O bom começo do Cinema Ritrovato 2019

Cheguei na noite de sábado (dia 22), primeiro dia do Cinema Ritrovato 2019, festival de cinema na cidade italiana de Bolonha, focado em contemplar tesouros desconhecidos e também revisitar filmes favoritos. Então a minha programação só se iniciou de fato no domingo.

Streaming cinéfilo revolucionário

Às 11 horas da manhã, já havia fila para ouvir uma conversa que aconteceria meio-dia com o diretor Dinamarquês Nicolas Winding Reifn. A conversa não foi direcionada para os filmes do diretor, mas sim para um projeto que ele vem idealizando há um tempo: o bynwr.

A versão curta da história é que este é um site de streaming que disponibiliza filmes, gravações de shows e outros formatos culturais de forma completamente gratuita. A versão mais longa, explicada por ele, é que, numa bela madrugada, acometido por um sentimento de extremo tédio, suas buscas pela internet lhe levaram a descobrir que um ex-grande estúdio de Seattle estava vendendo todo seu acervo de cópias de filmes. Num gesto de impulso, Nicolas comprou os filmes. Depois de conseguir resolver onde ficariam guardados em boas condições, o próximo passo foi “o que fazer com isso?”.

Influenciado pela maneira fresca com que seus filhos adolescentes vêem o mundo, percebeu que a revolução será feita através internet e através da gratuidade na troca de informação e de cultura, segundo ele a maior forma de punk rock que existe atualmente. Quis, então, fazer parte deste movimento. E foi assim que nasceu a ideia de bynwr, um “hub cultural”, nas suas palavras, que está ainda em fase de crescimento e amadurecimento.

Deleite para amantes da sétima arte

Depois desta conversa, e de comer dois sanduíches que havia preparado antes de sair de casa, fui até o belo cinema Jolly assistir um dos filmes da programação dedicados ao gênero Noir. Este filme de 1950 se chamava “The Man who Cheated Himself”, de Felix E. Feist. Lee J. Cobb, Jane Wyatt e John Dall interpretavam os personagens desta trama cheia de reviravoltas e de pequenos momentos de tensão, bem à la Hitchcock, que te mantêm suspenso na expectativa do que vai acontecer logo depois. Um destes filmes que dominam a linguagem do gênero noir de maneira a brincar com determinados elementos. Um deleite.

Na sessão seguinte tive o prazer de assistir no cinema, com acompanhamento musical ao vivo, um filme de 1926 do diretor John Ford: “3 bad men”. Dave Kehr, crítico de cinema e curador do Departamento de cinema do Museu de Arte Moderna, apresentou a sessão dizendo que é neste filme que sente que Ford tornou-se Ford. O filme, extremamente à frente de seu tempo apresenta personagens complexos, ressignifica o papel e a representação da mulher, apresenta uma visão um tanto quanto crítica em relação à corrida cega pelo ouro, desfaz dogmas moralistas… tudo isso através de uma fotografia ousada e uma montagem precisa, como poucos faziam na época, e ainda com direito a cenas de dar gargalhadas e outras, tão bonitas e tocantes, que faziam chorar.

À noite, o programa obrigatório era ir à Piazza Maggiore, onde são projetados longas depois que o dia escurece, para assistir “Easy Rider”, de 1969, dirigido por Dennis Hopper. Sempre belo poder rever um filme numa tela de grandes proporções…

Pra quem nunca viu, é um filme sobre dois motoqueiros “hippies” viajantes. Nas suas andanças conhecem outras personagens, muitas das quais reprimem sua maneira de existir, seus cabelos, etc. Em um dos diálogos mais interessantes do filme, que é muito mais repleto de imagens do que de falas, a personagem de Jack Nicholson, um recém conhecido a quem eles decidem dar carona, alerta os protagonistas sobre o fato de que aqueles que não os aceitam o fazem por sentirem-se ameaçados pela liberdade que representam e por apresentarem alternativas às escolhas que a maioria das pessoas tomam como as únicas possíveis.

E este foi o primeiro dia de Festival aqui em Bolonha.

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