Pobre Han Solo. Escolheram justo o personagem mais querido de boa parte dos fãs de Star Wars para protagonizar o primeiro filme “menor” da franquia. Não que essa característica seja um demérito de “Han Solo: Uma História Star Wars”. Curiosamente é até interessante a proposta de uma produção minimalista dentro do universo criado por George Lucas (se é que se pode chamar qualquer coisa que leva a marca de “menor”). O caso é que estamos mal acostumados. São quarenta e um anos recebendo espetáculos grandiosos, mesmo quando a narrativa deixa a desejar – a exemplo dos episódio I e II. Aí fica difícil aceitar apenas uma sessão da tarde.
E é exatamente essa a configuração de Solo: A Star Wars Story (no original). A de uma matinê despretensiosa, como o filme de 1977 no fundo era. Assim como vários filmes dos anos 80 que hoje são objetos de culto. Sob esse revestimento se apresenta a história de um Han antes de se tornar o contrabandista aliado dos rebeldes, o início de sua amizade com Chewbacca e como conheceu Lando Calrissian, dono da nave que viria a ser sua, a Millenium Falcon.
Os elementos de que se constitui um Star Wars estão ali. O escapismo, o espetáculo, o heroísmo. Só que em escala diminuída. O que fica claro na direção de Ron Howard é que a liberdade artística nos spin-offs é bem mais limitada do que nos episódios numéricos. Haja visto o derivado anterior, “Rogue One”, que teve boa parte das cenas alteradas, refilmadas e acrescentadas à revelia do diretor Garreth Edwards. Ou seja, se a dupla Chris Miller e Phil Lord (que ocupavam as cadeiras de diretores no início do projeto e chegaram até a tirar foto oficial dentro da Millenium Falcon) tivesse permanecido até a conclusão, o resultado não seria muito distinto.
Havia um certo medo em relação ao trabalho de Alden Ehrenreich. A queixa principal era o fato de não ser parecido com o intérprete original Harrison Ford. No entanto, o plano é criar um novo Han Solo, e não um novo Ford. Sob esse prisma a atuação pode ser considerada satisfatória. E, sim, estão ali, de forma sutil, alguns cacoetes em comum. Ademais, sabe-se que tentar emular uma interpretação consagrada é um tiro que pode sair pela culatra. Um bom exemplo é Brandon Routh em “Superman: O Retorno” tentando imitar Christopher Reeve.
Já os coadjuvantes que acompanham a jornada do (anti) herói são quase todos meio supérfluos. Qi’ra (Emilia Clarke) tem pouca relevância para o desenvolvimento da trama e do protagonista. O personagem de Woody Harrelson, Beckett, embora bem construído, entrega menos do que dava a entender no trailer. O brilho fica mesmo por conta dos velhos conhecidos. Donald Glover se refestela em sua composição de Lando Calrissian. Autor do videoclipe mais falado no momento, ‘This is America’, o alter ego de Childish Gambino consegue remeter a Billy Dee Williams e, ao mesmo tempo, manter uma autenticidade.
A dinâmica entre Han e Chewie vista nos episódios IV, V, VI e VII é reproduzida adequadamente. Caso contrário a trama sequer faria sentido. Ponto para o roteirista Lawrence Kasdan que assinou o script com seu filho Jonathan. Não custa lembrar que Kasdan é responsável pelos melhores momentos da dupla. É dele o roteiro de “O Império Contra-Ataca”. E como não podia deixar de ser, são salpicados citações, referências e easter eggs fornecendo fan service, mas sem ser refém dele. Essa é a (talvez única) vantagem sobre a Story de 2016.
De fato “Han Solo: Uma História Star Wars” carece de impacto e arrebatamento. Mas é melhor irmos nos acostumando. Se o plano da Lucasfilm, sob a égide da Disney, de lançar um produto de Star Wars anualmente até 2032 for mantido, podemos ver outras aventuras não tão memoráveis pela frente. Contudo, se ao menos o quesito diversão for respeitado, como ocorre nesse aqui, não há motivo para rebelião na galáxia.
Filme: Han Solo: Um História Star Wars (Solo: A Star Wars Story)
Direção: Ron Howard
Elenco: Alden Ehrenreich, Emilia Clarke, Donald Glover
Gênero: Aventura/Fantasia/Ficção Científica
País: EUA
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Disney/Buena Vista
Duração: 2h 15 min
Classificação: 12 anos
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