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Festival do Rio: “Me Chame Pelo Seu Nome”: um filme inteiro dentro de um intenso olhar

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Um filme inteiro dentro do olhar de um personagem. Essa frase resume a intensidade de Me Chame Pelo Seu Nome. Elio é um jovem de 17 anos em temporada de verão, na casa de campo da família, em Crema, na Itália de 1983. Seus pais são intelectuais e têm uma compreensão da vida bem ampla e multicultural. Esse detalhe é muito importante na formação desse rapaz. A família recebe a visita de um americano, que se hospeda por seis semanas para ajudar o patriarca em pesquisas. Essa visita acende a chama da puberdade e, sobretudo, sensibilidade de Elio. Taí uma palavra que o diretor Luca Guadagnino se apropriou tão bem para adaptar o livro homônimo do escritor egípcio Andre Aciman: sensibilidade.

A descoberta do amor romântico, naturalmente destituído de gêneros, requer uma boa dose de humanidade e tato para fugir da abordagem clichê. Guadagnino investiu na sensibilidade. Thimotée Chalamet dá vida e sentido a Elio. Esse jovem ator derrama tamanha verdade em sua interpretação, que toma o filme para sua perspectiva. É sob o seu olhar que vemos que a personificação do “estrangeiro” Oliver (Armie Hammer, cuja beleza fala por si) só foge de uma possível idealização romantizada por atribuir uma quase inocência à erotização desse encontro.

O diretor respeita o tempo dessa aproximação. O antagonismo inicial vai dando lugar a uma empatia mútua e sensivelmente libidinosa. Até a explosão do desejo. Sempre sob o belo olhar de Elio. A fotografia enquadra os instantes. A trilha, sensacional, o dimensiona. O roteiro – de James Ivory (Vestígios do Dia) – centra nos sentimentos e no amadurecimento, não na carnalidade feticista e no fim trágico como vemos muitos filmes por aí.

Me Chame Pelo Seu Nome é uma elegia as relações demasiadamente humanas. A fala final do pai de Elio e o olhar do garoto na última cena, são tão potentes que dificilmente você sairá do cinema sem se emocionar, seja em qual nível de emoção for. Esse olhar é tão importante pois vira exatamente o nosso olhar. Por isso carregamos o filme inteiro dentro da gente.

Cotação: Épico

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