Crítica: Em “O Dançarino do Deserto” o protesto sobrepõe a poesia da dança

Afshin Ghaffarian é um dançarino iraniano que desafiou o regime de seu país, que proibia vários tipos de arte, principalmente a dança em locais públicos, e montou junto com seus amigos um grupo clandestino visando transcender através da beleza da dança e desse modo alcançar a liberdade. Dançarino desde criança, foi influenciado por Michael Jackson, Pina Bausch, Gene Kelly e Rudolf Nureyev e viu que seu sonho era possível através de uma transmissão pirata via Youtube de um canal de dança e artes para a juventude iraniana. Uma história dramática adornada com aura de heroísmo não poderia deixar de virar filme.

“O Dançarino do Deserto” (Desert Dancer, Reino Unido/2014) narra com contornos épicos a luta de Afshin (Reece Ritchie) contra as restrições de seu país ao lado de seus amigos Naser (Neet Mohan), Mona (Marama Corlett) Sattar (Simon Kassianides) e Ardavan (Tom Cullen). A eles se junta a bela e exímia dançarina Elaheh (Freida Pinto), que traz consigo um drama de vida contra o qual tenta lutar. Para despistar as autoridades o grupo organiza um espetáculo de dança no meio do deserto. O pano de fundo, como era de se esperar é a conturbada fase por que passava o Irã na época das eleições de 2009 que conferiram mais um mandato a Mahmoud Ahmadinejad, apesar de a maioria da população supostamente ter votado no opositor.

Dancer FreidaNão é uma biografia propriamente dita, pois se concentra apenas no período principal da vida de Afshin, o da luta contra a proibição de sua arte. A infância consta no início da trama apenas para uma melhor contextualização. Mas apesar de não cobrir toda a vida do personagem, o roteiro de Jon Croker comete os mesmos equívocos de uma cinebiografia completa. Pontas são deixadas soltas, personagens perdem a relevância subitamente e a relação de Afshin e Elaheh acaba não ficando muito bem amarrada. Por outro lado, a direção do iniciante em longas Richard Raymond é satisfatória. O elenco é conduzido de forma correta, as cenas de dança são muito bem coreografadas e adequadamente captadas pelas câmeras. A sequência do número de dança no deserto, o ponto alto do filme (é de onde saiu o cartaz, por exemplo) consegue transparecer a beleza que o momento exige e é conduzida com firmeza. Vale ressaltar também a edição precisa, que faz com que as cenas de dança e o filme como um todo funcionem a contento.

desert-dancer-2O pecado de “O Dançarino do Deserto” acaba sendo explorar o contexto dramático de forma panfletária, onde se tem a impressão de que o escopo da produção é muito mais acusar as atrocidades de um governo do terrorista inimigo dos EUA e do ocidente (lembrando: é uma produção britânica) do que externar a importância da arte, no caso a dança, como instrumento de libertação e transcendência. Essa foi a essência da luta de Afshin Ghaffarian, mas o filme preferiu enveredar por outro caminho.

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