Resenha – Enslaved: Odissey to the West

Resenha - Enslaved: Odissey to the West – Ambrosia
Plataforma: PS3, Xbox 360
Gênero: Action-Adventure
Selo: Namco
Desenvolvedora: Ninja Theory
Lançamento: 5 de Outubro de 2010

Enslaved é o segundo jogo da Ninja Theory, responsável por Heavenly Sword e parece efetivamente crescer a partir da sua primeira experiência. Visualmente a desenvolvedora continua a nos impressionar, mas desta vez o lado positivo não ficou apenas na apresentação do jogo.

Enredo

O enredo de Enslaved é baseado em um dos maiores clássicos da literatura mundial (ainda que pouco conhecida no ocidente): Jornada para o Oeste, um texto chinês do século XVI que narra as aventuras de Xuanzang, um monge budista com a difícil missão de retornar ao Oeste para resgatar alguns Sutras (uma forma literária bastante comum nas religiões orientais e que tem sua origem na Índia) que haviam sido perdidos nas terras antigas, onde as primeiras comunidades budistas se formaram (na própria Índia). Xuanzang, no entanto, é ajudado por um pequeno grupo de discípulos que se juntam a ele durante o caminho. O mais proeminente deles (e em grande parte o personagem principal do livro) é Macaco (Sun Wukong), figura tão proeminente no folclore chinês que acabou por inspirar dezenas de personagens (como Son GokuSonson, e o mais recente que eu tenho lembrança é a excelente HQ o Chinês Americano). No texto original também temos mais três personagens: Pig (Zun Bajie), Sandy (Sha Wujing) e a montaria do monge Yulong.

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O mais fantástico é que eles pegaram essa pequena história e a transformaram completamente. O monge agora é Trip, uma garota seqüestrada em uma aldeia e que anseia em voltar para casa. Assim como Xuanzang, Trip precisa da ajuda de Monkey em sua odisséia, um ser absolutamente forte, corajoso, mas também violento e incontrolável. Na Jornada para o Oeste, Xuanzang consegue controlar o Macaco ao lhe dar uma coroa (já que Sun Wukong seria o rei macaco) capaz de conter um pouco sua agressividade e mantê-lo sob o controle do monge.  Da mesma forma, em Enslaved, ao fugir da nave escravistas onde estava presa, Trip coloca uma coroa de controle em Macaco, garantindo assim que ele a obedeça.

Em certo momento do jogo outro personagem clássico é adicionado ao grupo,  Pigsy (Zun Bajie), de longe uma das mais inusitadas e divertidas  figuras a aparecer recentemente nos games. Pigsy é um velho amigo do pai de Trip que vive em um bizarro ferro velho transformando em lar e que guarda certo desejo pela menina.

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Toda a história tem como cenário um futuro onde a tecnologia avançada se mistura com a selvageria da terra primordial. Onde pequenos assentamentos humanos lutam para sobreviver em um ambiente hostil habitado por andróides assassinos e grupos escravistas. Um lugar no qual a natureza tomou de volta o espaço que havia lhe sido roubado pelo homem.

A verdade é que Enslaved é um dos melhores jogos já produzidos no quesito “desenvolvimento de personagens”. Até mesmo as pessoas que não gostaram do gameplay do jogo acabaram se vendo obrigadas a terminá-lo para descobrir o que aconteceria entre Monkey e Trip. O jogo deixa bem claro que não se trata apenas de uma Odisséia física para o oeste, ele é predominantemente uma odisséia emocional.

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Em Enslaved, não existe um grande vilão, não existe uma trama complicada cheia de reviravoltas, o que vemos no jogo é o desenvolvimento de uma relação de afeto e confiança entre os protagonistas, que se mostram personagens críveis e interessantes. Feito raro nesse tipo de mídia, ainda mais quando a coisa não se desdobra para um romance meloso, deixando a tensão e a fragilidade intercalarem em seu domínio das cenas.

Certamente a Ninja Theory acertou (e todas as desenvolvedores acertam ao fazer isso) quando deixou a linha de condução do jogs nas mãos de um roteirista experiente. A contratação de escritores profissionais tem sido para mim a melhor evolução que essa mídia tem obtido nos últimos anos, nos ajudando a evitar as péssimas falas e histórias simplísticas que eram regulares em todos os games.

Apresentação

Resenha - Enslaved: Odissey to the West – AmbrosiaO jogo é situado em uma Nova York que há muito está desabitada e que é lentamente tomada pela natureza. Tudo concebido de forma belíssima: os prédios em ruínas, a folhagem que aos poucos acabou por consumir a antiga metrópole e as tomadas sempre preocupadas em mostrar o melhor ângulo de toda essa beleza. Os gráficos do jogo são em todos os momentos estonteantes e cristalinos.  A beleza das paisagens e a fluidez das animações só podem ser comparadas a Uncharted, algo que diz muito a respeito do peso visual do jogo.

