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“O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino” é um yakissoba insosso e melancólico

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“O Tigre e o Dragão” era uma bela fábula de artes marciais engendrada pelo diretor taiwanês Ang Lee, na época já famoso no ocidente por filmes como “O Banquete de Casamento”, “Razão e Sensibilidade” e “Cavalgada Com O Diabo”, mas ele dizia que sempre quis fazer um filme de artes marciais, gênero popular em sua terra natal, sobretudo nos anos 70, quando era adolescente.

O resultado foi um filme que conseguia a façanha de unir perfeitamente o mais puro cinema de arte com o entretenimento que na época, início da década passada, o cinema de Hollywood estava devendo. O filme teve cinco minutos de aplausos em pé no festival de Cannes de 2000 e foi agraciado com Oscar de Melhor Filme Estrangeiro na cerimônia de 2001 (chegou a concorrer a Melhor Filme). A possibilidade de uma continuação era aventada, já que, além de Wo Hu Cang Long (título original), havia outro conto do autor Du Lu Wang que se passava no universo dos guerreiros wudan, podendo gerar uma continuação.

Depois de anos de especulação saiu agora para Netflix “Crouching Tiger Hidden Dragon: Sword of Destiny”, ou “O Tigre e o Dragão: A Espada do Destino”. Na verdade, é o primeiro de um projeto de lançamento simultâneo de filmes na Netflix e no cinema, mas aqui no Brsail o filme só está disponível mesmo no serviço de streaming. Compensou a demora de mais de 15 anos? A resposta é não. Por mais que se pudesse explorar mais o universo apresentado no filme de Lee, aquele era um exemplo clássico de trama que se fecha em si mesma. Mas esse é apenas um dos problemas da continuação.

Na história, ainda em luto pela morte de Li Mu Bai, Yu Shu Lien (Michelle Yeoh) retorna para salvaguardar a sua espada, a mítica Destino Verde. Hades Dai (Jason Scott Lee), um ambicioso (e caricato) senhor da guerra, envia seus tenentes para roubar a espada, com planos para dominar o mundo marcial. Uma jovem misteriosa espadachim (Natasha Liu Bordizzo) e o herói com um passado, Lobo Silencioso (Donnie Yen), vem em auxílio de Shu Lien, em conjunto com uma banda díspar de guerreiros que ainda acreditam no caminho de ferro da honra.

O grande defeito do novo filme é que ele de uma só tacada pulveriza todas as qualidades do filme anterior, por mais que tente ser remissivo e até mesmo emulá-lo. A dinâmica dos personagens Wei Feng e Snow Vase tenta repetir a de Jen e Dark Cloud, mas sem sucesso. O recurso de um longo flashback no meio da trama também é usado, mas o resultado é enfadonho.

A direção ficou a cargo de Yuen Wo Ping, responsável pela incríveis coreografias de lutas do original. Essa função ficou por conta de Donnie Yen, que não foi creditado, mas não consegue repetir o balé hipnotizante que encantou plateias criado por Ping. As cenas de luta são bastante intensas e abundantes, muitas vezes até gratuitas. A direção de Ping passa longe do magistral trabalho que fora mostrado por Lee, e ainda aposta insistentemente em tons ocres e quentes na fotografia, alternando com o azulado frio nas noturnas externas, mais uma vez, em remissão ao filme de 2000.

Na trilha sonora, o japonês Shigeru Umbebayashi (de “A Casa das Adagas Voadoras” e “2046 – Os Segredos do amor”) faz um trabalho genérico, que nem as ocasionais inserções do belíssimo tema original de Tan Dun salvam. Os diálogos e frases poéticas em mandarim proferidas no filme anterior, dão lugar aqui a um “mambo-jambo” cheio de clichês, e o pior, falado em inglês. A trama se passa na China do século XIX, mas é falada em inglês, e não é dublagem, e sim o idioma original. Única do elenco original presente, Michelle Yeoh parece estar ali apenas para pagar as contas. O restante se alterna entre o randômico e o caricato.

Por fim, esse novo “Tigre e o Dragão” não empolga e não tem muito propósito de existir. A quem gosta de ação e artes marciais talvez até agrade mais do que o original, visto que a fórmula neste é pouco papo e muita luta. Já para quem se deleitou com o filme de Ang Lee, a continuação não passa de um yakissoba insosso, uma melancólica amostra de que certos filmes não devem ter seu universo expandido.

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