Motoqueiros sempre exerceram um fascínio por seu estilo livre e rebelde, um imaginário alimentado por “O Selvagem” (1953), estrelado por Marlon Brando (focado na rebeldia), e sedimentado em “Easy Rider – Sem Destino” (focado na liberdade). “Clube dos Vândalos” é adaptação do livro fotográfico de Danny Lyon, que leva o título original do longa (The Bikeriders), que narra a ascensão de um clube de motociclismo no Centro-Oeste dos EUA durante a década de 1960. O longa, ao mesmo tempo busca enaltecer e desconstruir a cultura dos selvagens sobre duas rodas.
A trama, acompanha a jornada dos Vândalos, um clube de motociclistas, a princípio apenas uma confraria local de forasteiros unidos pela paixão pelas máquinas barulhentas e o respeito por seu líder, Johnny (Tom Hardy). Benny (Austin Butler), melhor amigo de Johnny, é um imprudente motociclista e sua esposa Kathy (Jodie Colmer) faz o possível para acompanhar a natureza indomável dele. Ao longo dos anos a vida dos Vândalos se torna mais violenta e gananciosa, ao ponto de se tornarem uma perigosa gangue, o que obriga os três a decidirem sobre a lealdade do clube e entre si.
A trama é contada sob o ponto de vista de Kathy. A história vai se desenrolando através de uma série de entrevistas que concede entre os anos 60 início dos 70 ao alter ego do autor do livro sobre o clube de motoqueiros. É um recurso feito justamente para situar a plateia leiga no modus operandi da comunidade, revelando peculiaridades, ainda que reforce alguns clichés.
O elenco é inflado de talentos. É mais uma vitrine para a crescente fama de Austin Butler, que tem tudo para se consolidar como um dos maiores astros de sua geração. Famoso por interpretar Elvis Presley, compõe o protagonista Benny com cada linha de diálogo sendo precedida por uma pausa significativa ou um olhar refletido, enquanto ele escolhe cuidadosamente suas palavras. Esse ritmo é um trunfo em alguns momentos, mas em outros se coaduna com um certo problema de ritmo da trama.
Johnny é a figura paterna do grupo. Tom Hardy encarna uma figura propositalmente inspirada em Marlon Brando, e compõe o personagem sempre a um passo da caricatura, mas sem prejudicar os momentos dramáticos.
Jodie Comer é o esteio do elenco. Sua atuação segura é a força motriz do filme servindo de porto seguro para Benny e para a trama em si, quando essa claudica. Já Michael Shannon, presença constante nos filmes de Nichols, que interpreta um ex-soldado orgulhoso de suas habilidades mecânicas, é inexplicavelmente colocado para escanteio
Estender a narrativa de uma gangue de delinquentes por quase duas horas é uma escolha ousada. Até poderia render algo consistente se alguns pontos colocados na mesa fossem explorados mais a fundo, como a entrada do tráfico de drogas, apostas e rufianismo, algo que é apenas citado em certo momento. No fim das contas os pontos chaves acabam mesmo sendo costurados pelas bebedeiras, brigas e alta velocidade pelas ruas e estradas. E mesmo focando nesse caminho, o filme carece de impulso, apesar de destacar a energia indomável de um grupo de homens fora da lei.
O diretor Jeff Nichols, do incensado “O Abrigo” (2011), que também assina o roteiro, claramente se inspirou na estrutura narrativa e estética de Martin Scorsese para essa incursão na irmandade motoqueira. O próprio cineasta declarou em entrevistas que sua grande inspiração para o longa foi “Os Bons Companheiros”, considerado o ponto alto da carreira de Scorsese. De fato é possível constatar uma equivalência entre o personagem de Tom Hardy e o de Robert De Niro, e também entre o de Austin Butler e o de Ray Liotta. No entanto faltou estofo para construir algo tão envolvente quanto.
Ainda assim, o filme é visualmente arrojado. O ótimo trabalho de Adam Stone (diretor de fotografia de longa data de Nichols), captura muitas cenas dos Vandals, às vezes adotando um estilo documental, sempre procurando adornar os quadros com tons quentes e queimados pelo sol. Além da qualidade estética do filme, “Clube dos Vândalos” se vale de um excelente trabalho de edição e uma direção correta. Um pouco mais de rebeldia o tornaria mais memorável.
boa crítica, preciso conferir
Opa! Fico feliz que tenha gostado da resenha. Vale a pena conferir no cinema sim