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George Clooney faz de “Tudo pelo Poder” sua metáfora sobre o elo entre o cinismo e a política

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A relação entre o poder e a política sempre foi um dos maiores fomentos para o cinema registrar o panorama de como um indivíduo se relaciona com a moral. George Clooney, que tem surpreendido muito em sua lapidação dramatúrgica como diretor, agrega a seu mais novo filme – Tudo pelo Poder – um ingrediente tão interessante quanto complexo: a ingenuidade.

O filme é baseado na peça “Farragut North”, de Beau Willmon, mas Clooney mudou o título para The Ides of March, expressão que se refere ao assassinato de Julio Cesar, vítima de uma conspiração política liderada por Brutus. Num campo tão ideológico quanto o da política, a inocência e o cinismo caminham lado a lado e é por esse prisma que a história acompanha o personagem Stephen (Ryan Gosling, mais uma vez ótimo), um promissor e talentoso coordenador de campanha. Íntegro, ele é articulador na campanha para que o governador Mike Morris (George Clooney) vença as primárias e, ainda que conheça bem os meandros de seu trabalho como lobista, possui extrema ciência de seu papel para a sociedade americana e fé nos ideais de seu candidato. Mas é claro que nesse jogo nada é o que parece e o confronto com seus paradigmas emerge de forma abrupta e marcante. É o estopim da trama.

 

 

Escandalosamente preterido nas indicações de Melhor Filme no Oscar 2012, principalmente quando produções medíocres como Cavalo de Guerra estão no páreo, Tudo pelo Poder é um thriller sobre o cinismo desse universo, radiografado pelo mesmo cinismo que o observa. Essa dualidade de questões e legitimidade de discurso (afinal, a política americana, para isso, é bizarramente inspiradora!) forjam ao filme uma contundência impressionante. E Clooney não é chegado a maneirismos banais, o que incide uma simplicidade dos termos para além de nossas reflexões, ou seja, chega a discussões por caminhos diretos, mas não necessariamente arbitrários.

O elenco é todo muito competente (a dobradinha de Paul Giamatti e Philip Seymour Hoffman é destruidora e Marisa Tomei aproveita muito bem seu espaço) e a escalada de transformação da qual Stephen passa é orgânica e muito bem pontuada. E, mesmo que o roteiro ensaie um fiapo de “concessão dramatúrgica” em algum momento, o resultado final é objetivo e coerente com a assimilação que vamos digerindo no decorrer da intricada história.

Tudo pelo Poder é brilhante por pautar sua ótica sobre a ingenuidade, sem parecer tolo ou panfletário. E ainda insere parâmetros bem mais profundos nessa batida relação entre política e poder, como disse acima…

[xrr rating=4.5/5]

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