Aung San Suu Kyi é filha do general Aung San, que foi o herói da independência de Mianmar (ex-Birmânia) assassinado quando ela era uma criança, em 1947. Depois de viver anos na Europa, onde construiu família, ela retornou ao seu país, dominado por um tirânico governo militar, e se tornou um símbolo na luta pela democracia.
Os comícios, os discursos e, principalmente, a sua filosofia de não-violência incomodaram o presidente de Mianmar, que acabou colocando-a em prisão domiciliar por 15 anos, entre 1989 e o final de 2010. A sua luta causou comoção na comunidade internacional, que lhe concedeu o Prêmio Nobel da Paz em 1991. Ela não pôde estar presente à cerimônia, mas foi representada pelo seu marido, o professor universitário Michael Aris e seus dois filhos. Essa incrível história real é contada no filme “Além da Liberdade” (“The Lady”).
A primeira coisa que chama atenção no filme é o nome de Luc Besson na direção. O cineasta, famoso por suas produções com elaborado estilo visual, como “O Quinto Elemento”, “O Profissional” ou “Nikita – Criada Para Matar”, está mais contido e faz seu trabalho de forma correta, o que não é ruim.
O problema é que, para um personagem como esse e uma trama real e impressionante como essa, faltou mais emoção, algo que prenda mais o público para a denúncia que está sendo mostrada na tela. As cenas de crueldade, em que o povo de Mianmar sofre nas mãos do governo ditador estão lá, o espectador acaba assistindo a tudo, porém não consegue ficar totalmente tocado para o drama em questão.
O filme também peca ao não mostrar como foi a ida da protagonista para a Europa. Outro erro do filme está na sua grandiloquente trilha sonora, criada por Eric Serra (habitual colaborador do diretor), além de seu mau uso em algumas sequências. Numa cena, por exemplo, uma conversa telefônica normal entre Aung San Suu Kyi e seu marido ganha uma música de suspense, como se fosse um filme de espionagem.
Mas o filme, ainda assim, tem os seus méritos. A trama trabalha bem a relação entre o casal protagonista, interpretado por Michelle Yeoh (de “O Tigre e o Dragão”) e David Thewlis (da série “Harry Potter”), que tentam manter-se juntos apesar da distância criada pelo estúpido governo de Mianmar, obcecado em acabar com a ameaça representada por Aung San Suu Kyi.
As cenas da entrega do Prêmio Nobel e da descoberta que Michael está gravemente doente são bem realizadas e não caem na pieguice. Outro destaque é a fotografia de Thierry Arbogast, mais um que está sempre trabalhando com Besson.
“Além da Liberdade” poderia ganhar bem mais destaque (até mesmo em festivais como o de Cannes ou mesmo o Oscar) se tivesse sido realizado com mais paixão e calor humano. Pelas mãos de Luc Besson, no entanto, se tornou apenas uma boa produção que não se diferencia de outras cinebiografias já feitas nos últimos anos. Mas quem sabe um dia, Aung San Suu Kyi (que finalmente recebeu o Prêmio Nobel este ano, em Oslo) ganha um filme que faça jus à sua eterna luta por dias melhores para o povo de Mianmar.
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