Quando Steven Spielberg adaptou para os cinemas o livro de Michael Crichton “O Parque dos Dinossauros”, era um sucesso mais do que esperado. Não era apenas a volta do diretor de E.T. a um projeto ambicioso após o fracasso de “Hook: A Volta do Capitão Gancho”. Seria uma revolução tecnológica no cinema, tendo como grande chamariz a recriação dos gigantes pré-históricos com um realismo nunca visto antes, em uma combinação de animatrônicos de última geração e CGI. Como previsto, a bilheteria estratosférica deu origem a uma franquia que com “Jurassic World: Recomeço” chega a sua sétima parte, ou quarta sob a marca Jurassic World.
Nesse que na verdade se trata de um soft reboot da segunda trilogia – assim como “O Mundo dos Dinossauros” o era em relação à primeira -, cinco anos se passaram desde os eventos caóticos de “Jurassic World: Domínio”, e o mundo mudou. Os dinossauros, que um dia dominaram o planeta em um inesperado retorno, agora enfrentam um declínio brutal. O equilíbrio ecológico moderno revelou-se hostil demais para essas espécies do passado. As poucas que resistiram encontraram refúgio em bolsões de selva densa próximos à linha do Equador — os únicos lugares com clima e vegetação semelhantes ao seu habitat original do período mesozoico.

É nesse contexto que um grupo de especialistas embarca em uma missão desesperada: coletar amostras genéticas de três das criaturas mais titânicas conhecidas nos reinos da terra, do mar e do ar. Essas espécies colossais carregam em seu DNA pistas valiosas para o desenvolvimento de um fármaco revolucionário, com potencial para curar doenças humanas devastadoras.
Mas essa não é uma expedição comum. Em um ecossistema que funciona sob as regras impiedosas da natureza selvagem, o menor erro pode significar a morte. A equipe precisa enfrentar terrenos inexplorados, tempestades tropicais, predadores famintos e o próprio relógio biológico dessas criaturas, que podem desaparecer para sempre.
Sim, parece mesmo que você já leu isso em outras sinopses da franquia. Ao criar um de seus maiores filmes da carreira, Spielberg entregou uma verdadeira armadilha ao estúdio: como recriar aquela magia de forma satisfatória diversas vezes? O longa de 1993 dosava com maestria aventura, fantasia ficção científica e terror, mas com uma fórmula que talvez só funcionasse uma vez. Na segunda tentativa, quatro anos depois, mesmo com Spielberg à frente já não funcionara tão bem. Imagine em mãos, digamos, menos hábeis.

O diretor Gareth Edwards nunca escondeu ter Spielberg como principal inspiração e é mais do que compreensível que o estúdio o escolhesse para a empreitada de seguir com a série adiante com alguma dignidade, mesmo sem ter muito para onde ir, além de reciclar o que já funcionou tão bem. Suas credenciais são seu (excelente) primeiro longa “Monstros”, o satisfatório início do “Monstroverso” da Warner com “Godzilla”, e “Rogue One – Uma História Star Wars”, em que recriou adequadamente o clima da trilogia clássica de George Lucas, proporcionando o melhor produto da galáxia muito distante sob a gestão da Disney. De fato ele buscou mais uma vez a inspiração em seu mestre, mas sem o brilhantismo de seu dèbut, que era muito mais imbuído do “Jurassic Park” original e “Tubarão” do que este aqui. Uma direção pouco inspirada, fotografia banal, condução de atores preguiçosa, e dinossauros, as verdadeiras estrelas do espetáculo, até mostradas com criatividade e um CGI impecável, mas com pouco impacto.
O roteiro de David Koepp, responsável pelo script do filme de 1993, não busca nenhuma inovação. Apoia-se em referências nostálgicas, tanto da série quanto da obra de seu criador, para maravilhar os fãs, acobertando as fragilidades narrativas. A falta de carisma dos personagens dificulta engajamento e a preocupação por seu destino. Alguns chegam a até mesmo irritar, como o insuportável namorado da jovem Teresa, de um núcleo familiar que não faria a menor falta se não tivesse sido incluído. De certa forma ele aproveita o mote dos dinossauros mutantes que seria usado em Jurassic Park 4, o projeto abandonado por conta da bilheteria decepcionante da parte 3. Todavia, executa a ideia de forma tímida, diferente do que se anuncia no prólogo.

Scarlett Johansson encabeça o elenco como a mercenária Zora, contratada pelo farmacêutico ambicioso Krebs, interpretado por Rupert Friend. Ambos apenas correto. Jonathan Bailey faz o papel do Dr. Loomis, o único personagem que possui algum fascínio por dinossauros. Sobra para Mahershala Ali assumir o melhor personagem da trama. A trilha sonora de Alexandre Desplat é apenas funcional, sempre buscando fôlego nas inserções do marcante tema de John Williams.
“Jurassic World: Recomeço” prometeu explorar mais o lado terror da série, o que o tornaria mais interessante. Só que não cumpre. Apenas salpica esse elemento aqui e ali, de forma que não prejudique uma classificação indicativa mais baixa, até porque a filhote de dino Dolores tem grande potencial de merchandising para crianças. Apesar de proporcionar bons momentos (como a perseguição do T. Rex na correnteza, originalmente escrita para o primeiro filme) acaba por evidenciar o que já se sabe: que a franquia está desgastada, e deveria ser extinta antes que macule até mesmo a imagem da pérola do entretenimento de 32 anos atrás.