Que 007 é uma espécie de mitologia no cinema todos sabemos. Nos últimos anos, uma espécie de humanização modernizada vem oxigenando a franquia, simbolizada pela viril figura de Daniel Craig. Ao partir do homem para alegorizar o mito, seus últimos filmes se revelaram um entretenimento de aprofundamento, tendo em Skyfall seu exemplo mais bem sucedido.
Em Spectre a sombra do que foi trabalhado nos três filmes anteriores acabou por esvaziar sua própria continuidade. A história, escrita a oito mãos, é construída em cima de generalidades: Bond recebe pistas de M (Judi Dench) após a sua morte, que levam a uma organização chamada Spectre. Enquanto isso, o programa 00 é colocado em cheque pelo novo Secretário de Segurança (Andrew Scott, ótimo), que conspira para eliminá-lo enquanto implementa um sistema de vigilância internacional.
Assim, Bond terá que agir clandestinamente, com ajuda de uma peça chave chamada Madeleine Swann (a atriz francesa Léa Seydoux, uma Bond Girl maior que o próprio filme).
Com isso, o novo filme acaba por inverter a lógica que vinha mantendo até aqui: com pouca história para desenvolver, o mito 007 se banaliza dentro do homem que o configura. Não que o filme seja ruim.
O diretor Sam Mendes não faz filme ruim e o longa mantém as boas sacadas do gênero. As cenas iniciais no México e curta participação de Monica Bellucci apontam para isso. Mas diante da dimensão que vinha ganhando a cada novo filme dessa sua fase atual, Spectre não tem muito a dizer além do que já sabemos. E só agora entendemos o porquê do cansaço de Craig com seu personagem.

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