A pretensão e o ego andam lado a lado. Por vezes quase se confundem. Mas é na nocividade que se diferem. O jovem diretor Matheus Souza foi muito badalado em seu filme anterior, o interessante “Apenas o Fim”. Havia ali um promissor exercício narrativo, mesmo que muito influenciado pelo chamado cinema indie, no conceito, e a verborragia woodyalleana na forma. Bem aceito na crítica e no meio cinematográfico, logo conseguiu viabilizar esse segundo longa que tem um nome longo, mas que funciona bem, “Eu Não Faço a Menor Ideia do que Tô Fazendo Com a Minha Vida”. Como todo pretenso gênio do cinema que mal chegou aos 20, Matheus faz de seu filme um estandarte de sua imaturidade. O que é até compreensível.
Clara (Clarice Falcão sendo… Clarice Falcão) não faz a menor ideia do que está fazendo com a sua vida. Escolheu fazer faculdade de Medicina pelo simples fato de que toda a sua família é formada por médicos respeitados. Não era o que queria, mas também não sabe se existe algum universo profissional que a valha. Começa então a matar aulas sem contar para os pais ou para o namorado. Inicia uma vida paralela durante as manhãs, na qual acaba conhecendo Guilherme (Rodrigo Pandolfo) que a auxilia nessa busca sobre o que ser da sua jovem vida.
O longa expõe todas as suas referências pop, raciocínio com jogo de palavras e avidez estética do diretor. As vezes funciona, mas trata-se de um filme salpicado de algumas boas ideias que não configuram nenhuma unidade dramática, ou até mesmo dramatúrgica, o que revela que é construído para representar muito mais do que para ser. É bonitinho, é engraçadinho, é até rasamente assimilável, mas acaba sempre transparecendo que em meio a tanta pretensão (e ser pretensioso em cinema não é necessariamente um problema!), Matheus deixa o seu ego teen entre o que filma e o que quer parecer ser. Não é a toa que o trailer é sensacional. Está ali toda a forma da coisa. Uma pena que o resultado seja tão coisificado.
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