As seqüências de ação são bem executadas e emocionantes, e o bom uso do cenário de fundo torna algumas delas absolutamente memoráveis e impactantes. Dignas de qualquer superprodução cinematográfica.

Ainda sim, o grande destaque de Enslaved foi o bom uso de seus atores tanto na captura de expressões e movimentos, quanto em sua dublagem. Andy Serkins, conhecido por seu papel como Gollum, ganhou um trabalho duplo no jogo: além de interpretar Monkey, foi quem dirigiu os demais atores do jogo. Tarefa na qual foi evidentemente bem sucedido pela maestria clara que Enslaved alcançou neste quesito.

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Se a Ninja Theory já tinha provado alguma coisa, é que ela sabe fazer jogos brilhantes no sentido técnico, e mais uma vez isso foi deixado claro. Exceto por pequenos problemas de framerate, não creio que realmente existam coisas negativas nesta parte do jogo.

Jogabilidade

A jogabilidade de Enslaved não chega a ser um problema, mas também não chama muito a atenção. O jogo é um misto de ação com plataforma executado de forma correta, mas sem muitos destaques.

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No quesito combate, me parece que alguns elementos foram acrescentados para evitar que o jogo se tornasse somente um Button smasher, mas o jogo apresenta uma variedade muito pequena de combos e outros elementos para colocar diversidade nesse quesito. Como Enslaved não é exatamente muito grande, e tem um bom andamento, raramente você vai ficar irritado por ter entrado em combate, mas certamente ele vai te cansar em seus momentos mais longos.

Quanto à estrutura de plataforma, ela tem seus méritos e defeitos. Seu principal mérito é a velocidade, esqueça escaladores como o Príncipe ou  Nathan Drake, Mokey é muito mais ágil e dá saltos com uma leveza e fluidez raramente vista. É muito legal poder transitar em velocidade pelas sessões de plataformas e certamente isso é um dos pontos altos do jogo. Entretanto é extremamente frustrante que os caminhos sejam tão lineares e limitados. Enslaved seria muito mais divertido se Monkey pudesse, como um macaco, improvisar em seus pulos e escaladas, decidir caminhos e tomar riscos. Da forma como o jogo se apresenta, Monkey é obrigado a seguir um caminho de objetos brilhantes pela parede, quase em um modo automático.

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Uma coisa particularmente positiva é a inteligência artificial dos seus companheiros, tanto Trip quanto Pigsy, mesmo sem você controlá-los diretamente agem com coesão e ajudam como for possível. Uma ausência grave é o pouco uso que esta cooperatividade tem em puzzles, algo que tinha um enorme potencial (vejam Lara Croft: Guardian of Light) e é mal explorado no jogo.

Fator Replay

Enslaved não é um jogo muito grande, acredito que a maioria dos jogadores deve levar de 10 à 12 horas para terminá-lo. Uma vez concluída a primeira Odisséia você pode acessar os capítulos individualmente e jogá-los em outras dificuldades. No máximo, isso irá valer a pena até você conseguir coletar todas as TechOrbs e todas as Máscaras, bem como zerar no modo mais difícil.

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Estas opções não representam muita coisa, o que é bastante triste, visto que o jogo é bem legal. No entanto, existe no menu do jogo uma sessão dedicada a DLCs, e o primeiro deles, onde você joga com Pigsy já foi anunciado. Espero que muitos destes sejam lançados, pois eles estendem muito a vida de um jogo, fazendo sua compra valer mais a pena. Torço que saiam logo os DLCs.

Conclusão

Enslaved é uma épica jornada emocional que representa de forma clara a capacidade dos games como mídia de narrativa. Poucas relações são mais bem desenvolvidas do que o lento amadurecimento de Monkey e Trip, e isso sozinho, já é capaz de valer o jogo. Apesar de algumas falhas, Enslaved é uma experiência que merece ser jogada.

Apresentação: 4.5/5
Enredo: 4/5
Jogabilidade: 3.5/5
Fator Replay: 3/5
[xrr rating=3.8/5]
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Comentários 2
  1. Pela resenha será realmente tudo que eu esperava. Um dos meus jogos favoritos para PS3 é o Heavenly Sword, não somente por ser Anna Torv a personagem principal, mas por parecer filme interativo como poucos jogos conseguem. De qualquer sua resenha confirma que Enslaved é uma evolução de Heavenly Sword, mantendo os pontos positivos e aprimorando aqui e ali.

    O demo é muito bom, falta agora conseguir o game completo!

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