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“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” impressiona pelo visual em aventura genérica

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Adaptações de quadrinhos para o cinema continuam em voga, apesar de algumas pessoas apostarem que essa “onda” já estaria apresentando sinais de enfraquecimento e, subsequentemente, chegando a seu fim. Mesmo assim, elas continuam sendo produzidas, porque ainda há um grande público ávido por vê-las na telona. Depois da consagração de filmes estrelados por super-heróis, os produtores de Hollywood, atentos a esta tendência, voltaram os olhos para os mangás japoneses, ainda mais que, desde o sucesso da trilogia “Matrix”, viram que era possível “ocidentalizar” histórias vindas da terra do Sol Nascente e, quem sabe, ganhar um bom dinheiro no processo. Tanto que, já faz algum tempo, há planos de transformar o clássico “Akira” num arrasa-quarteirão, que só não foi realizado até agora por causa, principalmente, dos argumentos apresentados que deturparam bastante a trama original, o que gerou uma forte rejeição do público em geral.

Já outro mangá, que já havia sido adaptado como animação (que aqui ganhou o nome de “O Fantasma do Futuro”) e é considerado uma das maiores influências para as irmãs Wachowski para criar a luta de Neo (Keanu Reeves) contra as máquinas, conseguiu passar por um caminho bem menos tortuoso e chega às salas de projeção com toda a pompa e circunstância que tem direito. Assim, “A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” (“Ghost in the Shell”) surge como um filme feito de maneira a não desrespeitar a obra original, ao mesmo tempo em que toma diversas liberdades na história. O resultado final é verdadeiro deleite para os olhos que embala um enredo que não difere em nada de muitas produções americanas. Apesar disso, está longe de ser uma experiência desagradável e será mais apreciado por quem não é íntimo dos quadrinhos nipônicos.

Ambientada numa época indefinida no futuro, a trama mostra que a tecnologia evoluiu tanto que passa a ser comum as pessoas realizarem cirurgias para colocar implantes biônicos em seus corpos e a empresa mais conceituada neste tipo de mercado é a Hanka Robotics. O seu experimento mais audacioso é Major Mira Killian (Scarlett Johansson), uma mulher que teve todo o seu corpo reconstruído ciberneticamente após um grave acidente graças ao trabalho da Dra. Ouelet (Juliette Binoche), que conseguiu, pelo menos, salvar o seu cérebro. Ela passa a fazer parte da Seção 9, liderada por Aramaki (Beat Takeshi Kitano), e tem Batou (Pilou Asbæk) como parceiro regular no combate contra criminosos digitais e cibernéticos. Porém, ao descobrir um plano do terrorista Kuze (Michael Carmen Pitt) para matar diversos integrantes da Hanka após hackear suas mentes, a Major percebe que há algo de errado sobre a sua “salvação” e passa a questionar os fatos que culminaram com sua origem.

O ponto forte de “A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” é mesmo o seu visual. A cenografia e a direção de arte, com arranha-céus que exibem imagens holográficas de anúncios gigantes (que parecem uma evolução do que foi visto no clássico de 1982 “Blade Runner: O Caçador de Andróides”), que contrastam com prédios sujos das regiões mais pobres da cidade onde se passa a história, somados aos detalhes das ruas sempre cheias dando um ar decadente e pouco acolhedor ao local, enchem os olhos até mesmo daqueles que não se impressionam facilmente.

Outro detalhe que chama a atenção é o cuidado do diretor Rupert Sanders em reconstituir cenas da animação de 1995 quadro a quadro. Estas sequências certamente deixarão os fãs do mangá felizes da vida e com os olhos vidrados na tela. A fotografia, assinada por Jess Hall, também merece destaque pelos enquadramentos que transformam em realidade momentos que só foram vistos nos quadrinhos e, principalmente, no desenho animado. Os efeitos especiais também estão muito bem realizados, mas derrapam um pouco na parte final.

No entanto, há algumas falhas que impedem o filme de ser melhor do que acabou sendo. A direção de Sanders (o mesmo de “Branca de Neve e o Caçador”), embora meticulosa, peca em não dar mais emoção ou criatividade às cenas de ação, fazendo o espectador assistir essas sequências sem se empolgar ou mesmo se importar com o que ocorre na telona. Um diretor como James Cameron (ou mesmo as Wachowski) obteria um resultado bem mais interessante com esse material.

Outro problema está no roteiro de Jamie Moss, William Wheeler e Ehren Kruger, inspirado no mangá de Masamure Shirow e no anime de Mamoru Oshii, que além de criar um vilão fraco, apela para clichês já bem manjados e trata as questões filosóficas e existenciais da história original de maneira bem superficial, como se tratasse o espectador como alguém de pouca inteligência. Um verdadeiro caso de “morde e assopra” cinematográfico, o que é uma pena.

À frente de um elenco de várias nacionalidades, Scarlett Johansson mostra de uma vez por todas que pode, sim, protagonizar um longa de ação de forma eficiente e convincente (alô, Marvel Studios!), com seu vigor físico nas cenas de luta e tiroteio. A atriz tem aqui sua interpretação mais robótica de sua carreira (no bom sentido), se preocupando em mostrar que sua personagem perdeu parte de sua humanidade, com uma movimentação corporal mais dura e dando a ela um desconforto em fazer coisas comuns, como num momento em que tem de alimentar cães de rua por simplesmente não saber o que fazer. O ator e diretor Beat Takeshi Kitano também se destaca com a sua presença e tem a melhor cena do filme, que remete aos filmes de faroeste e aos de máfia que já realizou como cineasta.

Pilou Asbæk, que já trabalhou com Johansson em Lucy”, se mostra correto como Batou, assim como Michael Carmen Pitt. Já Juliette Binoche dá integridade à Dra. Ouelet e constrói uma boa relação com a heroína, bem semelhante à que Gary Oldman fez com Joel Kinnaman no “RoboCop” de José Padilha. Pelo menos, aqui é bem melhor aproveitada do que naquela abominação que foi o “Godzilla” de 2014.

“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” está longe de ser um filme ruim. Só não é a maneira definitiva de adaptar uma história oriental para o mundo ocidental. Apesar de cumprir seu objetivo básico de entreter, o filme acaba não sendo memorável por deixar de lado as questões profundas que a obra original levantava para o público, o que mostra que Hollywood ainda tem medo de ousar. No fim das contas, serve como um belo passatempo, esteticamente falando, e dá gancho para uma sequência caso faça uma boa bilheteria. Quem sabe no dia em que conseguirem adaptar “Akira” de forma plausível as coisas funcionem melhor?

Filme: “A Vigilante do Amanhã” (Ghost in The Shell)
Direção: Rupert Sanders
Elenco: Scarlett Johansson, Beat Takeshi Kitano, Juliette Binoche, Michael Pitt, Pilou Asbæk
Gênero: Ficção Científica, Aventura
País: EUA/Japão
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Paramount Pictures/Dreamworks Pictures
Duração: 1h 47min
Classificação: 14 anos

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