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Crítica: A força de "Irmã Dulce" para além de uma sala de cinema…

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Qualquer tentativa de radiografar a vida de quem era conhecida como “Anjo Bom da Bahia” correria um risco quase previsível de cair nas amarras (irritantes) do excesso de solenidade ou veneração. Irmã Dulce se equilibra até bem nesse desafio, e até arrisco dizer que a mesma, beatificada por Bento XVI em 2011, opera nesse filme um milagre notável para quem cobre cinema: eis o primeiro filme completo e acima da média do diretor Vicente Amorim.
A narrativa faz um panorama biográfico de Maria Rita de Sousa, desde muito pequena atraída pela devoção em ajudar o próximo. Conforme foi crescendo, só foi ampliando suas medidas para cuidar dos pobres e necessitados de uma Bahia em plena formação político-social. Assim, foi responsável pela fundação de um dos hospitais mais importantes do Estado (que funciona até hoje) e muitos atribuem a ela notáveis milagres registrados. O roteiro procura retratar, mas por diversas vezes, se deslumbra ao mitificar a mulher que existe entre a própria identidade e a mitologia alimentada em torno dela. Quando se debruça em enaltecer a humanidade de seus atos, o faz de maneira bem contundente. Uma prova disso é a percepção (muito bem ilustrada na história) do quanto Irmã Dulce estava mais interessada no que podia fazer do que no que deveria seguir, em termos de dogmas católicos. Suas ações eram na prática do bem, puro e simples.
Por outro lado, ao procurar destacar essa bonita devoção, deixa escapar certa reiteração dramatúrgica, como na subtrama do “filho” que perpassa (com artificialismo) todo o filme, ou, mais explicitamente no episódio do acidente de ônibus – bem em frente a seu convento – em cenas que a imprime quase como uma super heroína.
Entretanto, são pequenos pecados (perdoáveis?) que não chegam a comprometer a trajetória impressionante mostrada na tela. Impressionante, aliás, é a melhor palavra para definir o trabalho de composição de Bianca Comparato, como a freira mais jovem. Todo o gestual e dicção é trabalhado de forma absolutamente orgânica, depois complementado dignamente pela ótima Regina Braga, na fase mais velha. Amorim também demonstra sensibilidade ao trazer a fotografia exuberante de Gustavo Hadba, particularizando a Bahia para o prisma de sua Irmã Dulce em belos enquadramentos.
Todo esse contexto resultou num filme que emociona pela assimilação que aquele amor ao próximo desmedido nos atinge. Chega a nos constranger por nossa apatia cotidiana. E ainda reflete bem o preceito implícito na vida da freira: entre (o que você acredite como) Deus e o próximo, não tem religião ou preceito institucional. Tem apenas você e o que você pode, deve ou quer fazer.

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