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“Rio Doce” discute as masculinidades possíveis

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “masculinidade” pode ser definida como: 1- qualidade de masculino, de varão; 2- caráter másculo; 3- virilidade. Masculinidade, no mundo em que vivemos, é muito mais do que cabe no dicionário. É o jeito de os homens se colocarem no mundo, e pode ser tóxica ou saudável, dependendo da visão e da (des)construção de cada um. Rio Doce, primeiro longa de Fellipe Fernandes, é sobre masculinidade como traço herdado, e sobre querer fazer escolhas que espelhem na vida um tipo diferente de masculinidade do que o genitor, um homem ausente, legou ao nosso protagonista.

Thiago (Okado do Canal) vive sempre “nos corre”. Trabalhando muito, mas sem condições de arcar com suas contas e sustentar a filha pequena, um dia é surpreendido no trabalho por uma mulher que lhe conta que seu pai faleceu, e que Thiago tem três irmãs que não conhecia. Depois de um almoço na casa das irmãs, ele volta à sua vida na periferia de Rio Doce, em Olinda, onde tenta a todo momento ser diferente do pai, que teve uma vida dupla e prejudicou a todos ao seu redor. A aprovação definitiva de suas atitudes, bem como a validação de suas dúvidas, vem quando ele encontra a meio-irmã Laura (Nash Laila) numa balada e os dois têm uma conversa franca.

“Rio Doce” discute as masculinidades possíveis

Nem sempre a escalação de um ator não-profissional – ou de uma pessoa que não tem a atuação como ocupação principal – acaba gerando bons resultados para um filme. Trazer gente do mundo da música para frente das câmeras é negócio arriscado – veja aí o exemplo mais extremo, do péssimo filme brasileiro “Cinderela Baiana”, “estrelado” por Carla Perez – mas aqui em Rio Doce é um risco que valeu a pena. O rapper Okado do Canal, que iniciou sua carreira na dança, ajudou a moldar o roteiro, emprestando parte de suas vivências e de seus interesses para o personagem.

Nós já sabíamos – e não, não foi necessário que “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” nos contasse – que, ao se fazer uma escolha, universos de possibilidades se fecham para nós. Isso também acontece no cinema: ao fazer uma escolha narrativa, escolher seguir por um caminho e não outro na trama de um filme, outras oportunidades são perdidas. Ao escolher focar na vida de Thiago na periferia, o filme impede outro caminho que seria bastante interessante: o contraste entre Thiago e sua nova “família”, em especial a relação com a meio-irmã Catarina, que estava se desenhando como algo conflituosa.

“Rio Doce” discute as masculinidades possíveis

É possível estabelecer um diálogo entre Rio Doce e o filme Sol” (2021), da cineasta Lô Politi. Neste, um homem que é um pai ausente tem de cuidar de seu pai, que também não esteve presente em sua vida. O protagonista de “Sol” aprende a ser pai ao mesmo tempo em que tem de cuidar de um idoso e aprender a ser filho. O diálogo possível é com Thiago aprendendo a ser um pai diferente do seu para a filha pequena, algo que se desenvolve nos minutos finais de Rio Doce.

Rio Doce marca a estreia bem-sucedida de Fellipe Fernandes na direção de longas-metragens. O filme colecionou prêmios em festivais ao redor do Brasil, e Fellipe, que também escreveu o roteiro, declarou sobre como sua experiência prévia como assistente de direção – papel que assumiu em filmes como “Bacurau” – ajudou na nova empreitada:

“Ainda que esse trabalho exija habilidades e saberes específicos, diferentes do de diretor, a possibilidade de poder acompanhar de perto o processo criativo desses realizadores me ajudou a entender as possibilidades de caminhos a serem percorridos. Então tudo que eu faço carrega um pouco deles e de todas as outras pessoas que cruzaram meu caminho ao longo desses anos e com as quais eu pude trocar e aprender.”

“Rio Doce” discute as masculinidades possíveis

Okado do Canal já revelou que gostaria que Rio Doce se transformasse numa série, para vermos mais sobre as histórias os demais personagens ao redor de Thiago. Fellipe Fernandes escolheu jogar uma breve luz sobre as complexidades dos personagens, deixando a luz de holofote apenas para Thiago. Foi uma escolha ousada, que pode ser questionada, mas que parece ter valido a pena.

Rio Doce

Rio Doce
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Nota: Bom 6 de 10 estrelas
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