Continuando a discutir a importância do livro e as revoluções pelas quais passou, Robert Darnton retornou à Tenda dos Autores na FLIP 2010 na manhã de sexta, dessa vez falando do que muito interessa: o que será do livro com os leitores digitais? Juntamente com o CEO da Penguin Books, John Makinson, a conversa mediada por Cristiane Costa procurou estabelecer um futuro para o livro e a forma de ler.
Cristiane começou o debate mostrando um vídeo do grupo humorístico Monthy Phyton, mostrando dois monges experimentando uma nova tecnologia: o livro. Com esse vídeo, caracterizaram o objeto como uma “killer technology”. O motivo? O livro substituiu formas mais primitivas de armazenamento da escrita, como o papiro. Darnton confirmou essa substituição, mas não colocou o livro ao lado desses antigos formatos. “Como sabemos, o rádio não matou o jornal, e a televisão não matou o rádio. O cinema continua forte, mesmo com a internet”, afirmou o diretor da Biblioteca de Harvard. Ou seja: não será um leitor digital que vai fazer o livro sumir do mapa
Mas Darnton afirma que é óbvio que o futuro está nas mídias digitais. Porém, considera que há espaço para livros e leitores digitais existirem ao mesmo tempo. Ele apontou as constantes mudanças tecnológicas como um dos motivos para manter o livro na ativa. “O que me acorda à noite e me dá pesadelos é que acabem os livros digitais”, afirmou Danrton. Há textos que nasceram nesse meio, e há um gasto para migrar esses escritos para outros formatos. Segundo ele, depois de algum tempo “o software se torna obsoleto, o hardware se torna obsoleto”, e no meio disso os textos podem se perder.
Falando do lado editorial, John Makinson avalia como uma nova oportunidade o investimento em mídias digitais, mas concorda que ainda é um desafio para as editoras se adaptarem a essa área. Questionado sobre a apreensão de migrar para o formato digital devido à baixa das vendas da indústria fonográfica com o advindo do MP3, Makinson disse considerar haver grandes diferenças entre a comercialização da música e de um livro. “O consumidor de música muitas vezes não quer um livro todo, apenas uma faixa. Agora o de livros vai comprá-los inteiros, pois não se interessam por apenas um capítulo”, explicou.
Makinson considera que as editoras estão vivendo um período de ouro, pois o formato digital permite que se tenha acesso às reações do consumidor ao que se publica. “Temos a oportunidade de fazer um trabalho mais experimental”. Falando ainda da indústria editorial, ele diz não se sentir apreensivo em expandir o mercado da Penguin Books para o exterior por conta dessa “revolução” do livro. Para ele, as parcerias que a editora fez com casas da Índia e com a Companhia das Letras aqui no Brasil é uma prova do crescimento do mercado editorial, mesmo com os leitores digitais.
Voltando ao hábito de ler, Robert Darnton e John Makinson se mostraram apreensivos não com o futuro dos livros, mas com o do jornal. Segundo eles, hoje as pessoas não tem mais o hábito de ler um jornal de ponta a ponta. “Meus alunos leem notícias na internet. Não os vejo lendo jornais”, desabafou Darnton. O historiador apontou que a leitura na internet é feita através de buscas, baseadas em informações que o leitor já tem. Ele dificilmente terá contato com um assunto diferente daquilo que procura.
Já Makinson apontou que os jovens estão lendo muito rápido. Ele afirmou que não há nada contra ler na internet ou em algum dispositivo móvel. Entretanto, se a leitura não for feita de forma lenta, proveitosa, haverá uma grande perda na qualidade da leitura.
Entre os assuntos discutidos acerca do futuro do livro e da leitura, Makinson e Darnton ainda falaram sobre a intensão do Google em digitalizar obras de grandes bibliotecas. Darnton afirmou admirar a empresa e a ideia de disponibilizar essas digitalizações. Porém, é contra a forma que o Google pretende fazer isso: cobrando para ter acesso à obras que estão disponíveis gratuitamente em bibliotecas. E claro, da intenção da empresa em ser a única a poder distribuir esse conteúdo. Makinson declarou não ser contra os direitos autorais pelos quais o Google quer ser detentor. O problema, disse ele, está em concentrar todos os clássicos da literatura nas mãos de um monopólio econômico. Como Darnton havia falado na mesa anterior, não é ceerto privatizar a cultura e o conhecimento.
Ouvindo as duas mesas sobre O Livro, percebemos que há sim maneiras de combinar a leitura de livros físicos, da forma tradicional, com as tecnologias digitais que permitem armazenar um grande número de obras em apenas um lugar. Mas é certo também não se empolgar com essa “revolução tecnológica”, pois como disse Umberto Eco em Não Contem com o Fim dos Livros, sendo confirmado por Danrton, as tecnologias atuais duram no máximo 10 anos, enquanto o livro sobrevive até hoje.
É um assunto interessante e parece que ainda vai render boas discussões, mas será que merecia esse destaque na feira?
Eu acho que merece, sim. Discutir literatura não é só a qualidade das narrativas, analisar obras e escritores. É também falar da própria maneira de ler, que influencia tanto na compreensão de uma história como a forma que ela é escrita. Ainda mais quando é uma tecnologia que aponta novos rumos para o meio editorial, que pode acarretar em grandes mudanças no mercado, que querendo ou não, vai acabar afetando a literatura.