Tim Maia era uma força bruta da Natureza. E é essa potencialidade Humana que torna sua cinebiografia homônima melhor. Sim, porque o filme dirigido por Mauro Lima sofre de um problema de contextualização: ao optar por um ponto de vista de seu melhor amigo (vivido e narrado por Cauã Reymond), o recorte acaba por resvalar por um artificialismo do terço para o final, já que se agrega uma importância exagerada ao personagem, frente à vida do genial cantor. Baseado na biografia Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia, publicada por Nelson Motta em 2007, o diretor, junto com a roteirista Antônia Pelegrino, se debruçou sobre passagens menos famosas da vida do cantor. Aliás um dos pontos altos do longa está no investimento na vida pessoal de Tim, explorando seus complexos e contradições. Assim como os bastidores do universo musical da qual fez parte, como a relação com Roberto Carlos, Carlos Imperial e (com o porém de ser pouco explorado) suas descobertas nos Estados Unidos.
As performances complementares de Robson Nunes e Babu Santana são o grande achado do filme. Robson demonstra maturidade na composição da gênese da personalidade que iria demarcar a vida de Tim, e Babu solidifica as oscilações do “Rei do Soul”. Alinne Moraes conjuga para si todas as mulheres da vida dele, e o faz com notável eficiência. A reconstituição de época é correta (com cenas em Nova York e Londres) e ajuda muito na transposição que o filme proporciona, principalmente para os que viveram no período retratado. O roteiro ao mesmo tempo que alinhava dramaticamente os fatos pontuais da vida do cantor, peca muitas vezes pelo tom episódico das situações (como na era Universo em Desencanto de Tim e, mais explicitamente, quando ele distribui ácidos para funcionários de sua gravadora). Mas o grande problema mesmo está na opção por delegar a narração da história a um amigo. Para além do distanciamento, esse artifício vai perdendo o sentido na medida que a trama avança. É como se a locomotiva agressiva de Tim Maia amedrontasse até os realizadores de sua biografia. Ou seja, a imperfeição de Tim Maia acaba sendo um aspecto provindo do próprio Tim Maia.
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