Quando Freud disse que “era quase impossível conciliar as exigências do instinto sexual com as da civilização”, ele imbuía uma conotação psicológica a um aspecto social do indivíduo. O polêmico cineasta Lars Von Trier vem ao longo dos últimos filmes promovendo sua “Trilogia da Depressão”, começando com um estudo sobre os abismos internos em “Anticristo” (2009), depois mirou suas fixações para os delírios íntimos em “Melancolia” (2011) e agora recoloca em tese esses mesmos aspectos Freudianos, confrontando a luxúria e o reconhecimento psíquico em “Ninfomaníaca Volume 1″.
Lars não é um diretor de sutilezas e sempre se vale dos extremos para extrair o que reflete de suas perturbações artísticas. Nesse novo filme, que mesmo contendo cenas explícitas de sexo, foi editado para amenizar o corte final do diretor, a narrativa procura racionalizar a trajetória de Joe (Charlotte Gainsbourg), que representa bem a própria arrogância conhecida do diretor, que somatiza carne e emoção na relação definitiva e matizadora do sexo em sua vida. Joe narra sua história para um desconhecido (Stellan Skarsgård), em que vai se revelando desde a infância, e sua relação de devoção com pai.
Lars tinha tudo para fetichizar a questão. O sexo em sua essência, ainda mais no cinema, é sedutor o bastante para virar um veículo de puro fetiche (o cinema francês que o diga). Mas o diretor prefere banalizar a questão a ponto de o sexo virar elemento que justifica sua personagem. Estranhamente pela via da psicologia. Existe o impacto de certas cenas, principalmente as do ator hollywoodiano Shia Lebouf penetrando explicitamente a atriz Stacy Martin (ou seria uma dublê?), mas a manipulação de Lars é mais efetiva no investimento das perturbações de Joe. Mais do que o instinto agindo sobre a razão, a primeira parte de “Ninfomaníaca” desconstrói o instinto para exacerbar o sexo como identidade emocional. Freud talvez aprovasse o filme, com algumas ressalvas acadêmicas. Então, que venha a segunda parte para a sessão psicanalítica de Lars Von Trier separar de vez o sexo da civilidade…
Comente!