O Último Duelo se passa na França medieval do século XV, mas com o apuro técnico de Ridley Scott e roteiro dos amigos Matt Damon e Ben Affleck, com Nicole Holofcener, a trama ressoa mais atual do que se espera do livro homônimo original, best-seller de Eric Jager.
Baseado em fatos reais, o filme conta a história da amizade rompida entre o cavaleiro Jean de Carrouges (Damon) e Jacques Le Gris (Adam Driver). Na verdade, a razão e as consequências disso: Le Gris estuprou Marguerite (Jodie Comer, fundamental), esposa de Jean.
Apesar de estarmos num período de inexistência de direitos básicos das mulheres, ela mantém firme a acusação, mesmo sob risco de ser sacrificada em praça pública. O roteiro se desenvolve a partir de três pontos de vista do abuso, de cada um dos envolvidos nesse trágico triângulo.
Sim, não é nada de novo desde de Rashomon, de Akira Kurosawa (1950), mas Damon, Affleck (que faz um conde bon vivant e parece estar se divertindo) e Nicole se valem da estrutura para incutir alguma complexidade no contexto histórico que falam pela história em si. E isso passa da violência sexual até o fanatismo religioso.
Aos 83 anos, Scott se mostra mais maduro diante dos desafios históricos que tanto gosta de registrar. Nada da solenidade “de cartilha” visto no superestimado Gladiador e de volta ao frescor de seu primeiro filme, de 1977, Os Duelistas.
O Último Duelo traz o desconforto das questões levantadas não serem tão medievais assim. E, apesar de no geral, o elenco brilhar, Jodie traz para a produção a medida dramática precisa e emocionante para deixar o resultado mais humano. O conjunto de fatores para isso fica claro, sobretudo nas cenas em que o desespero de Marguerite se resume na força de seus olhos.
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