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“Jack Reacher: Sem Retorno” não sai do lugar comum dos filmes de ação

Aos 54 anos, parece que Tom Cruise desistiu de ser levado a sério como ator e resolveu direcionar sua carreira para a realização de filmes que o coloquem como astro-rei das produções de ação incessante. O projeto mais bem sucedido, com certeza, é a franquia inspirada na antiga série de TV “Missão: Impossível”, que consegue a proeza de manter a qualidade e o interesse de público e crítica, mesmo após cinco episódios (e o sexto já está em desenvolvimento).

Só que Cruise, mais esperto do que a maioria das atuais estrelas de Hollywood, quis algo mais e resolveu apostar nas obras do escritor Lee Child, protagonizadas por um ex-militar condecorado que decidiu agir por conta própria investigando diversos casos, que venderam 100 milhões de exemplares em todo o mundo. Assim, surgiu em 2012 “Jack Reacher: O Último Tiro”, a primeira adaptação do personagem estrelada por Cruise e que, se não foi um arrasa-quarteirão como as aventuras estreladas pelo agente Ethan Hunt, pelo menos conseguiu pagar o seu orçamento de US$ 60 milhões com a arrecadação de US$ 80 milhões só nos EUA e um pouco mais de US$ 138 milhões no exterior.

Logo, a ideia de realizar uma sequência estava mais do que aprovada e, quatro anos depois, chega aos cinemas “Jack Reacher: Sem Retorno” (“Jack Reacher: Never Go Back”, 2016), baseado no oitavo livro com o personagem. O problema é que, desta vez, o filme não apresenta grandes surpresas e resulta nada memorável, tornando-se um thriller de ação genérico, não muito diferente aos que são lançados aos montes a cada ano, mesmo com uma parte técnica classe A.

Na trama, Reacher (Tom Cruise), após realizar mais uma missão, decide viajar até à Virginia para finalmente conhecer pessoalmente a major Susan Turner (Cobie Smulders), que comanda a sua antiga unidade, a 110ª da Polícia do Exército. Mas, ao chegar lá, descobre que ela foi presa após uma grave (e suspeita) acusação. Para piorar, ele é notificado de que terá que responder por um crime que teria cometido anos atrás e que pode ser pai de uma adolescente chamada Samantha (Danika Yarosh).

Desconfiado do que aconteceu com a major Turner, ele decide resgatá-la da prisão e tenta, junto com ela, descobrir o que está por trás de sua detenção, que pode ser parte de uma grande conspiração envolvendo militares e pessoas ligadas ao governo. Além disso, Reacher precisa proteger Samantha, que vira alvo de um grupo de assassinos liderados pelo misterioso Caçador (Patrick Heusinger), enquanto tenta provar a sua inocência e a de Turner, antes que sejam presos ou mesmo mortos.

Tecnicamente falando, não há nenhum problema em “Jack Reacher: Sem Retorno”. Tudo aqui funciona como um relógio, seja na fotografia, na edição, nos efeitos sonoros, entre outros elementos. O único porém é que tudo o que é mostrado no filme já foi visto antes e melhor.

A direção de Edward Zwick, que volta a trabalhar com Cruise após “O Último Samurai” (2003), é apenas correta. Mas não há, em nenhum momento, alguma criatividade nas sequências de ação e suspense, como se tudo fosse comandado no piloto automático e sem grandes ousadias. O roteiro, escrito pelo cineasta, junto com Richard Wenk e Marshall Herskovitz, também não apresenta grandes surpresas e as reviravoltas podem ser facilmente antecipadas para quem já conhece bem o gênero, o que soa frustrante.

A única coisa curiosa do filme é mostrar a criação de uma família inusitada e involuntária, formada por Jack, Susan e Samantha durante sua fuga. Numa produção cheia de tiros, brigas, explosões e correrias triviais, chama a atenção a dinâmica apresentada pelo trio, já que o ex-major, habituado a lidar com questões complexas e inimigos ferozes, não sabe como agir como pai, mesmo não tendo certeza de que a jovem é sua filha. Ao mesmo tempo, Samantha se mostra curiosa com Susan e seu estilo durão, criando uma empatia entre as duas. Essas sequências se tornam o único diferencial da trama e ajudam a criar uma maior simpatia pelos personagens. Mas, mesmo assim, é pouco para elevar a história.

Mais uma vez, Tom Cruise é o principal chamariz do elenco, não só por ser o nome mais famoso, mas também pela suas conhecidas qualidades físicas nas cenas de ação, além de seu carisma inabalável. No entanto, sua co-estrela Cobie Smulders (a Maria Hill dos filmes da Marvel Studios e o principal nome feminino da série “How I Met Your Mother”) também se destaca ao mostrar Susan como uma mulher firme e durona, mas que não perdeu a feminilidade, e que critica a maneira que é vista pelos homens. A personagem é bem mais interessante do que a interpretada por Rosamund Pike no primeiro filme, que seguia a linha tradicional de “mocinha em perigo”, e Smulders se sai muito bem aqui. A pouco conhecida Danika Yarosh também chama a atenção ao dar uma personalidade impulsiva para Samantha e mostra entrosamento com seus parceiros de cena.

Por outro lado, os vilões são bastante fracos e interpretados por atores pouco carismáticos. Patrick Heusinger, que tem aqui a chance de se tornar mais familiar para o grande público, não traz nenhuma sensação de perigo como o Caçador e se limita a repetir o que já foi visto na série de filmes de Jason Bourne, como o assassino profissional que surge como o grande oponente do herói. Só que ele não tem nem metade do talento de Clive Owen, Karl Urban, Edgar Ramirez ou Vincent Cassel, por exemplo, que viveram os nêmesis do amnésico agente interpretado por Matt Damon. Robert Knepper, que vive um general muito suspeito, embora tarimbado por fazer papéis de antagonista, também não se destaca.

“Jack Reacher: Sem Retorno” acaba se tornando, no fim das contas, um filme inferior ao primeiro da franquia por ter uma história tradicional demais e um tratamento convencional que só vai empolgar aos espectadores pouco exigentes. Pode até ser que sejam produzidas mais adaptações dos livros com o personagem para o cinema. Mas será necessário realizar um trabalho melhor (de preferência, com um diretor com mais personalidade) para que as próximas continuações sejam mais do que meros caça-níqueis facilmente esquecíveis. Se isso acontecer, melhor para Reacher e, por tabela, para Cruise.

Filme: Jack Reacher: Sem Retorno (Jack Reacher: Never Go Back)
Direção: Edward Zwick
Elenco: Tom Cruise, Cobie Smulders, Danika Yarosh, Austin Hébert, Patrick Heusinger, Aldis Hodge, Robert Knepper
Gênero: Ação/Suspense
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Paramount Pictures
Duração: 1h 58min
Classificação: 14 anos

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