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“Confiar” trata a pedofilia com a contundência que o assunto exige

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É impressionante a contundência com que o diretor – relativamente – iniciante e também ator David Schwimmer, o Ross da série Friends, consegue extrair de seu segundo filme, o drama Confiar.

Primeiro porque seu filme anterior, a comédia Maratona do Amor, não parecia assim tão promissor. Porém o desnível qualitativo entre os dois filmes é gritante. Confiar não só é uma evolução na carreira de diretor de Schwimmer, como é um dos melhores e mais lúcidos filmes a cerca do espinhoso tema que é a pedofilia.

O roteiro é de uma sensibilidade impressionante ao trafegar sobre o tema: Annie (a ótima Liana Liberato) é uma adolescente de 14 anos que, como todos de sua geração, é aficionada pelas redes de bate-papos da internet. A história ainda dá uma justificativa psicanalítica para essa relação geracional. Annie começa a nutrir um contato com um garoto que diz ter a sua idade. Conforme essa relação vai amadurecendo – sempre on-line – ela vai descobrindo que o rapaz não tem a idade diz, mas sim, 34 anos. Sendo que ela vai se apaixonando cada vez mais até o fatídico encontro real. E isso traz implicações iminentes para toda sua família.

É importante notar em como o roteiro assume uma postura iconoclasta tanto para a vítima quanto para o algoz, instituindo a questão de uma forma tão verossímil, que parece estarmos presenciando o dilema na sala de estar de amigos próximos. Isso se dá principalmente pela opção em instituir a trama no confronto entre dois pontos de vista: o universo ingênuo propício da idade da protagonista e a perplexidade revoltante de seus pais diante da dura realidade dos fatos. Clive Owen e Catherine Keener estão magníficos como esses pais imersos no caos de uma crise que vai se desdobrando diretamente na relação dos dois. Owen, especificamente, é de uma entrega só vista em sua marcante performance em Closer. E, potencializando ainda mais esse elenco, temos a sempre eficiente participação de Viola Davis, na contenção de sua expressividade, trazendo um pouco de racionalidade para o desespero daquela família.

Estou impressionado mesmo com esse novo trabalho de David, que demonstra uma maturidade acima da média não só de seu próprio trabalho, como o do chamado moderno cinema independente americano. Podemos notar isso nas duas impactantes cenas finais do filme, onde ele se vale da força implícita nos sentimentos paternais para mostrar como a questão não permite dramatizações banais. E já nos créditos finais, temos a certeza desse contexto, em uma cena que faz com que deixemos a sala de cinema com a face perturbadora de como, às vezes, a vida é como ela é.

[xrr rating=4.5/5]

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