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Tudo Pelo Poder ou pelo Oscar?

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Mike Morris (George Clooney) quer ser presidente dos EUA e, para isso, ele deve passar pelas primárias do partido democrata, angariando ao mesmo tempo os delegados do partido e o eleitorado, já que o sistema eletivo dos norte-americanos é um pouco diferente do que nós conhecemos aqui no Brasil.

Pense que os 50 estados americanos têm, cada um, uma quantidade de delegados representantes, meio que deputados de menor força, mas que representam uma parcela da população. As eleições são vencidas pela maioria destes delegados e não pela maioria da população votante, significando que, como foi o caso de Al Gore x George W. Bush em 2000, Gore venceu em quantidade de votos, mas perdeu em quantidade de delegados.

É neste contexto de eleições primárias nos partidos que vemos Mike Morris (George Clooney), pré-candidato do partido democrata que, faltando apenas poucos estados para as eleições prévias, precisa angariar votos da população e já ir preparando terreno com os delegados do partido democrata para ganhar a eleição para presidente.

Em seu grupo de apoio temos Stephen (Ryan Gosling) e Paul (Phillip Seymour Hoffman), dois assessores de imprensa, o primeiro com pouca experiência, mas muito inovativo, e o segundo com mais de 30 anos de eleições e conhecimento dos bastidores do poder. Na contra mão, Tom Duffy (Paul Giamatti) é o assessor de imprensa do outro candidato democrata e tem o papel de frear, de todas as formas possíveis, os avanços de Morris nas pesquisas e alavancar seu candidato como o escolhido pelo partido democrata.

Neste contexto, visualizamos o trabalho dos assessores de imprensa, estagiários e funcionários de cada uma das chapas, agindo aberta e ocultamente para trazer os votos para seu candidato.

O histórico de escândalos políticos americanos é um tema que o cinema adora analisar, seja o caso Watergate que culminou com a renúncia de Richard Nixon, seja o caso Monica Lewinsky que quase fez com que Bill Clinton renunciasse à presidência por causa de um boquete.

No filme, as intrigas políticas e as traições são ponto comum. Stephen pensa que está por cima deste tipo de coisa e consegue fazer com que seu candidato vença estritamente porque ele é quem merece, sem analisar devidamente tudo o que está ocorrendo ao seu redor.

A partir do momento em que a verdade toma forma, as escolhas dele denotam claramente a sua fragilidade e amadorismo perante as forças irrefreáveis dos interesses políticos e das manobras nos bastidores. Em um jogo de poder, não importa o que se faça, basta usar suas armas de forma que a derrota do adversário aconteça, seja por meios lícitos, seja através de mentiras e táticas sujas em que se queima um peão em troca da sobrevivência de um rei no tabuleiro de xadrez.

“Tudo pelo Poder” é grande candidato ao Oscar de Melhor Direção para George Clooney e roteiro adaptado (da peça Farragut North), mas provavelmente não deve levar o de Melhor Filme. Ainda, alguns dos atores podem levar Oscars por coadjuvantes, especialmente Phillip Seymour Hoffman e Paul Giamatti, os dois assessores de imprensa calejados que mostram a grande realidade para o personagem de Ryan Gosling.

Ambos atores trabalham com as sutilezas e sacanagens que envolvem uma campanha eleitoral com maestria, um (Hoffman) de forma mais delicada e séria enquanto o outro (Giamatti) é explosivo e propenso a sinceridade extrema e nem sempre bem vista, trazendo emoções conflitantes porém, mutuamente necessárias, com o fim de mostrar os extremos aos quais chegamos para alcançar uma vitória, ou melhor, a derrocada do inimigo.

Se fosse necessário apostar, Hoffman entra como forte candidato a ator coadjuvante, especialmente se prestarmos atenção no esporro que ele dá em Stephen (Gosling), digno das melhores humilhações que Hollywood já proporcionou ao espectador.

Ryan Gosling ganha o papel principal em mais um filme, sendo bastante elogiado pelo seu trabalho porém, ainda não se vê nele um grande ator, mas há uma clara evolução. Algo interessante de se notar nele é como suas sombrancelhas atuam por ele, expondo perfeitamente suas emoções em cena. Se isso foi proposital, nunca saberemos, mas isto lhe deu com certeza um devido ar de naturalidade que poucos atores tem atualmente.

O filme estreou com o intuito de ser oscarizado e quem sabe premiar pela primeira vez George Clooney como diretor, mas a verdade é que, como foi o caso de “Boa Noite e Boa Sorte”, talvez ele acabe batendo na trave novamente.

[xrr rating=4.5/5]

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