AcervoFilmes

"Getúlio" – um thriller eficiente sobre o DNA político brasileiro

Compartilhe
Compartilhe

Assisti Getúlio, primeira ficção do até então documentarista João Jardim, no tradicional cinema Roxy, bem no coração de Copacabana, bairro símbolo (assim como a Tijuca, também no Rio de Janeiro) dos remanescentes getulistas que corroboravam o governo do ex-presidente da República. A grande maioria dos espectadores na sala era de idosos. Assistir ali foi bem sintomático para entender o alcance que Getúlio Vargas ainda estabelece, mesmo nos dias de hoje. O recorte para tal foi debruçar sobre os dezenove últimos dias do ex-presidente, do atentado da Rua Toneleiro até o suicídio. Getúlio foi um político de ideais populistas e progressistas e sua personalidade era uma ressonância de sua sede pelo poder e uma aproximação (legítima?) pela classe trabalhadora. Esses dezenove dias fatais são na verdade um reflexo de tudo o que político foi até ali (sintetizado logo no início do filme). Por isso, a fotografia claustrofóbica de Walter Carvalho, dentro da premissa de intriga palaciana, muito bem compreendida por Jardim em sua acepção de um thriller político.
Getulio_cena_TonyRamos
Tony Ramos dispensa maiores adjetivos em sua composição do protagonista. E entre muitas representação de políticos importantes da época como o grande antagonista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), Drica Moraes se destaca pela presença dramática como Alzira, filha e braço direito de Vargas. O roteiro é objetivo na narrativa e, apesar de esvaziar a presença de peças importantes da história (a mulher do ex-presidente é quase uma figurante), consegue radiografar o período de maior pressão no imponente Palácio do Catete. O fim, que todos já conhecem bem, é conduzido com boa dose de angústia pela direção astuta do diretor. Deu para perceber a respiração tensa dos velhinhos que viam o longa ao meu lado. Ali, entendi o recado deixado por Vargas antes de morrer. Ele deixava sim a vida para entrar para História. E foi tão gaiato nesse sentido que, mesmo muitas vezes, representando a personalidade mais cretina da nossa política brasileira, ainda comove os que não fazem juízo de valor de um passado recente. Um filme a se prestar atenção.

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasFilmesLançamentos

Crônica de uma relação passageira: amor nos tempos modernos

Ah, l’amour! O amor foi assunto de milhares, talvez milhões de filmes....

AgendaFilmes

Estação Net faz a 2ª edição de sua mostra com filmes natalinos

O Grupo Estação Net está fazendo, de 19 a 22 de dezembro,...

FilmesNotíciasPremiações

The New York Times inclui ‘Ainda Estou Aqui’ nas apostas para Melhor Filme

O jornal The New York Times recentemente destacou o filme brasileiro “Ainda...

FilmesTrailersVideos

Superman – Reboot nos cinemas ganha aguardado trailer!

Superman, o icônico super-herói da DC Comics, está de volta ao cinema...

CríticasFilmes

Mufasa mostra o que poderia ter sido o “live-action” de O Rei Leão

“Mufasa: O Rei Leão” é já previsível manobra da Disney de continuar...

FilmesNotíciasPremiações

Oscar 2025: “Ainda Estou Aqui” aparece na pré-lista de Melhor Filme Internacional

O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, foi anunciado...

CríticasFilmes

Kraven é a despedida melancólica do Sonyverso

Ninguém acreditava que “Kraven, O Caçador” seria qualquer coisa distinta do que...