentos. Já a ganhadora do Oscar Kim Basinger, que estrelou um dos mais cultuados filmes erotic chic dos anos 1980, “9 1/2 Semanas de Amor”, tem uma atuação prejudicada pelas intervenções estéticas que fez no rosto e não consegue tornar Elena uma mulher que seria uma antagonista realmente intimidante, algo necessário para tornar os embates com Anastasia mais interessantes. O mesmo acontece com Bella Heathcoate, o que mostra que a atriz ainda está pouco madura para fazer papéis mais intensos.

“Cinquenta Tons Mais Escuros” tem o mérito de ser uma continuação melhor do que o filme original. Mas isso é uma coisa até certo ponto fácil porque o primeiro capítulo falhou em praticamente tudo a que se propôs. Aqui, com um pretenso erotismo aqui e acolá (como numa sequência ambientada numa festa que lembra o clássico trash “Orquídea Selvagem”) e uma vontade de ser mais relevante e denso do que é, o filme vale como mero passatempo para espectadores nem um pouco exigentes, que se empolgam com peripécias sexuais filmadas de forma bem limpa e suave, que embalam um romance bem tradicional.

Agora é esperar como ficará “Cinquenta Tons de Liberdade”, o último capítulo da saga amorosa de Anastasia e Christian, que deve estrear em 2018 e deixar mais admiradores vibrando nas salas de cinema. Afinal, como diz o título de um filme pouco conhecido de Garry Marshall (de “Uma Linda Mulher”), “o amor é uma grande fantasia”.

Ah, sim!!! Durante os créditos, há uma pequena surpresa. Não saia do cinema antes do fim dos letreiros.

Filme: “Cinquenta Tons Mais Escuros” (Fifty Shades Darker)
Direção: James Foley
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Eric Johnson, Bella Heathcoate, Kim Basinger, Rita Ora, Marcia Gay Harden
Gênero: Drama, Romance
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 1h 58min
Classificação: 16 anos

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