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“Um Completo Desconhecido” adapta com fidelidade a trajetória de Bob Dylan

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Se o filão das cinebiografias musicais é inevitável, nenhum grande nome da música deve ficar de fora da festa. Com o lançamento do filme baseado na vida de Bob Dylan, “Um Completo Desconhecido”, faltam apenas alguns poucos que ainda não foram agraciados com suas versões ficcionais (Michael Jackson ganhará uma cinebio ainda esse ano e a de Madonna está a caminho). O problema é que essas adaptações costumam pecar, seja pela falta de fidelidade, erros cronológicos, ou por condensar toda uma vida em duas em ritmo apressado, alijando o adequado desenvolvimento e até algumas passagens importantes. Os fãs de Dylan, com razão, tinham medo do que poderia vir.

A trama se passa na cena folk de Nova York do início dos anos 60, quando Dylan, o jovem músico de Minnesota de apenas 19 anos, caminha rumo à sua ascensão na música. Ganhando bastante visibilidade no meio, ele vai dos pequenos clubes esfumaçados a casas de concerto e ao topo das paradas. Essa escalada culmina em sua performance Festival Folclórico de Newport em 1965, considerado um dos momentos mais transformadores da música do século XX, quando eletrificou sua sonoridade com guitarras aproximando o folk do rock, uma guinada que gerou divisão na época.

O roteiro assinado pelo diretor James Mangold junto com Jay Cocks (colaborador de Martin Scorsese em “A Época da Inocência”, “Gangues de Nova York” e “Silêncio”) e Elijah Wald opta pelo recorte da fase anos 60, ao invés de percorrer toda a trajetória de Dylan. A escolha foi bastante acertada, pois sobrou tempo para um desenvolvimento satisfatório do protagonista assim como dos coadjuvantes. Mangold já é um veterano em cinebiografias oscarizáveis. Em 2019 esteve com Ford VS Ferrari e em 2005 concorreu com uma outra cinebio musical, Johnny & June, sobre a vida de Johnny Cash (que por sinal está no filme). O cineasta conduz o filme com clara inspiração nos documentários “Não Olhe para Trás” e “No Direction Home”, produzido por Scorsese, que também teve a ideia de usar uma frase de ‘Like a Rolling Stone’ como título.

O elenco é o principal sustentáculo do longa. Timothée Chalamet passou cinco anos se preparando para o papel, tendo consultoria do próprio Dylan, e conseguiu compor o biografado com uma veracidade impressionante. Ele reproduz a voz, os trejeitos (até os mais sutis), sem contar que também executa todas as canções sem dublagem. Sua parceira de cena Monica Barbaro também o faz, em uma encarnação igualmente fiel de Joan Baez, parceira musical e eventualmente amorosa do músico. Edward Norton brilha como Pete Seeger, e Elle Fanning faz um trabalho satisfatório como a namorada de Dylan, Sylvie Russo. A personagem fictícia na verdade é uma espécie de amálgama das namoradas que o astro teve, incluindo a mais conhecida, Suze Rotolo.

“Um Completo Desconhecido” toma suas liberdades como em qualquer cinebio, mas a fidelidade dá o tom e não há erros absurdos como vistos em outras. Mesmo com o biografado acompanhando tudo de perto, o filme não escondeu seu lado ranheta e seus vacilos – que todo humano tem. É difícil julgar qual a melhor adaptação da vida de Dylan para as telonas, se essa, ou o inventivo “Não Estou Lá”, de Todd Haynes, com diferentes atores interpretando o artista desde um menino negro até uma mulher (no caso Cate Blanchett em uma interpretação sensacional, indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante). Mangold repete alguns maneirismos de “Johnny & June”, inclusive constrói um Johnny Cash interessante, vivido por Boyd Holbrook, embora aqui seja coadjuvante. Com a direção firme que o caracteriza, Mangold arquitetou um filme que honra a história do biografado.

Um Completo Desconhecido

Um Completo Desconhecido
8 10 0 1
Nota: 8/10 - Excelente
Nota: 8/10 - Excelente
8/10
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